62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
MESTRE VITALINO SOB O OLHAR DE PIERRE VERGER
Aaron Sena Cerqueira Reis 1
Eduardo Lopes Teles 1
Antônio Fernando de Araújo Sá 1
1. Departamento de História/UFS
INTRODUÇÃO:
O sertão fora encarado como um dos mitos da nação brasileira. Sobretudo a partir dos primeiros anos da República, esta categoria passa a ser mais discutida, institucionalizando-se no meio acadêmico, principalmente a partir da década de 1930. Nos anos 1990 um novo impulso foi dado a estes estudos, inaugurando também novas formas de discuti-lo. Assim, a proposta deste trabalho é lançar um olhar sobre parte da produção fotográfica do franco-brasileiro Pierre Verger relativo ao sertão nordestino. Fruto do projeto PIBIC "O Sertão de Pierre Verger", financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica de Sergipe (FAPITEC-SE), pretendemos analisar alguns aspectos das diversas culturas que compõem o Brasil a partir deste novo modelo de compreensão da História.
METODOLOGIA:
Neste trabalho, perscrutamos as imagens relativas à arte cerâmica de Mestre Vitalino, exposta originalmente na Feira de Caruaru. Para tanto, selecionamos as fotografias produzidas na década de 1940 em que Verger, com o seu olhar "ávido por conhecimento", expressou curiosidades de um país desconhecido e, até mesmo, considerado exótico pela revista "O Cruzeiro", a qual atuava como fotorrepórter. A análise destas fontes levou em consideração o modelo proposto por Gonzáles e Arillo na obra "O conteúdo da imagem" (2003), onde eles sugerem um modelo de identificação, descrição, análise e interpretação das fotografias. O método proposto por estes pesquisadores contribuiu para suprir a inexistência de um sistema de classificação normalizado das imagens, tornando possível sua transcodificação em forma textual, evidenciando ainda o contexto histórico em que foram produzidas.
RESULTADOS:
Como resultado do projeto, obtivemos a identificação de 292 imagens relativas ao sertão e a catalogação de 39 relativas ao artesão popular Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino. Desta maneira, ficou evidente o amadurecimento do fotógrafo que, inicialmente, percebia o sertão de maneira estereotipada, mas aos poucos conseguiu capturar nas lentes de sua Rolleiflex um Brasil diferente e, ao mesmo tempo, rico em sua cultura. Destacamos também que a obra de Vitalino se insere no contexto da Feira de Caruaru, pois era neste local onde o artesão apresentava seu trabalho, sendo reconhecido por isto. Neste sentido, o trabalho do etno-fotógrafo contribuiu para imortalizar a obra rústica do artista popular que recebeu o título de Mestre pela sua capacidade inventiva.
CONCLUSÃO:
Os trabalhos desenvolvidos no projeto "O sertão de Pierre Verger" contribuíram para indicar algumas das diversas possibilidades de se compreender o sertão a partir de fotografias ainda não exploradas em sua totalidade. Como a proposta da pesquisa foi estudar a História do sertão a partir das imagens produzidas pelo etno-fotógrafo, as leituras referentes à sua trajetória de vida se tornaram imprescindíveis para a compreensão do homem e seu legado. Isto porque, como lembra Boris Kossoy, deveríamos entender a fotografia como um produto subjetivo, que passa pelo filtro cultural do profissional, ao contrário do que pregava a corrente positivista da História, onde as fontes deveriam "falar" por si. A partir destas leituras, foi possível também inserir a produção de Pierre Verger no conceito e prática do fotojornalismo, implantado no Brasil, principalmente a partir da década de 1940, momento da chegada do fotógrafo ao país.
Instituição de Fomento: FAPITEC-SE e CNPq
Palavras-chave: Sertão, Pierre Verger, Mestre Vitalino.