62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
FEIÇÕES MILITARES-RELIGIOSAS NA CRÔNICA DE IDÁCIO DE AQUAE FLAVIAE
Danilo Medeiros Gazzotti 1
Margarida Maria de Carvalho 1, 2
1. Depto.de História, FHDSS, Universidade Estadual Paulista/ UNESP
2. Profa. Dra. /Orientadora
INTRODUÇÃO:

Idácio, o bispo de Aquae Flaviae na província da Gallaecia entre 427 d.C a 469 d.C., foi um dos personagens de maior influência na península ibérica do século V. Durante seu episcopado foi um represente dos hispano-romanos para com o império romano. Seguidor do Concílio de Nicéia tinha por ideal também extirpar as heresias, principalmente as crenças arianas e priscilianas, não somente de sua diocese mas também de todo território hispânico.

Este personagem também se destacou pela sua escrita. Durante seu episcopado redigiu uma crônica onde narra vários acontecimentos ocorridos entre os anos de 379 d.C. a 469 d.C. Na primeira parte (379 a 427) as informações são mais breves, pois dependem dos testemunhos de outros sujeitos, já a partir de 427, quando assume a diocese de Aquae Flaviae, começa a narrar os acontecimentos de testemunha direta.

Portanto, o objetivo desta pesquisa foi mostrar, nesta crônica, o porquê Idácio perseguiu e extirpou com tanta ênfase estas doutrinas consideradas hereges. Durante a pesquisa também foi feita a análise dos conflitos ocorridos na região estudada, assim como uma análise sobre importância política do papel do bispo na época, o qual chegava a negociar com os generais romanos reforços militares para as regiões que lhe convinha.

METODOLOGIA:

O documento utilizado nesta pesquisa consiste na crônica escrita por Idácio, em sua maior parte, durante seu episcopado em Aquae Flaviae. Nós utilizamos nesta pesquisa uma versão revisada desta obra, feita por Júlio Campos o qual a apresenta em formato Bilíngüe, com o texto original em latim e ao lado sua tradução para o espanhol moderno. Com isso nos foi permitido analisar possíveis discrepâncias entre as versões.

Como o estudo realizado tratou das perseguições às doutrinas hereges na península ibérica do século V d.C. através da crônica de um bispo hispano-romano, além do tratamento documental, foi importante também se realizar uma análise do contexto político, militar e social do período, na península ibérica.

A abordagem da documentação foi realizada utilizando-se o método proposto nos capítulos 1 e 2 da obra do Prof. Dr. Pedro Paulo A. Funari: Antiguidade Clássica: a História e a Cultura a partir dos documentos, onde nos é explicado como deve ser feita uma análise documental, desde a materialidade do texto a uma possível autenticidade das informações. Utilizamos também as apreciações que Keith Jenkins descreve na obra História Repensada, sobre a subjetividade do discurso e do historiador, além de fazermos sempre a relação entre a fonte e a bibliografia dos séculos IV e V.

RESULTADOS:

No decorrer do estudo pudemos constatar que no século IV d.C o exército romano já contava com a participação de estrangeiros em suas fileiras, principalmente após a derrota romana na Batalha de Adrianópolis, onde houve uma grande desestruturação no corpo militar do exército. Para repor estas perdas começou a haver um grande alistamento das populações bárbaras no exército e com isso começou haver um confronto entre as culturas destas populações com a romana, principalmente no aspecto religioso. Tudo nos levou a crer que Idácio acreditava estar lidando com um exército formado por romanos cristãos ortodoxos e bárbaros que seguiam doutrinas cristãs consideradas heréticas, como o arianismo e o priscilianismo. Devido a este confronto de crenças, Idácio achava que o império perdeu sua coesão e por isso tornava-se necessária a conversão destes povos heréticos em ortodoxos. Este objetivo que Idácio tinha, de unificar a crença católica em torno dos ortodoxos se tornava possível graças a influência que sua posição de bispo imprimia na população. No período, segundo J. H. G. W. Liebeschuetz o cargo de bispo transformava o religioso em um político de grande influência, graças principalmente a relação direta que este tinha com a população, privilégio antes apenas desfrutado pelo imperador.

CONCLUSÃO:
Através da intensa relação entre a historiografia do século IV e V d.C e a fonte, foi realizada uma análise do contexto político, militar e social do período, através da qual pudemos concluir que a grande participação de povos estrangeiros nas linhas romanas favoreceu uma permuta de costumes entre estes diferentes povos, e devido a esta troca, Idácio pensava que o Império Romano do Ocidente acabou perdendo uma coesão em sua cultura, a qual na visão de dele o desestabilizava. Devido a esta preocupação, durante todo o seu episcopado, este bispo se dedicou a extirpar todas as crenças diferentes a oficial romana, com o objetivo de ver o Império Romano Ocidental com sua fé unificada e conseqüentemente mais forte. Para tanto ele utilizou-se veementemente de sua posição hierárquica de bispo, a qual na época convertia o epíscopo em um indivíduo de ampla autoridade política.
Palavras-chave: Antiguidade Tardia, Idácio de Chaves, História Militar e Religiosa.