62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
COTIDIANO E TRANSFORMAÇÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O USO DO DIÁRIO DE CAMPO EM AULAS PRÁTICAS DE SAÚDE MENTAL COLETIVA
Jacileide Guimarães 1
Lygia Maria de Figueiredo Melo Vilas Bôas 1
Diego Bonfada 1
Deborah Karollyne Ribeiro Ramos 1
Raimundo Valdoci de Melo Júnior 1
Paola da Costa Silva 1
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:

O presente estudo tem como objetivo relatar a experiência do uso do diário de campo como técnica de aprendizagem em aulas práticas de saúde mental coletiva na disciplina Assistência em Saúde Mental do Curso Técnico de Enfermagem da Escola de Enfermagem de Natal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EEN-UFRN). Partimos do pressuposto de que a observação participante e seus desdobramentos, tais como, a expressão falada e escrita favorece a reflexão e a consolidação de novos conceitos e práticas em saúde nos territórios vivenciados. Considerando os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e a necessidade do fortalecimento de uma rede de atenção em saúde mental advinda da reestruturação vivenciada desde o final da década de 1970 no âmbito da assistência psiquiátrica nacional, mostram-se pertinentes e relevantes, experiências que identifiquem e divulguem ações e intervenções atuais na formação profissional. Para tanto utilizamos o diário de campo como recurso para a identificação pelo aluno, tanto do aspecto objetivo dos fenômenos vivenciados em serviços substitutivos de saúde mental quanto das suas impressões subjetivas em um Centro de Atenção Psicossocial de Natal-RN.

METODOLOGIA:

Utilizou-se a técnica do diário de campo como instrumento de intervenção no processo ensino-aprendizagem de alunos do Curso Técnico de Enfermagem da EEN-UFRN na disciplina de Assistência em Saúde Mental. Seu emprego consistiu na orientação da professora aos alunos com relação à observação e registro de impressões objetivas e subjetivas referentes ao cotidiano de um serviço substitutivo ao modelo tradicional da assistência manicomial em saúde mental no Brasil. A experiência vivenciada caracterizou-se como estudo de natureza exploratória e descritiva de delineamento qualitativo que buscou identificar o conhecimento adquirido e a percepção de cada aluno acerca da atualidade da assistência em saúde mental, especificamente em um Centro de Atenção Psicossocial de Natal-RN. Ao longo do período de aulas práticas, cada aluno construiu o seu diário de campo, onde puderam desenvolver a articulação da teoria com a prática, além de refletirem e compartilharem com a professora as suas avaliações pessoais sobre o campo da assistência em saúde mental, dividindo sugestões, impressões e críticas do seu olhar de profissional em formação.

RESULTADOS:

O uso do diário de campo em aulas práticas de saúde mental visou a valorização da construção e discussão de relações e produção de sentidos que permeiam o processo de ensino-aprendizagem do técnico de enfermagem em formação. Os conceitos que nortearam essa experiência pautaram-se em práticas discursivas de produção de sentidos no cotidiano, amparadas por uma leitura histórica das políticas públicas de saúde mental. A investigação construcionista social é uma das alternativas ao modelo tradicional, na medida em que propõe análise e reflexão que considere o cotidiano como um marco na compreensão sobre os saberes e práticas. O uso de recursos tecnológicos que proporcionam a reflexão consideram a noção de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de construir cotidianos como objetos de aprendizagem individual, coletiva e institucional a partir de experiências locais. Compreende-se, pois, que o processo de ensino-aprendizagem de saúde mental, sua articulação com serviços e atores sociais depende de técnicas educativas que criem espaços para produção de sentidos, de ressignificação de saberes e práticas geradoras de exclusão para produção, dentre outros aspectos, de cuidados, inclusão social, dispositivos de aprendizagem significativa e de intersubjetividades.

CONCLUSÃO:

O técnico de enfermagem, assim como os demais profissionais da equipe profissional, possui a atribuição principal de ser cuidador em saúde mental, isto inclui desde a competência técnica específica até o reconhecimento e a promoção de estratégias de valorização da auto-estima e reinserção social da pessoa com transtorno psiquiátrico. Implica ainda a compreensão ética de participação no processo da mudança do atendimento hospitalocêntrico para um acolhimento comunitário. A noção de cidadania vem demarcar o eixo principal das novas formas de assistência e de ensino porque traz consigo os fatores de inclusão social e a ampliação do poder de contratualidade da pessoa com sofrimento psíquico. A inclusão social diz respeito á reinserção na sociedade da pessoa excluída pelos longos anos de internação em instituições psiquiátricas e a ampliação do seu poder de contratualidade refere-se à criação de estratégias de valorização a partir do fortalecimento de seus níveis de autonomia através das atividades da vida diária. O uso do diário de campo para o registro das observações objetivas e das impressões subjetivas do profissional de saúde em formação possibilita, além da aprendizagem técnica, a habilidade para refletir acerca da assistência devida para com a pessoa em sofrimento psíquico.

Palavras-chave: relato de experiência, saúde mental, aulas práticas.