62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras
O RISO DO TEATRO AO CINEMA
Cecília Pereira Barriga 1, 2
Prof. Dr. André Luís Gomes 1, 3
1. Departamento de Teoria Literária e Literaturas/TEL, Universidade de Brasília/UnB
2. Bolsista PIC/CNPq
3. Prof. Dr. - Orientador
INTRODUÇÃO:
A comédia é um gênero permanente na produção artística brasileira, tanto em sua dramaturgia, quanto em suas produções cinematográficas. O projeto O Riso do Teatro ao Cinema tem como objetivo de trabalho a análise das características da comédia nas seguintes peças teatrais: "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, "Lisbela e o Prisioneiro", de Osman Lins e "A Partilha", de Miguel Falabella e de suas relações com suas respectivas transmutações fílmicas realizadas por Guel Arraes e Daniel Filho. As diversas relações encontradas foram estudadas a partir do entendimento do cinema como uma prática social, principalmente o procedente da dramaturgia.
METODOLOGIA:
O projeto O Riso do Teatro ao Cinema desenvolveu-se no período de um ano, a partir de cinco etapas, tendo início em setembro de 2008 e finalizando-se em agosto de 2009. A primeira, de setembro a novembro de 2008, consistiu no conhecimento das três peças teatrais e de suas respectivas transmutações fílmicas. A segunda, de outubro de 2008 a janeiro de 2009, foi fundamentada a partir da reunião de textos críticos sobre as peças teatrais e os filmes trabalhados neste projeto, além da identificação dos processos utilizados no ato de cada transmutação. O embasamento teórico, a leitura e análise de textos sobre o contexto histórico em que as peças foram escritas e os filmes adaptados, assim como a produção de fichamentos dos textos críticos sobre as peças teatrais e seus respectivos dramaturgos foram desenvolvidos na terceira etapa ocorrida no período de janeiro a agosto de 2009. A análise das peças e das adaptações fílmicas, tendo em vista as adequações temáticas e os processos de transmutação, foi desempenhada no período de abril a agosto de 2009, o qual consistiu a quarta etapa. O projeto foi finalizado com a produção de um relatório, este construído a partir do trabalho desenvolvido nas etapas citadas acima no período de junho a agosto de 2009.
RESULTADOS:
A pesquisa O Riso do Teatro ao Cinema, desenvolvida no projeto Práticas Sociais: Do Teatro ao Cinema, partiu do mesmo caminho percorrido pelas obras dramatúrgicas trabalhadas até o ponto de suas transmutações¹ fílmicas. A análise iniciou-se pela leitura das peças teatrais "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, "Lisbela e o Prisioneiro", de Osman Lins e "A Partilha", de Miguel Falabella. A partir do reconhecimento dos textos teatrais e do momento de sua concepção, as análises se desenvolveram também por meio de críticas sobre a encenação das peças desde as suas estréias até atingir a idéia de tornar tais textos base em projetos cinematográficos pelas mãos de cineastas brasileiros. As adaptações fílmicas, entendidas nesta pesquisa como transmutações fílmicas e recriações artísticas com necessidades diferentes as dos textos dramatúrgicos, obtiveram grande sucesso de bilheteria com o prestígio do público nacional. As peças teatrais pesquisadas foram transmutadas para o ambiente cinematográfico pelos maravilhosos trabalhos dos cineastas Guel Arraes e Daniel Filho. Enquanto Arraes responsabilizou-se com "O Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro", Filho levou à tela cinematográfica "A Partilha". O objetivo desta pesquisa foi discutir a importância do atualíssimo fenômeno artístico da transmutação fílmica trazido pela modernização dos recursos midiáticos/ meios de comunicação e da hipótese de que provavelmente uma determinada obra que possui sua transmutação fílmica seja recebida primeiramente pelo espectador do filme e, após este contato com signos imagéticos, o contato entre o texto teatral e o leitor é estabelecido. Muitas vezes, pelo fato de uma grande parte das melhores companhias teatrais nacionais estarem situadas nos grandes centros econômicos de nosso país como o eixo Rio de Janeiro - São Paulo, os textos dramatúrgicos são encenados para uma pequena parcela do público brasileiro, mas quando estes atingem as telas cinematográficas o público é expandido e assim, o cinema, como uma prática social, intervém na repercussão e reconhecimento de uma determinada obra pelo público nacional. Os resultados obtidos no projeto O Riso do Teatro ao Cinema a partir do contato com as obras dramatúrgicas e cinematográficas pesquisadas, além do reconhecimento crítico embasado pela aproximação das teorias de grandes pesquisadores do universo teatral, cômico e cinematográfico como Sábato Magaldi, Henri Bergson, Marvin Carlson, Anna Maria Balogh e Graeme Turner, proporcionaram uma visão mais clarividente ao deparar-se com as transmutações fílmicas de grandes obras dramatúrgicas brasileiras, como o caso de "A Partilha", "O Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro". As transmutações fílmicas das obras citadas obtiveram, como já dito anteriormente, grande prestígio do público nacional, foram verdadeiros sucessos de bilheteria. Assim, reconhecer a importância de tal fato é também reconhecer o valor do apoio do cinema ao transmutar do teatro grandes textos genuinamente brasileiros, incitando assim, a valorização da identidade artística brasileira pelo público, pelos cineastas e patrocinadores de teatro e cinema. ______________ ¹ Roman "Jakobson propõe uma terminologia básica para as diferentes traduções: '(...) A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistema de signos não-verbais. (...) tradução, transposição, adaptação, embora o termo verdadeiramente adequado para designar uma passagem, que se faz com êxito do literário ao sincrético seja transmutação'. in BALOGH, Anna Maria. Conjunções - disjunções - transmutações de literatura ao cinema e à TV. São Paulo: ANNABLUME: ECA-USP,1996, p. 37.
CONCLUSÃO:
Conclui-se com este trabalho a partir das relações mútuas entre o contexto teatral e o cinematográfico que a presença do fenômeno da transmutação fílmica contribui para a valorização de grandes obras e artistas nacionais pelo público brasileiro. Considerando o fato deste ser formado primeiramente por espectadores de cinema, mas possíveis leitores e admiradores das peças e dos dramaturgos que originaram os filmes de grande repercussão nacional, deve-se reconhecer, assim, o papel do cinema como grande actante na divulgação de textos teatrais e de temas sociais, configurando-se como uma verdadeira prática social para os que o fazem e para os que o prestigiam.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Comicidade, Dramaturgia, Transmutação Fílmica.