62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Gestão e Administração - 8. Organizações e Alternativas Organizacionais
A GESTÃO EM ORGANIZAÇÕES DE TERCEIRO SETOR:UM OLHAR PARA AS QUESTÕES DE GÊNERO.
Gabriela Paiva Ribeiro 1
Valdir Machado Valadão Junior 1, 2
1. Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Gestão e negócios
2. Orientador/Dr.
INTRODUÇÃO:
A sociedade contemporânea vivencia um momento de inconstâncias e dúvidas, consequêntes de mudanças pelas quais vem passando. Essas mudanças têm alterado os três setores sociais. O primeiro setor refere-se à esfera pública, enquanto o segundo setor consiste no mercado, sendo voltado exclusivamente para interesses privados, ambos insuficientes para atender às necessidades sociais. Nesse contexto, o terceiro setor ganha maior impacto frente à sociedade, ao ser reconhecido como uma alternativa capaz de sobrepujar os problemas sociais vivenciados. Existe, assim, a necessidade de se compreender a configuração das ações da sociedade civil organizada que se orientam por valores diferentes do mercado e pautadas em objetivos coletivos (SALAMON, 1997 e 1998; RIFKIN, 1997; CARDOSO, 1997). Alguns estudos que tratam da questão de gênero no trabalho apontam que a mulher não possui a mesma condição que o homem no ambiente de trabalho. Essa constatação pode ser explicada quando se trata de empresas, porque nelas, conforme Ramos (1989), prevalece uma noção de razão predominantemente instrumental, baseada na competição, no lucro financeiro e, como nas organizações de terceiro setor a lógica é que a dinâmica seja diferente, então, espera-se que a situação das mulheres nestas organizações também aponte para uma situação de mais equilíbrio entre os gêneros. O objetivo geral do trabalho é analisar como se configuram as relações de gênero no modo de gestão de uma organização do terceiro setor situada na cidade de Uberlândia, denominada Fundação Uberlândia Turismo e Eventos. O estudo se justifica pelo crescimento do terceiro setor e pela sua dinâmica organizacional, diferente, tanto em relação ao primeiro quanto ao segundo setor. Espera-se que, por ele ser guiado, predominantemente, por valores substantivos, as relações de gênero tendam à simetria.
METODOLOGIA:
Essa pesquisa pode ser reconhecida como de natureza aplicada e não experimental, uma vez que tem o objetivo de descrever o fenômeno da gestão em organizações de terceiro setor, particularmente, nas situações que envolvam relações de gênero (KERLINGER, 1980). A abordagem técnica predominante foi a abordagem qualitativa, mais especificamente seu caráter será descritivo qualitativo. A estratégia de pesquisa foi o estudo de caso, conforme Yin (1987), o método mais adequado quando o fenômeno, no caso deste trabalho, a gestão, não pode ser estudado fora do seu ambiente natural. O método de procedimento foi a etnografia, que consiste na inserção do pesquisador no ambiente, investigando o dia-a-dia do grupo analisado, de modo que os dados são coletados em campo, por meio de observação participante e entrevistas (VERGANO, 2005). A organização escolhida para fins de análise foi a Fundação Uberlândia Turismo e Eventos e, durante um prazo de 130 (cento e trinta) horas de observação participante, entre os meses de julho, agosto e setembro de 2008, foram verificadas como se configuram as relações de gênero nessa organização de terceiro setor, por meio de interação com os seus membros, bem como por meio da analise de documentos, como estatutos, jornais locais e revistas. Diante do exposto, a pesquisa realizada no presente trabalho consiste em procedimentos qualitativos, especificamente, de caráter descritivo. Primeiramente, a contextualização temática e a construção do referencial teórico se pautaram em uma revisão de materiais como livros, revistas especializadas, anais de encontros ou congressos, Internet. Depois, realizou-se a pesquisa empírica em uma organização do Terceiro Setor.
RESULTADOS:
As mulheres precisam conciliar a carreira com as atividades realizadas em casa e com a família, sendo necessária uma série de desdobramentos e esforços para o desempenho dessa dupla jornada de trabalho e dessa polivalência de funções (SEGNINI, 1997). Outra dificuldade encontrada é o fato da necessidade de conciliar família e uma atividade profissional bem sucedida, que demanda bastante tempo e dedicação. Betiol (2002) preceitua que é questão de justiça social e de saúde psíquica para a mulher o respeito e reconhecimento de seus esforços de integração no campo de trabalho. Porém, devido a uma grande exigência das relações de trabalho, bem como a necessidade de provar competência e habilidade, algumas mulheres vão além de sua capacidade física e psicológica, engajando-se em longas jornadas de trabalho e, em certas ocasiões, deixando seu lado pessoal em segundo plano. Outro fator relevante que deve ser analisado é que ainda existe dentro do mercado de trabalho a tendência de se considerar o homem mais capaz, superior em relação à mulher, e, como conseqüência, ocorrem situações em que isso é demonstrado nas relações laborais, em que ainda se verificam diferenças salariais e, portanto, a mulher se sente fragilizada ou pouco valorizada. Existem, de fato, diferenças entre os modos de gestão de homens e mulheres, porém essas consideram-se devidamente preparadas e aptas a exercerem a mesma atividade que aqueles, com competência semelhante.
CONCLUSÃO:
É possível verificar que ainda nos dias atuais, apesar das pressões do governo e da própria sociedade, ainda existem fatores que dificultam o desempenho do trabalho feminino, como a pouca valorização, a grande exigência de tempo e esforços e salários inferiores quando comparado aos dos homens. É possível analisar que as mulheres ainda precisam se esforçar para possuírem o devido reconhecimento pelo seu trabalho e que sofrem desgastes físicos e psicológicos para se manterem atualizadas nas suas relações familiares e profissionais. Além disso, é possível fazer uma associação relativamente próxima entre o que a literatura aponta para as relações de gênero nas empresas e as evidências encontradas no estudo de caso, de modo que existem discrepâncias entre o trabalho masculino e o feminino, inclusive dentro do Terceiro Setor, que se destina, teoricamente, em atender fins sociais, pautados em valores de solidariedade e igualdade. Desse modo, é possível perceber que mesmo em organizações de terceiro setor as desigualdades entre gêneros ainda persistem. Isso corrobora as críticas que Tenório (2003) faz em relação ao modo de gestão no terceiro setor, que reside no fato de que as organizações de terceiro setor já estão permeadas em valores típicos do primeiro e segundo setores, como a busca de interesses próprios e o seu enquadramento no espaço do mercado.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG
Palavras-chave: Terceiro Setor, gênero, gestão.