62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal
ANALISE ANATÔMICA DAS BROMELIACEAE DA CAATINGA DO ESTADO DE SERGIPE
Daniel Silva Melo 1
Marli Pereira Botânico 1
Antonio Valeriano Pereira Santos 2
João Vicente Coffani-Nunes 3
Ana Paula do Nascimento Prata 4
1. Depart. de Biologia, Universidade Federal de Sergipe - UFS
2. Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde - UFAL
3. Campus Experimental de Registro - Unesp
4. Profa. Dra. / Orientadora - Departamento de Biologia - UFS
INTRODUÇÃO:
Bromeliaceae é uma família predominantemente neotropical que possui cerca de 58 gêneros e 3.172 espécies. Apresenta espécies epífitas ou terrestres com adaptações particulares que consistem em redução estrutural e funcional das raízes e no desenvolvimento de características foliares, tais como parênquima aqüífero, tecidos de sustentação e principalmente escamas epidérmicas. As escamas que tem a capacidade de absorver água e nutrientes propicia às espécies capacidade de habitarem ambientes considerados inóspitos como a Caatinga. O bioma Caatinga é considerado o único ecossistema exclusivamente brasileiro. Está presente nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Alagoas, Sergipe, Bahia e parte do norte de Minas Gerais. A Caatinga é dividida em ecorregiões que neste trabalho ficou definida como uma unidade delineada por fatores bióticos e abióticos que regulam a estrutura e função das comunidades. Este estudo foi realizado com o objetivo de caracterizar a anatomia das espécies, visando investigar as características que poderão auxiliar na taxonomia da família e levantar o número de táxon das Bromeliaceae ocorrentes na Caatinga de Sergipe.
METODOLOGIA:
Para o conhecimento do número de espécies de Bromeliaceae ocorrentes na Caatinga de Sergipe, assim como também para todo o Estado, foi feito um levantamento nos herbários ASE e HXG, Herbário da Universidade Federal de Sergipe e Herbário do Instituto Xingó respectivamente. Das espécies de Bromeliaceae ocorrentes na Caatinga de Sergipe, apenas as que estavam em estado reprodutivo foram coletadas, para a fácil identificação das mesmas. A identificação das espécies foi feita mediante comparação com o acervo do Herbário ASE e consultas a literatura. Para a verificação do nome das espécies e seus autores foram feitas consultas a base de dados do W3TROPICOS (VAST), do Missouri Botanical Garden. Do material coletado, parte foi herborizada, e o voucher depositado no Herbário ASE, e outra parte retirada porções da região mediana de folhas adultas no campo, executando em seguida a fixação em FAA70 e preservadas em álcool 70%. Seções transversais das folhas foram obtidas a mão livre. Os cortes foram submetidos ao processo de clareamento com solução comercial de hipoclorito de sódio 20% e dupla coloração com safranina e azul de astra.
RESULTADOS:
Há ocorrência de 20 espécies na Caatinga do Estado distribuídas entre sete gêneros (Aechmea, Bromelia, Cryptanthus, Dyckia, Hohembergia, Neoglaziovia e Orthophytum). Todas as espécies analisadas apresentam cutícula delgada e epiderme unisseriada, que é esclerificada em Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb., A. lingulata (Linnaeus) Baker, Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f., Encholirium spectabile Mart. ex Schult. f., Hohenbergia catingae Ule e Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez. Os estômatos estão inseridos abaixo da linha da epiderme em todas as espécies analisadas, exceto em Tillandsia streptocarpa Baker e T. usneoides (L.) L., que estão posicionados na linha da epiderme. O mesofilo da maioria dos espécimes analisados é constituído por parênquima clorofiliano posicionado na superfície abaxial e parênquima aquífero na superfície adaxial. No entanto, há espécies que se diferenciam das demais pela presença de aerênquima, presente em A. aquilega, A. lingulata, B. laciniosa, E. spectabile, H. catingae, N. variegata e T. bulbosa Hook., posicionados entre os feixes vasculares e contínuos às câmaras subestomáticas, exceto por T. bulbosa, no qual estão envoltos por células do parênquima clorofiliano. Idioblastos com ráfides foram observados em A. lingulata, B. laciniosa e T. recurvata.
CONCLUSÃO:
Das 20 espécies ocorrentes na Caatinga de Sergipe, destaca-se que três são endêmicas do Bioma Caatinga (Encholirium spectabile Mart. ex Schult. f., Hohembergia catingae Ule e Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez.. Entre as espécies submetidas à análise anatômica B. laciniosa apresentou caracteres bastante distintos das demais espécies analisadas. A ocorrência de células epidérmicas com lúmen extremamente reduzido, idioblastos contendo ráfides, canal excretor e células braciformes estreladas a distingue das demais. Com isso conclui-se que os caracteres observados nas espécies analisadas são suficientes para a identificação das mesmas através da sua anatomia. É notável a presença de várias características anatômicas nas folhas que apontam uma possível adaptação ao ambiente da Caatinga. Entretanto é necessário ressaltar que muitas dessas características, embora possibilitem a exploração de ambientes extremos, representam adaptações ancestrais selecionadas durante a diversificação do grupo e não devem ser interpretadas apenas como caracteres relacionados a um ambiente em particular.
Palavras-chave: Anatomia, Bromeliaceae, Caatinga.