62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 2. Botânica Aplicada
LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA, TEOR E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL EM DIFERENTES PARTES DE Alpinia zerumbet (Pers.) Burtt & Smith (ZINGIBERACEAE)
Caroline Nery Jezler 1
Larissa Corrêa do Bomfim Costa 1
Delmira da Costa Silva 1
1. DCB, Universidade Estadual de Santa Cruz / UESC
INTRODUÇÃO:

A espécie Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt. & R.M. SM. popularmente conhecida como leopoldina ou colônia (LORENZI & MATOS, 2008), é uma planta aromática encontrada em regiões tropicais e sub-tropicais do mundo (JOLY, 1966). Apresenta hábito herbáceo, caule rizomatoso, folhas longas e afiladas nas pontas e inflorescências semi-pendentes (LORENZI & MATOS, 2008). Com ampla distribuição no Brasil, é muito utilizada na medicina popular como calmante e hipotensora. Pesquisas científicas demonstraram que esta espécie possui atividades antiespasmódica e miorelaxante do intestino (LAHLOU et al., 2003), anti-hipertensiva (MENDONÇA et al., 1991; FONSECA et al., 2002; LAHLOU et al., 2003; MOURA et al., 2005), hepatoprotetora e antiarterosclerótica (LIN et al., 2008; FONSECA et al., 2002). Murakami et al. (2009) através da análise do óleo essencial de folhas de A. zerumbet, identificaram 17 compostos, sendo os principais constituintes do óleo essencial o p-cimeno, o 1,8-cineol, o g-terpineno e o terpinen-4-ol (LUZ et al., 1984; MURAKAMI et al., 2009). Dependendo da família taxonômica em estudo, o óleo essencial pode ser encontrado em diversas estruturas de armazenamento, como em tricomas glandulares, cavidades secretoras, ductos, glândulas e células de óleo (MARTINS et al., 2000; SIMÕES et al., 2000). A identificação e localização dessas estruturas de armazenamento são importantes para um melhor aproveitamento e beneficiamento das plantas desde a colheita até a secagem e o armazenamento. As plantas medicinais podem acumular princípios ativos distribuídos em todas as partes ou concentrada apenas em determinados órgãos (MARTINS et al., 2000; SIMÕES et al., 2000).  De acordo com os dados etnobotânicos de utilização da espécie, popularmente utilizam-se tanto as flores (MOREIRA et al., 2002) quanto as folhas (ALMEIDA, 2004) na preparação dos chás. Desta maneira, o presente trabalho tem como objetivo o estudo da identificação e quantificação das estruturas anatômicas responsáveis pelo armazenamento do óleo essencial de A. zerumbet, bem como seu teor e composição química nos diferentes órgãos da planta.

METODOLOGIA:

O material botânico (raiz, rizoma, folha e flor) de Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt. & R.M. SM foi coletado no Horto de Plantas Medicinais da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) para realização dos estudos anatômicos. A identificação da planta foi realizada no Herbário da UESC, através de comparação com a bibliografia, ficando um espécime depositado com número 14088. Para identificação da estrutura secretora, realizou-se corte à mão-livre com auxílio de lâmina de barbear, cujos cortes histológicos foram submetidos ao teste histoquímico com Sudan IV. A partir disso, foi possível verificar a densidade e a área destas estruturas nas diferentes partes da planta, através de fotografias de lâminas em fotomicroscópio e analise por meio do software Sigma Scan pro 5.0. A extração do óleo essencial foi realizada por hidrodestilação em aparelho de Clevenger e a identificação dos compostos do óleo essencial em CG-EM/FID.

RESULTADOS:

Observou-se que o óleo essencial fica armazenado em estruturas secretoras do tipo células oleíferas, que se distribuem aleatoriamente em todos os órgãos da planta, com formato, geralmente, esférico e conteúdo amarelado. Essas estruturas podem variar de acordo com a família botânica que as apresentam. Desta maneira, como foi verificado em A. zerumbet, outros trabalhos citam a presença destas mesmas estruturas secretoras do tipo células oleíferas em representantes da família Lauraceae (MARANHO et al., 2009; FARAGO, et al., 2005) e Piperaceae (BERGO et al., 2005).

A densidade das células oleíferas na folha foi maior, diferindo estatisticamente dos demais órgãos analisados, e apresentou menor área da célula produtora de óleo. As flores e os rizomas, apesar da baixa densidade das estruturas secretoras, possuem área relativamente maior quando comparados às folhas.

Com relação ao teor de óleo essencial, verificou-se variação conforme o órgão analisado. As folhas apresentaram maior teor (0.30%) quando comparadas à flor (0.10%) e ao rizoma (0.06%), e cujos valores não diferiram estatisticamente entre si. O teor de óleo essencial e a densidade de células oleíferas parecem estar diretamente relacionados, uma vez que o maior teor de óleo essencial foi encontrado nas folhas, órgão onde também foi observada a maior densidade de células oleíferas. Nas flores e rizomas o mesmo padrão se repete. Ao contrário, em trabalho realizado com Mentha arvensis L. verificou-se que a densidade de tricomas glandulares não está relacionada ao rendimento de óleo essencial que foi justificado com possíveis características fisiológicas da planta como perdas por volatilização ou catabolismo, que seriam mais relevantes (DESCHAMPS et al., 2006). A variação no teor de óleo essencial em diferentes partes da planta também foi verificada em Ocimum selloi Benth (MARTINS, 1996), Hyptis marrubioides (BOTREL et al., 2009) e Hyptis suaveolens (SILVA et al., 2003), onde todas elas, ao contrário de A. zerumbet, apresentaram maior conteúdo de óleo essencial nas inflorescências do que no caule e nas folhas.

A análise do óleo essencial de A. zerumbet revelou diferenças químicas na composição do óleo nos diferentes órgãos da planta, como a presença de 23 constituintes na flor, 20 na folha e 18 no rizoma. O constituinte majoritário terpinen-4-ol esteve presente em todos os órgãos da planta em quantidades diferentes, enquanto que a-terpineol também foi um dos principais constituintes na flor e rizoma, substituído pelo 1.8 cineol na folha.  Trabalhos anteriores sobre a composição química dos óleos essenciais de A. zerumbet confirmaram a presença de alguns constituintes como p-cimeno, o g-terpineno, o 1.8 cineol, e o terpinen-4-ol (LUZ et al., 1984; MURAKAMI et al., 2009). O efeito hipotensor é atribuído ao terpinen-4-ol (MENDONÇA et al., 1991; FONSECA et al., 2002; LAHLOU et al., 2003; MOURA et al., 2005) e a atividade antioxidante à presença do 1.8 cineol (ELZAAWELY et al., 2007).

 

CONCLUSÃO:

A estrutura secretora de óleos essenciais em A. zerumbet é do tipo célula oleífera e encontra-se presente nas raízes, rizomas, folhas e flores da planta. Houve diferença no teor de óleo essencial entre os órgãos da planta, sendo o maior teor encontrado nas folhas, o que correspondeu com a maior densidade de células oleíferas. A composição química do óleo essencial também variou nas diferentes partes da planta, mas o terpinen-4-ol foi o constituinte majoritário seguido pelo 1.8 cineol na folha e pelo a-terpineol na flor e rizoma.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Planta medicinal, Alpinia zerumbet, composição.