62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
POR UMA NOVA BOTÂNICA: ESTRATÉGIAS DE ENSINO DE BOTÂNICA EM UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO
Darlan Quinta de Brito 1
1. Universidade de Brasília
INTRODUÇÃO:
 

O ensino médio vivencia o dilema de formar cidadãos e, concomitantemente, preparar os estudantes ao vestibular. Ao priorizar a preparação em vez de formação, o processo de ensino-aprendizagem foca-se na memorização de conceitos em detrimento da compreensão de idéias integradoras que levam ao pensamento crítico da realidade pelos estudantes. O ensino de Botânica não foge a essa regra e tem sido negligenciado nas várias etapas da Educação Básica. Os livros didáticos trazem os conteúdos de botânica nos últimos capítulos contribuindo para uma menor atenção à área e o uso das estratégias pedagógicas privilegiam a transmissão de conhecimento desprovido do contexto de sua construção. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a educação básica deve fornecer ao estudante um conhecimento maior sobre a condição da natureza para que ele se posicione a cerca das discussões da atualidade. Educar cientificamente a população mundial é uma das metas da UNESCO para este milênio. Entende-se educar cientificamente como contextualizar os conhecimentos adquiridos no cotidiano da vida pessoal e social em um exercício de autonomia. Neste contexto, este trabalho tem por objetivo descrever as atividades desenvolvidas nas aulas de biologia no âmbito de um projeto de extensão universitária.

METODOLOGIA:
 

O projeto do Pré-Vestibular Comunitário se concretizou em março de 2007 no Recanto das Emas, cidade satélite do DF. Todos estudantes do preparatório eram de origem popular, possuíam entre 17 e 40 anos e a maioria não trabalhava. Muitos dos quais já haviam concluído o ensino médio há mais de três anos e poucos recordavam os conteúdos. O núcleo de Biologia era formado por três professores e os conteúdos divididos em módulos. Destaca-se aqui a área de Botânica, considerada pelos estudantes de ambos os sexos como distante e desinteressante. Buscando superar a problemática dos cursos pré-vestibulares, desenvolveram-se várias atividades e a elaboração de material didático próprio. Dessa forma, as aulas de Biologia procuravam aulas práticas e diferenciadas para motivar os alunos e instigar o interesse dos estudantes pela Botânica. Nesse sentido, o ensino de botânica teve como foco o trabalho das idéias integradoras da diversidade biológica (sistemática, anatomia, fisiologia, ecologia e genética) acompanhada de temas da atualidade. Tais idéias foram organizadas de forma a se ligarem com o interesse dos estudantes. Partiu-se do pressuposto que a idéia central da biologia, a teoria da evolução (Dobzhansky, 1973), que dá coerência ao todo é que proporciona a aprendizagem significativa.

RESULTADOS:
 

As estratégias utilizadas no ensino médio e especialmente nos preparatórios convencionais (aulas divertidas, conteúdos esquematizados, resumos e músicas) devem ser usados como um complemento aos estudos, visto não haver aprendizagem significativa sem a compreensão integral dos processos. A compreensão da Botânica e o seu uso prático, relacionando o conteúdo estudado com a realidade e o impacto das transformações do conhecimento aplicado na sociedade foram, essencialmente, o "guia" das aulas. O resultado disso foi o envolvimento dos alunos nas aulas de biologia além dos conteúdos previstos para o vestibular. Esse fato pode ser verificado na maturidade dos debates em sala de aula e na diversidade temática explorada, para não citar os mitos clássicos no imaginário popular da comunidade. A partir de uma série de reportagens trazidas pelos próprios alunos sobre as plantas medicinais, biopirataria, transgenia, seqüestro de carbono, melhoramento genético e a posição do Brasil como detentor da maior diversidade vegetal do planeta constatou-se a importância dos cidadãos se envolverem e se posicionarem nessas questões como também a percepção da transversalidade dessas temáticas e da multiplicidade de temas a serem explorados a partir do próprio olhar dos alunos.

CONCLUSÃO:
 

Comumente questiona-se sobre a falta de conhecimento básico dos alunos e as dificuldades de perceber e relacionar os conteúdos de Biologia com outras áreas. Nesse trabalho, constata-se que a melhoria da formação dos jovens e o despertar da curiosidade para uma área, até então, desinteressante está intimamente ligada à melhoria da formação dos professores. De fato, aulas práticas e diferenciadas demandam dos educadores um esforço permanente (pesquisa, tempo, criatividade e motivação), porém os resultados que essas proporcionam aos sujeitos envolvidos são instigantes e levam a re-construir o conhecimento tornando o processo de aprendizagem fascinante. É inquestionável o melhor desempenho dos estudantes na disciplina e a motivação demonstrada culmina na diminuição da evasão dos estudantes, um dos desafios dos cursos preparatórios comunitários. Aproximar o conhecimento científico da realidade dos estudantes e sistematizar o conhecimento deles tornou o conhecimento significativo aos sujeitos instigando-os a buscar mais. Em um momento que se encontram uma variedade de informações dinâmicas disponíveis, cabe ao professor proporcionar aos estudantes um novo olhar a fim de que eles possam enxergar além das estruturas vegetais e das relações eco-fisiológicas em si.

Palavras-chave: Ensino de Botânica, Educação Popular, Pré-vestibular comunitário.