62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
HÁBITO ALIMENTAR DE Hoplosternum littorale (CALLICHTHYIDAE) NA REGIÃO DO RIO DE CONTAS NA FLORESTA NACIONAL CONTENDAS DO SINCORÁ, BAHIA: RESULTADOS PARCIAIS.
Gabriel Costa Cardozo Ferreira 1
Flávia Borges Santos 1
1. Depto. de Ciências Naturais (DCN), Univ. Estadual do Sudoeste da Bahia / UESB.
INTRODUÇÃO:
Hoplosternum littorale, popularmente conhecido como Caboge ou Tamboatá é uma espécie de peixe da família Callichthyidae, ordem Siluriformes, amplamente distribuída na América do Sul e registrada nas bacias do Amazonas, Araguaia, Paraguai, Uruguai, São Francisco, Paraná e litorâneas do leste da América do Sul. Entretanto, suspeita-se que muitas destas ocorrências sejam devidas à introdução. Vivem em riachos, lagoas e pequenos rios, geralmente nas áreas onde a correnteza é moderada. Apresentam comprimento de 12,6 a 18,7 cm. Possuem respiração aérea e não é considerada uma espécie ameaçada ou em perigo de extinção. O presente trabalho objetiva analisar os conteúdos estomacais, determinar a composição da dieta e o hábito alimentar da espécie de caboge, Hoplosternum littorale, que ocorre no Rio de Contas, localizado na região de entorno da Floresta Nacional Contendas do Sincorá (FLONA), Bahia. Estudos sobre alimentação de peixes, incluindo dieta e atividade alimentar, fornecem importantes subsídios para o entendimento do funcionamento do ecossistema e podem auxiliar na aplicação de técnicas de manejo de populações naturais (Hahn et al., 1997) além de ajudar na compreensão do papel ecológico de uma espécie no seu ambiente.
METODOLOGIA:
Para a coleta de Hoplostenum littorale, nos açudes, riachos e rios da FLONA, utilizou-se como método de coleta tarrafas e redes de arrasto. Os exemplares foram fixados em solução de formalina 10% e posteriormente etiquetados e acondicionados em frascos de vidro com álcool a 70%. Para a análise da dieta do H. littorale, 37 indivíduos foram sorteados aleatoriamente, os quais foram dissecados por meio de incisão abdominal ventro-sagital, da abertura anal até a altura da inserção das nadadeiras peitorais. Os tubos digestivos foram então retirados e tiveram seu comprimento (CTD) medido, visando determinar uma possível relação da razão entre esta medida e a do comprimento padrão (CP) (índice CTD/CP) com a dieta de H. littorale. Os itens alimentares foram identificados até o menor nível taxonômico possível e quantificados. Após a identificação destes itens, a dieta foi descrita segundo os métodos de composição percentual (CPE%) e de freqüência de ocorrência (FO%), medindo-se assim com que frequência este item ocorre nos tubos digestivos. A dieta também foi caracterizada a partir do Índice Alimentar (IAi), o qual é igual à razão entre o produto da freqüência de ocorrência e volume (em valores percentuais) de cada item, e a somatória dos produtos para todos os itens constatados.
RESULTADOS:
Foram coletados até o presente 66 indivíduos, dos quais, 37 foram dissecados para análise da dieta. Os 37 indivíduos que tiveram os comprimentos do tubo digestivo (CTD) medidos apresentaram média igual a 153,1 mm e o índice CTD/CP foi de 1,3. Espécies de peixes herbívoras tendem a apresentar geralmente valores maiores que 1,0 para a relação CTD/CP. A análise da dieta revelou os seguintes itens: Gastropoda, Arthropoda, Ostracoda, Larva de Insecta, Microsporângio e Megasporângio de Salvinia oblongifolia, Matéria Orgânica de Origem Animal, Matéria Orgânica de Origem Vegetal e Matéria Orgânica Indeterminada (MOI). Os itens alimentares que apresentaram maior composição percentual foram: Larva de Insecta, Microsporângio de S. oblongifolia e Matéria Orgânica Indeterminada. Já os itens com a maior freqüência de ocorrência foram: Matéria Orgânica Indeterminada e Microsporângio de S. oblingifolia. De acordo com o Índice Alimentar (IAi), os itens mais importantes foram: MOI (82%) e Microsporângio de S. oblongifolia (14,4%). Sendo assim, pode-se inferir que, até o presente, H. littorale apresentou uma dieta rica em matéria orgânica, de origem vegetal ou indeterminada, podendo ser considerada, até o presente, como espécie detritívora com tendência a herbivoria.
CONCLUSÃO:
A população de Hoplosternum littorale que ocorre na Floresta Nacional de Contendas do Sincorá, Bahia, vive em pequenos açudes de águas represadas, riachos afluentes do Rio de Contas e neste rio. Nos açudes encontra-se grande quantidade de macrófitas, das quais a espécie mais presente é a samambaia aquática heterosporada Salvinia oblongifolia. H. littorale apresenta hábito alimentar detritívoro com tendência a herbivoria, mas estes dados serão complementados com a análise de novos espécimes já coletados. Apesar da presença significativa de microsporângio de Salvinia oblongifolia nos conteúdos dos tubos digestivos de H. littorale, ainda não há indícios de que este item é ingerido acidentalmente ou preferencialmente pela espécie. Por isso, experimentos estão sendo realizados em laboratório de modo a verificar se o caboge alimenta-se preferencialmente desta samambaia, quando disponível no aquário, ou se a sua ingestão é ao acaso durante o processo de respiração aérea. Esta espécie exótica de siluriforme, com grande valor comercial, pode ser uma ótima opção de cultivo monitorado em açudes de regiões da Caatinga, uma vez que além de muito resistente não têm hábitos carnívoros, sendo assim inofensiva à ictiofauna nativa.
Instituição de Fomento: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB / Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PPG
Palavras-chave: Hoplosternum littorale, Dieta, Floresta Nacional Contendas do Sincorá.