62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 7. Teorias da Comunicação
VALORES POLÍTICOS DE ADOLESCENTES DE BAIRROS PERIFÉRICOS: O CASO DA OFICINA DE CULTURA POLÍTICA NO PROJETO DE PESQUISA-EXTENSÃO COMUNICAÇÃO PARA A CIDADANIA
Rodrigo Souza Silva 1
Rafael do Nascimento Grohmann 2
Paulo Roberto Figueira Leal 3
1. Graduando da FACOM/UFJF. Bolsista PET/SeSU/MEC. Ex-bolsista PROVOQUE/UFJF
2. Mestrando USP, ex-bolsista PIBIC/UFJF/CNPq
3. Prof. Dr. / Orientador. Depto. de Comunicação e Artes, FACOM/UFJF
INTRODUÇÃO:
Apontar quais seriam os valores políticos dos jovens de escolas públicas participantes da Oficina de Cultura Política, ministrada pelo docente e pelos bolsistas acima indicados nos anos de 2008 e 2009, como parte do projeto de pesquisa/extensão Comunicação para a Cidadania (financiado pela Fapemig). Verificar o quanto dessas visões dos adolescentes decorria das informações recebidas por eles da mídia. Mensurar se os debates realizados na Oficina levaram os jovens a uma mudança de percepção e a uma maior participação em espaços de atuação política até então negligenciados - movimento estudantil, militância nos bairros etc.
METODOLOGIA:
Aplicação de questionários, no primeiro e no último encontros, para verificar quais eram as visões dos jovens sobre política no início e no fim das atividades da Oficina, de modo a mensurar eventuais mudanças de percepção sobre o tema. Realização de discussões, em cada encontro semanal com os adolescentes, sobre temáticas variadas - por exemplo, violência, racismo, espaço público e escola, dentre outros -, a partir de textos, músicas e material audiovisual. Verificação, por meio de técnicas de observação participante, das valorações políticas presentes nas falas dos jovens (de modo a reforçar o diagnóstico apresentado pelas respostas nos questionários). Apontamento de intervenções políticas possíveis ao alcance dos jovens - na escola e na comunidade, por exemplo - e estímulos à sua efetiva implementação.
RESULTADOS:
As hipóteses iniciais se confirmaram: uma vez tendo formado juízo sobre política a partir dos enquadramentos dados pela comunicação de massa - que normalmente a associam apenas à disputa pelo poder e aos eventuais escândalos dela decorrentes -, as visões dos adolescentes eram marcadas, ao iniciarem a oficina, por uma leitura simplista e negativa da política. Eles não percebiam as possibilidades de atuação política fora dos espaços eleitorais, nem conectavam a política às possibilidades de resolução de seus problemas individuais ou coletivos. As marcas do individualismo e da demonização das esferas públicas de atuação (em especial do Estado) - traços relevantes da identidade ideológica liberal, hegemônica nos discursos midiáticos - também apareceram com intensidade nas falas e textos produzidos pelos adolescentes, sobretudo nos momentos iniciais. Contudo, mesmo que longe de um patamar que possa ser considerado ideal, o percurso da oficina oferece evidências de que processos de reflexão e de estímulo à ação no espaço público ali se iniciaram. Além dos indicativos já extraídos das respostas dos jovens nos questionários e de suas participações nos encontros, dados posteriores indicam as potencialidades de ações como esta.
CONCLUSÃO:
O fato de que algumas adolescentes, a partir da oficina, empreenderam esforços para organizar um grêmio (até então inexistente) em sua escola, ou de que outras tenham tomado a iniciativa de procurar a associação de moradores de seu bairro para instalar uma Comissão de Juventude, apontam para a possibilidade de que muitos jovens tenham caminhado em direção à politização. Entende-se aqui politização por capacidade de reflexão, de escolha autônoma, de organização coletiva e de interferência na realidade. Se esta combinação se impuser e for capaz de oferecer contrapesos à posição hegemônica, cria-se uma potencialidade crítica de reação aos discursos que ocultam suas dimensões ideológicas - e todo discurso é ideológico. Deste modo, a percepção de que a vida no espaço público é capaz de impactar cada vida privada é, em grande medida, um avanço que conduz os jovens à atuação política, mais do que à mera replicação de valores naturalizantes do individualismo e da inação.
Instituição de Fomento: Fapemig, PIBIC/CNPq/UFJF. PROVOQUE/UFJF
Palavras-chave: Mídia, Identidade Ideológica, Valores Políticos.