62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Contabilidade - 2. Contabilidade e Finanças
O QUE MOVE O MERCADO ACIONÁRIO BRASILEIRO?
Joana Darc Vieira de Oliveira 1
Cesar Augusto Tiburcio da Silva 1
1. Universidade de Brasília
INTRODUÇÃO:

Um dos principais problemas da contabilidade atual refere-se à questão da mensuração e apreçamento dos ativos. As elevadas baixas contábeis de algumas instituições financeiras em 2008 indicam que a mensuração usando o mercado como parâmetro pode provocar inúmeros efeitos sobre os resultados contábeis. Existe uma dificuldade de explicar o comportamento do mercado a partir das novas informações disponíveis e de novos eventos. Diante do exposto, a pergunta da pesquisa é: o que move os preços das ações no mercado brasileiro? Este artigo verificou e analisou a influência de notícias econômicas no comportamento agregado do mercado. Reproduziu-se, de maneira geral, a pesquisa de Cutler, Poterba e Summers (1989) no mercado brasileiro. Apesar do trabalho original desses autores já ter quase vinte anos, essa pesquisa é considerada relevante no estudo de finanças comportamentais, fazendo parte da seleção de textos realizada por Richard Thaler em Advances in Behavioral Finance. O estudo está dividido em quatro partes. Na primeira, apresenta a introdução, com a justificativa e o objetivo. A fundamentação teórica vem na sequência.  A terceira parte diz respeito à metodologia da pesquisa empírica, cujos dados são analisados e discutidos. A conclusão encerra o trabalho.

METODOLOGIA:

Este artigo explora a análise do comportamento mensal do mercado acionário brasileiro de 1995 a 2008. Como proxy do mercado  foi utilizado o Ibovespa. Foram pesquisadas medidas de atividade macroeconômicas mensais e sua relação com mercado. Todos apresentaram correlações elevadas entre si e optou-se por usar o IPC já que este índice apresentava maior correlação com comportamento da bolsa. Duas taxas de juros (TJLP e Selic) também foram previamente testadas. A Selic apresentou melhores resultados e por este motivo foi usada no modelo. O valor da volatilidade foi obtido a partir da metodologia Riskmetrics. Inicialmente calculou-se rentabilidade diária do mercado através da seguinte expressão: Rd = Ln (Ibovespa d/Ibovespa d-1). A partir desta informação, determinou-se o valor do desvio-padrão. Sendo que os pesos são estabelecidos na própria metodologia Riskmetrics. Foram realizados testes com variáveis defasadas para obter um melhor modelo preditivo. Realizou-se uma análise dos resíduos, visando encontrar os valores mais discrepantes. A partir destes valores, foi feita associação com eventos macroeconômicos que possam ter influenciado o desempenho do IBOVESPA. Após identificação desses meses, buscaram-se na base de dados da Factiva possíveis explicações do comportamento do mercado.

RESULTADOS:

O principal período onde os resíduos foram elevados ocorreu entre meados de 1998 e início de 1999. Neste momento o Brasil viveu grave crise financeira (influenciado parcialmente pela crise na Rússia), o FMI fez empréstimo ao país, o presidente Fernando Henrique Cardoso consegue sua reeleição e troca no comando da política econômica, com a queda de Franco. Foram momentos turbulentos e isto se refletiu na bolsa de valores, fazendo com que o comportamento do mercado fosse influenciado pelo ambiente político e econômico do país. Outro momento de crise, ocorreu em 1995, no momento da consolidação do Plano Real. Existe uma queda na reserva cambial brasileira. Em alguns casos é possível determinar com precisão o evento que influenciou o comportamento do IBOVESPA e afetou os resíduos. É o caso do mês de janeiro de 1999, que apresentou a maior diferença nos resíduos (32,16%). Neste mês ocorreu a troca no Banco Central, sinalizando para o mercado que o regime de câmbio fixo estava encerrado no Brasil. É importante notar que em 30 dos 168 meses, entre agosto de 1998 e janeiro de 2001 que fazem parte da amostra estão concentrados 8 dos 15 maiores resíduos encontrados. Isto mostra que este período foi turbulento, em parte devido a crise econômica e cambial do Brasil.

 

CONCLUSÃO:

Uma grande diferença do trabalho original e esta pesquisa dizem respeito ao conjunto de dados. O trabalho de Cutler, Poterba e Summers (1989) procurara determinar o que move o mercado acionário estadunidense a partir de uma amostra que se iniciou em 1926, terminando sua pesquisa em 1986. Grande volume de dados permitiu que estes autores avaliassem, o peso de grandes acontecimentos como a II Guerra Mundial, a morte de Roosevelt, entre outros assuntos. A amplidão do escopo temporal permitiu uma análise mais rica. A presente pesquisa esbarra num problema técnico referente à instabilidade crônica em que viveu a economia brasileira a partir da década de 70, que fez com que os valores monetários sofressem com mudanças de moeda, congelamentos de preços, entre outros aspectos. Isto inviabiliza, por enquanto, uma pesquisa com horizonte temporal mais longo. De qualquer forma, ainda existem movimentos nos preços do mercado acionário que necessitam de investigação, em que o trabalho não consegue justificar o elevado resíduo. Como proposta para prosseguimento desta pesquisa, sugere-se que o horizonte temporal seja estendido. Contudo, permanece a questão proposta por Cutler, Poterba e Summers (1989): o que move o mercado acionário?

Instituição de Fomento: CNPQ
Palavras-chave: Finanças Comportamentais. , Mercado Acionário. , Ibovespa..