62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
MEMÓRIA PSICOSSOCIAL E RECONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA: OUVINDO AS CRIANÇAS
Lívia Rocha Machado Levi 1
Maria Natália Matias Rodrigues 1
Adélia Augusta Souto de Oliveira 1
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
INTRODUÇÃO:

Nossos estudos focalizam a constituição da subjetividade em contextos comunitários por meio de estudos intergeracionais, priorizando as formas de manutenção da memória psicossocial que sustenta sentidos experienciados por moradores nativos. Assim sendo, buscamos compreender como os sentidos são experienciados na intersubjetividade comunitária, aprofundar o conhecimento da construção do conceito de criança nesse contexto, examinar e descrever o conteúdo das recordações do período de ser criança, descrever a qualidade da relação com a localidade e com sua infância focalizando os aspectos afetivos, identificar e analisar os sentidos experienciados "de ser criança" na intersubjetividade cotidiana, examinar e descrever o conteúdo da reconstrução dos sentidos experienciados por meio da escrita, da fotografia e da ilustração, descrever a qualidade da relação intergeracional entre a significação das lembranças antigas do cotidiano do lugar e dos sentidos experienciados.

METODOLOGIA:

Participantes

Os participantes da pesquisa são crianças nativas, moradoras da localidade, e possuem relação de parentesco com os moradores mais antigos. Todas as crianças são alfabetizadas, dominam a escrita e gostam de desenhar.

Material e Procedimento:

A coleta de dados se efetiva em dois momentos: inicialmente, solicita-se às crianças que falem e ilustrem de modo mais livre possível sobre as temáticas: como é ser criança no povoado; quais são os lugares que compõe os cenários das brincadeiras infantis; o que as crianças fazem. Realizaram-se seis encontros com duração, em média, de duas horas cada. A pesquisa disponibiliza material para a execução das ilustrações ao grupo de crianças. No segundo momento, solicita-se às crianças que fotografem os espaços "de serem crianças no local". A pesquisadora acompanha o grupo de crianças e cada uma delas escolhe dois lugares e os retrata de modo que quiser.  Essa fase durou em média dois encontros de duas horas cada.

A análise dos desenhos e das fotos priorizou uma classificação a partir da identificação do conteúdo de elementos expressos nos desenhos bem como sua cor, data em que foram produzidos e a autoria.

Por fim realiza-se um encontro de devolução com a apresentação das fotos reveladas e análise da produção conjuntamente com o grupo de pesquisadores. Todos os encontros são registrados em diários de campo e elemento importante na análise qualitativa dos dados.

RESULTADOS:

As 44 ilustrações produzidas revelam elementos da natureza e de cunho afetivo. Nos desenhos dos meninos e das meninas as cores que mais aparecem são o azul e o verde, cores associadas geralmente pelo senso comum ao masculino. O vermelho, o rosa e o laranja, cores tipicamente femininas, aparecem em poucos desenhos.

Seis foram os lugares apontados pelas crianças como palco de suas atividades infantis: Sítio, Leprosário, Praia, Estacionamento, Murinho e Escola.

A reprodução fotográfica focalizou lugares de interação infantil e das 10 fotografias produzidas, oito revela a preferência do grupo por uma pequena pracinha localizada à frente da instituição escolar, e duas em seu interior.

As crianças informam verbalmente sobre o direito a brincar. A seguinte frase é repetida por elas: "A criança só pode brincar". No entanto, a observação naturalística permite afirmar que elas participam das atividades domésticas e auxiliam as mães no cuidado aos irmãos menores. Quando vistas como crianças, elas só brincam e vão à escola; quando vistas como pequenos adultos, realizam tarefas domésticas e de auxílio aos pais, e nestas não se percebem como crianças, pois são atividades de adultos.

CONCLUSÃO:

Os lugares de ser criança na comunidade litorânea são os espaços públicos da praia e da escola. Esses espaços são retratados como locais de lazer. Nota-se também uma predominância do masculino nos espaços públicos representado pela praia. Às meninas, cabem apenas a casa e a escola. Nas fotografias, produzidas por meninas, a instituição escolar ganha destaque ratificando a importância desse lugar em suas vidas.

O "ser criança" na comunidade é compreendido como sinônimo de brincadeiras e obediência a regras sociais. Elas afirmam: "Criança só faz brincar". Não existem espaços públicos destinados as crianças. Apenas a praia está disponível, mas como um lugar masculino. Para as meninas estão reservados o ambiente da "porta da casa" e a escola.

Instituição de Fomento: Bolsa de Iniciação Científica CNPq
Palavras-chave: subjetividade, crianças, comunidade litorânea.