62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 5. Economia Internacional
DA DETERIORAÇÃO DOS TERMOS DE TROCA À DOENÇA HOLANDESA: UMA ANÁLISE DA ECONOMIA BRASILEIRA ATUAL
Thiago Luis Alves Maia 1
João Ildebrando Bocchi 2, 1
1. Departamento de Economia - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP)
2. Professor Dr.
INTRODUÇÃO:
A discussão sobre a taxa de câmbio na economia brasileira torna-se particularmente importante a partir do Plano Real de 1994. A sobrevalorização cambial recente, no período 2004-2008, estaria atrelada segundo autores como Gabriel Palma, Bresser-Pereira e Paulo Gala ao fenômeno conhecido como "doença holandesa".Cabe ressaltar o pioneirismo de Celso Furtado que em 1957, em estudo para a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), identificou no caso da economia da Venezuela características que passariam a ser conhecida como "doença holandesa".Esta pesquisa trata de dois momentos de valorização cambial na economia brasileira: o primeiro, da implantação do Plano Real ao fim do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, mostra a existência de uma correlação entre as políticas ortodoxas de estabilização e a elevação da taxa de câmbio real observada no período. No governo Luiz Inácio Lula da Silva, as altas taxas de juros e a elevação dos preços internacionais das commodities, devido ao forte aumento da sua demanda, resultaram em uma sobrevalorização cambial devida à "doença holandesa", com uma forte evidência a partir da intensificação da valorização cambial no período 2004 até agosto de 2008, quando o processo foi interrompido pela crise financeira internacional.
METODOLOGIA:
O objetivo nesse trabalho foi analisar a existência da Doença Holandesa na economia brasileira nos períodos dos governos FHC e LULA (1995-2006). As hipóteses metodológicas são baseadas segundo as leis de Nicholas Kaldor que entende ser (i) positiva a correlação entre as taxas de crescimento do PIB e da produção industrial, pois (ii) a indústria manufatureira, por apresentar economias de escala destaca forte correlação entre o crescimento da industria e o crescimento da produtividade industrial; Desse modo (iii) é positiva a correlação entre o crescimento da produção industrial e o crescimento da produtividade fora da indústria. Adicionalmente, conforme IEDI considerou-se a elevada taxa de juros do período um dos fatores para perda do dinamismo industrial.
RESULTADOS:
Em 1950 as teorias da CEPAL indicavam que a renda (y) na periferia era decrescente dado à produtividade média do trabalho na produção de um bem primário (Lp) e seu preço (Pp) serem menores que a produtividade na produção de um bem industrial (Li) e seu preço (Pi), revelando com isso uma tendência à deterioração das relações de troca na periferia.Y= Lp.Pp/Li.Pi.Celso Furtado demonstrou que em economias cuja produção era dependente da exportação de recursos naturais a moeda teria uma forte tendência à sobrevalorização levando a um aumento nas importações e a uma forte retração no impulso industrializante desse país.No Brasil, houve dois períodos de sobrevalorização cambial.O primeiro ocorre a partir de julho de 1994, com o Plano Real e perdura até o ataque especulativo de janeiro de 1999, que resultou em uma desvalorização cambial de 70%.O segundo se configura em 2004 e se estende até 2008, quando os efeitos da economia mundial se manifestam sobre a taxa de câmbio do Brasil.O saldo comercial do país atinge US$ 46bi em 2006, basicamente em função da exportação de commodities.Na balança comercial dos manufaturados dos setores de média-alta e de alta tecnologia, a situação de quase equilíbrio de 1992 transforma-se em um déficit comercial de US$ 10bi em 2002 e de US$ 20bi em 2007.
CONCLUSÃO:
A análise desse trabalho verificou que existiu no Brasil forte correlação entre câmbio, crescimento econômico e industrialização, pois desde 1994 até 2006, anos em que além dos ataques especulativos sobre o câmbio nos períodos 1998/9 e 2002/3, praticaram-se taxas de juros astronômicas, consideradas das mais altas do mundo.O resultado foi que a taxa de crescimento do valor agregado da indústria superou a taxa de crescimento de toda a economia apenas em 4 anos, dos 13 possíveis. Deve-se levar em conta nessa relação à evidência de que a valorização cambial observada no período soma-se a um contexto de baixo crescimento e contribui para a produção doméstica perder a competitividade para os similares importados.Os dados mostraram forte relação entre câmbio, desenvolvimento da indústria e causas para a desindustrialização, reforçando as hipóteses de que a doença holandesa faz sentido na economia do Brasil. As variáveis internas influenciaram o fenômeno da valorização cambial juntamente com fatores externos gerando perda do produto e redução da competitividade da industria.O tema trata, por tanto, de importantes questões que devem ser solucionadas em beneficio do emprego e desenvolvimento futuro do país.
Instituição de Fomento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica/Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão - PIBIC/CEPE - PUCSP
Palavras-chave: sobrevalorização cambial nos anos 2000, doença holandesa no Brasil, taxa de câmbio.