62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
O Sistema Fonológico do Yaathe. Subsídios Para Elaboração de Materiais Didáticos
Fábia Pereira da Silva 1
Januacele Francisca da Costa 1
1. Universidade Federal de Alagoas
INTRODUÇÃO:
A língua Yaathe é falada pelos índios Fulni-ô, que vivem no município de Águas Belas, interior de Pernambuco. Segundo Costa (1993), 91,5% dos índios são usuários da língua, ativos ou passivos. Apesar de conviver lado a lado com outra cultura e com uma língua tida como de prestígio, os Fulni-ô mantêm viva a sua cultura e a sua língua de origem. Nesse momento, o que se faz necessário é o incentivo ao registro escrito dessa língua e ao seu ensino sistemático na escola e, para isso, um requisito básico é que se tenha um sistema de escrita reconhecido e aceito por todos na comunidade. Na primeira etapa dessa pesquisa, concluímos a proposta de um sistema de escrita com símbolos e algumas regras. Na segunda etapa, trabalhamos com a análise linguística de textos escritos em Yaathe pelos professores e que depois foram reescritos na grafia que estamos propondo e em seguida discutidos em encontros realizados na escola, o que vem contribuindo muito para a firmação da proposta de escrita e para a reflexão linguística por parte dos professores. Esse é mais um passo em direção a um objetivo: a elaboração de uma proposta ortográfica bem fundamentada, coerente, útil, que seja aceita pelo povo Fulni-ô e que possa ser utilizada no ensino da língua. O dicionário em elaboração também será uma ferramenta útil tanto no âmbito da escola e da comunidade.
METODOLOGIA:
A metodologia que utilizamos nesse trabalho envolveu coleta, transcrição e elicitação dos dados e análise dos dados, conforme os pressupostos teórico-metodológicos da linguística descrtiva. Fizemos uma revisão de literatura e utilizamos os dados disponíveis em descrições dessa língua, e a monografia de TCC, concluída a partir da primeira etapa da Iniciação Científica. Efetuamos novas coletas de dados através de listas de palavras pré-selecionadas, textos curtos, narrativas do cotidiano e nomeação de campos léxicos, de modo a levantarmos um corpus que nos possibilitasse um número razoável de palavras para a elaboração de um dicionário escolar. Os textos coletados foram reescritos com base na nossa proposta de escrita e depois discutidos com os professores em vários encontros. Os dados foram gravados com o auxílio de um aparelho de MD (minidisc) ou diretamente no Programa Praat em computador. Utilizamos o sistema de transcrição fonética da Associação Internacional de Fonética (IPA). As nossas propostas são apresentadas aos professores de Yaathe, não só como estratégia para que, de algum modo, façam parte do trabalho e assim a proposta seja de fato efetivada, como também, por sabermos que a intuição do falante pode nos ajudar a resolver muitas dificuldades encontradas na tarefa de descrever e explicar aspectos da língua. Por último, encaminhamos alguns resultados que estão fazendo parte da Gramática de Usos do Yaathe e um dicionário escolar.
RESULTADOS:
Como resultados desse trabalho, apresentamos a monografia de TCC, que é uma revisão da fonologia do Yaathe, a partir da descrição efetuada por Costa (1999), para uma proposta de uniformização da escrita na língua e iniciamos a construção de um dicionário escolar bilíngue Yaathe-português e Português-Yaathe. Contribuímos, ainda, no nível da fonologia, para a Gramática de Usos do Yaathe. A revisão do sistema fonológico mostrou-se um trabalho de muita ajuda para a proposta de grafia da língua. Tornou-se evidente, porém, que uma descrição acurada de outros níveis de análise é necessária para que cheguemos a uma proposta mais consistente. Nos encontros com professores, testamos a eficácia da proposta. Foram recolhidos textos escritos em Yaathe que são utilizados nas aulas. Esses textos foram reescritos de acordo com a proposta de escrita e tentamos aplicar a esses textos os conhecimentos que temos sobre a língua, com base no trabalho de Costa (1999). Em seguida, depois de termos analisado o texto, reunimos os professores para discutirmos a proposta de escrita, e ao mesmo tempo, encaminhar algumas sugestões de atividades a serem utilizadas nas aulas de língua materna. O outro resultado do nosso trabalho é o dicionário escolar bilíngue. Esse dicionário é escolar por ser direcionado, principalmente, ao uso em sala de aula e é bilíngue por apresentar para cada lexema em Yaathe o(s) seu(s) sentido(s) equivalente(s) em Português e, do mesmo modo, do Português para o Yaathe.
CONCLUSÃO:
Foi possível realizar durante este ano de pesquisa a redação final da proposta de escrita, que foi revisada conjuntamente com os professores, resultando na monografia de TCC, e efetuamos outras atividades, tais como leituras específicas para esta segunda etapa, elaboração de material didático, o que foi feito através das análises dos textos e das sugestões de atividades para sala de aula, a confecção de um dicionário escolar bilíngue. Durante o ano, as atividades de leitura e pesquisa resultaram em avanços significativos, pois pudemos refletir mais consistentemente sobre a base teórica, através das muitas leituras efetuadas, tendo acrescentado referências bibliográficas novas às propostas no projeto inicial. As atividades de efetuadas no âmbito do projeto têm sido valiosas no que diz respeito a minha formação acadêmica. O trabalho com os professores na aldeia, por outro lado, tem sido bastante enriquecedor com relação à experiência que estamos adquirindo no campo da educação indígena.
Instituição de Fomento: Universidade Federal de Alagoas
Palavras-chave: Língua Indígena, Fonologia, Escrita.