62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
DISCURSO DE MARKETING: UMA ANÁLISE DO CORPO CULTURAL E SUA COMUNICAÇÃO DE VENDA
Camila Teles Barbosa 1
Nilton Milanez 1
1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia / Uesb
INTRODUÇÃO:
A mercantilização da cultura se dá por meio de um processo que tranforma as identidades em produtos. Percebe-se, então, que o sujeito, ávido para vender uma coisa, acaba, antes, vendendo a sua identidade e o seu corpo. O que visamos responder, neste estudo, é que identidade é essa e como ela é construída. Essas constituições ocorrem na intenção de corresponder à memória do sujeito em posição de público-cliente.  Consideramos, para tanto, duas linhas de partida; a primeira como sendo a venda de uma cultura popular e a segunda, a construção e midiatização de estereótipos. Objetivamos expor o processo que atinge desde a modelação das identidades para a venda até a sua recepção, ou seja, entender os procedimentos de controle do mercado que permeiam o objeto de estudo, para assim chegar a um resultado do que se entende como cultura da imagem. Esta pesquisa é relevante para a compreensão de comportamentos dos sujeitos, assim como das posições ocupadas pelos mesmos em ordens discursivas de mídia e mercado.
METODOLOGIA:
Tomamos como objeto de questionamento, ou corpus, os vídeos Pamonha de Cajazeiras e Verão na Bahia, ambos publicados no youtube. A pesquisa teve como norte a linha de estudo francesa da Análise de Discurso (AD), seguindo os postulados de Michel Foucault. Para fazer compreender a função dos recortes imagéticos, analisamos a linguagem verbal e não-verbal presente neles. As etapas de desenvolvimento do trabalho se deram por meio de respostas às perguntas efetuadas por pesquisadores ou complementariedade de informações cedidas pelos mesmos e adaptadas segundo as necessidades do trabalho. Traçamos relação entre imagens da memória coletiva e os vídeos por meio do processo intitulado de intericonicidade por Courtine, refletimos sobre as posições que cada sujeito não-pragmático ocupa no discurso, entendendo os enunciados e os seus supostos donos, como faz Foucault e analisamos o corpo dos sujeitos, elegendo modelos de análise de Milanez, os quais facilitam o entendimento de manifestações de enunciados e posições de sujeito nos corpos. Por fim, nos valemos de ideias de cultura e alteridade do filósofo De Certeau.
RESULTADOS:
O sujeito é tratado pela AD como sendo um lugar pelo qual os discursos passeiam. No vídeo Pamonha de Cajazeiras, pode-se observar a construção do sujeito que se posiciona como vendedor de pamonhas e parte de influências externas, alcançando a formação da sua identidade num bairro de Salvador. É preciso compreender, pois, as transformações sócio-histórica-culturais para caminharmos por uma análise das condições de produção de algum sujeito, em determinado local, de alguma forma. Além de entender o processo de alteridade que determina as relações entre o "eu" e o "outro" que permeiam formações de identidades. Este primeiro vídeo traz a materialização de uma pluralidade entre os sujeitos presentes no corpus. As danças promovem infinitos efeitos de sentido no espectador e se identificam por meio de jogos imagéticos ou traços de semelhança com outros discursos (de sexualidade por exemplo). No vídeo Verão na Bahia, mulheres com saias curtas em praias paradisíacas, ocupando posições de vulgaridade, convidam os turistas para desfrutarem o melhor da Bahia. A campanha turística do Governo do estado ressalta elementos culturais nos corpos, de modo estereotipado, para construir identidades que marquem o seu lugar de constituição em memórias coletivas dos sujeitos que compram o produto.
CONCLUSÃO:
O sujeito discursivo toma para si discursos configurados dentro das relações de poder entre ele e o outro e, dessa forma, a sua identidade e a cultura são construídas. Os enunciados que produzem por meio do corpo e da língua publicisam sua identidade e são responsáveis por ecos imagéticos causados no receptor. Assim, o processo que permeia a projeção de identidades se dá através de tranformações e (re)produções. A construção de uma identidade estereotipada beneficia e facilita a construção do produto mercantilizado. A propagação das imagens generalizadoras cria consentimento por parte de alguns, os quais agem da forma ditada pela mídia, ou resistência por parte de outros. Compreendemos que a busca pela identificação do sujeito com o objeto midiático, por meio dos enunciados, gera conflitos que tangem a dissimulação de fontes culturais na composição de um sujeito denominado baiano. Os interesses de mercado incorporam uma cultura da imagem, por meio de estereótipos, para estabelecer normas do que é aceito ou não no conjunto social.
Instituição de Fomento: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Palavras-chave: Bahia, Cultura, Marketing.