A duração segmental, entre outros elementos, faz parte do grupo de fenômenos que chamamos de prosódia. A duração pode ser influenciada por fatores como o ponto de articulação, no caso das consoantes, acento, além de fatores semânticos e sintáticos. (Cho; Ladefoged, 1999; Kent; Read, 1992).

Além disso, elementos prosódicos mantêm relação com elementos sintáticos, relação essa evidente em dados de aquisição da linguagem, como mostra Scarpa (1999). Pesquisas de síntese de fala também trazem evidências da estreita relação entre a morfossintaxe e a estrutura prosódica da língua (Heldner; Megyesi, 2003).

Considerando a estreita relação entre sintaxe e prosódia, fato bastante documentado na literatura e, buscando analisar fatores que possam alterar a duração segmental, propomo-nos, neste trabalho, avaliar a influência das funções sintáticas de núcleo do sujeito e núcleo do predicado sobre a duração do VOT. Assim, objetivamos verificar se a duração do VOT pode ser alterada em função da natureza sintática da palavra.

Corpus e gravação dos dados: O corpus foi composto por palavras reais do tipo CV.CV, que pudessem preencher as posições de sujeito e núcleo de predicado verbal. Os vocábulos foram inseridos em frases contextualizadas com o objetivo de simular a fala contínua normal do informante. Como sabemos, a duração é um fator que sofre influência de diversos elementos da palavra e frase, assim a idealização das frases foi condicionada pelo alto controle dos ambientes fonéticos das sentenças, como no exemplo:

- Sua mãe tem controle de tudo. Ela data também o que lê.

- Pare de escrever a carta novamente. A data também está errada.

As frases do corpus foram impressas individualmente e apresentadas a informante de forma aleatória. As gravações foram realizadas na câmara acústica do Laboratório de Fonética Acústica e Experimental (LAFAPE), do Instituto de Estudos da Linguagem /UNICAMP através do gravador Marantz.

Obtenção das medidas e análise estatística: A obtenção da duração relativa (duração segmental/duração total da palavra x 100) foi realizada no programa Praat (Boersma; Weenink, 2002). Os dados foram submetidos ao teste estatístico ANOVA - um critério, para certificar se as médias de cada um dos segmentos apresentavam diferenças significativas entre si, para α = 0.05.

No Inglês, de acordo com Lisker e Abramson (1964), as oclusivas sonoras se caracterizam por um VOT curto e as surdas por um VOT longo. Os resultados obtidos neste trabalho, contudo, indicam que as oclusivas surdas e sonoras têm a mesma duração quando estão funcionando tanto como núcleo do predicado quanto núcleo de sujeito Esses resultados vão ao encontro dos resultados encontrados por Meneses e Pacheco (2007), que estudaram as oclusivas em contextos sentenciais de pausa. Neste caso, as consoantes também não apresentam diferenças duracionais quanto a sua sonoridade.

Quando comparamos a mesma oclusiva, ou seja, a mesma palavra nas diferentes funções da sentença, os resultados se mantêm: não há alterações nas durações de uma oclusiva que compõe uma palavra quer como núcleo de sujeito, quer como núcleo de predicado. Para todos os casos obtivemos p >0.05.

Nesse sentido, a duração do VOT se mantém inalterada entre surdas e sonoras nas funções sintáticas aqui investigadas, bem como a mesma consoante não se altera quando estão em palavras nessas diferentes funções sintáticas.

Os resultados encontrados neste experimento vêm corroborar uma série de investigações sobre a questão da duração segmental no PB, mostrando que a duração não está atrelada a fatores fonológicos, como no Inglês. Os resultados mostraram ainda que as durações não se alteram quando comparamos as oclusivas surdas e sonoras nas funções de sujeito e núcleo de predicado, isto é, não há influência da função na duração dos segmentos.