62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
IMPLICAÇÕES DA ALTERAÇÃO DO VOT NA PERCEPÇÃO SEGMENTAL
Renato Abreu Soares 1
Dyuana Brito 1
Jaciara Mota 1
Tássia Coelho 1
Vera Pacheco 1
1. UESB
INTRODUÇÃO:
Os segmentos da fala são produzidos de forma contínua, sobrepondo-se muitas vezes um ao outro no fenômeno da coarticulação. Pacheco (2004, s.p.) afirma que "(...) a duração das oclusivas está diretamente ligada à estrutura silábica". Assim, estão bastante concatenados, porém são reconhecidos perceptualmente pelas suas características intrínsecas. Em relação ao número de sílabas, Souza e Pacheco (2007) observaram que em monossílabos as oclusivas sonoras tendem a ser mais longas que as surdas correspondentes. Em outro âmbito, Ferreira-Silva e Pacheco (2009) constataram para as fricativas (/f/ x /v/, /s/ x /z/, /ʃ/ x /ʒ/) que a redução em 50% e 75% do ruído interfere na percepção, principalmente das surdas. O voice onset time (VOT) corresponde ao momento da "explosão", decorrente da saída rápida do ar ao romper a obstrução no trato vocal, e representa a própria consoante, uma vez que o que vem antes dele é um silêncio decorrente da obstrução e o que vem em seguida a ele é um outro segmento, nesse caso, uma vogal. Assim, objetivou-se verificar neste trabalho as implicações que a ampliação e a redução do VOT causam na percepção dos segmentos oclusivos e adjacentes.
METODOLOGIA:
Foi montado um corpus contendo dissílabos oxítonos e paroxítonos com a estrutura CVC.CV, CV.CV, e CV.CVC, tendo o onset ocupado pelas oclusivas do PB, o núcleo ocupado pelas vogais [a], [i] e [u] e a coda ocupada por róticos, nasais e fricativas. As palavras foram inseridas na frase veículo "digo ___ baixinho" e impressas. Foi então realizada a gravação em uma cabine acústica do Laboratório de Pesquisa e Estudos em Fonética e Fonologia (LAPEFF). Os dados arquivados tiveram o VOT ampliado e reduzido através do Praat e os dados resultantes dessa manipulação e os originais foram tocados para quatro informantes, dois homens e duas mulheres, que registraram por escrito o que julgavam ouvir. Esses dados foram então catalogados e analisados, comparando-os com os dados originais.
RESULTADOS:
A oclusiva foi recuperada em quase a totalidade dos dados, cerca de 99,2%, mesmo nos casos em que o segmento teve o VOT alterado (duplicado ou reduzido). Um dado interessante é que somente em contexto de VOT duplicado, entre a oclusiva labial sonora [b] e a vogal seguinte, o informante apresentou a emergência de lateral [l]; e, ainda nesse contexto, entre a oclusiva velar sonora [g] e a vogal seguinte, assim como também entre a alveolar surda [t] e a vogal seguinte, o informante apresentou a emergência de um tepe [ɾ]. É importante ressaltar que, nessa configuração silábica, somente esses dois tipos de segmentos podem ocorrer.
CONCLUSÃO:
Conclui-se que a redução e a ampliação do VOT não interferem diretamente na percepção de oclusivas. Todavia parecem incidir sobre segmentos adjacentes, podendo implicar na compreensão do que se diz. Isso mostra o quanto o ouvinte é atento ao estímulo que lhe chega aos ouvidos e, devido à concatenação dos segmentos no contínuo sonoro da fala, a modificação em determinado segmento pode alterar pontos diferentes de onde ele está localizado.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: VOT, Percepção, Duração.