62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
gramática de usos do português: a interface entre gramática e poética no estudo gramatical da lingua em uso
Felipe Pupo Pereira Protta 1
Maria Helena De Moura Neves 2
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCL (IC)
2. Profª. Drª. - Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCL (Orientadora)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa está voltada para a interface de significação que se dá entre gramática e poética, considerando que há gramática na poética e que tal fato pode ser objeto de estudo. A gramática, segundo NEVES (2006), é a explicitação dos usos para a obtenção dos resultados de sentido em uma situação de interação. Assim, propõe-se que ela não seja vista como um fenômeno isolado, (Givon, 1995), levando-se em conta que as formas linguísticas são meios para um fim e não um fim em si mesmas (Halliday, 1994). A literatura é primordial nesse exame, considerando as estreitas relações que há entre a gramática (o arranjo lexicogramatical para produção de sentido) e a poesia (a criação de significados nessa esfera meio impalpável que se tem chamado de "literatura"). Aliás, o significado de "poesia" (um "fazer linguístico") aponta que é a língua (a sua "gramática") que faz poesia. Na linha do que tem proposto Neves (2007; 2008; entre outros), o objetivo é avaliar a consciência de linguagem e língua do escritor, o que se fez a partir da obra O escritor enfrenta a língua (1994). As fontes diretas para a avaliação são manifestações metalinguísticas e metadescritivas dos autores sobre o saber e o fazer linguísticos que trazem uma posição marcada quanto à questão da identidade linguística.

METODOLOGIA:

A obra organizada por Edith Pimentel Pinto, O Escritor enfrenta a língua (1994) serviu de base para a pesquisa, até mesmo pela sugestão de organização dos escritores em diferentes grupos de acordo com seu posicionamento em relação à língua. O córpus  foi constituído pelas próprias obras de literatura de língua portuguesa - específicamente de literatura brasileira - em cuja análise foram aplicados os procedimentos de base funcionalista. O critério de escolha das obras analisadas foi justamente a busca de manifestações metalinguísticas e metadescritivas dos escritores sobre a consciência do saber e do fazer linguístico, e os conceitos de língua e linguagem, de uma forma que caracterizasse uma posição marcada quanto à questão da identidade linguística. A escolha de tais obras realizou-se de duas maneiras: ora por questionários a alguns professores e especialistas de literaturas lusófonas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ora por meio de pesquisa, tanto das próprias obras quanto de material crítico acerca dos autores tratados no trabalho. Deve ser observado que as análises dos textos e dos fatos da língua evocados pelos autores foram feitas mediante consultas técnicas a gramáticas da Língua Portuguesa.

RESULTADOS:

Apesar de suas diferenças temáticas e estilísticas, os autores estudados tiveram em comum a preocupação com a língua nacional, e, por tratarem de mesmos temas, foram agrupados, neste estudo, segundo a sugestão contida na obra O Escritor Enfrenta a Língua (PINTO, 1994). Num primeiro grupo, estão José de Alencar e Machado de Assis, que se esforçaram na defesa de uma variante brasileira na língua literária, reagindo contra o purismo e a correção gramatical exacerbada, característica de sua época e optando pelo emprego de recursos de linguagem coloquial e sintaxe popular em suas obras. Um segundo grupo é constituído por Monteiro Lobato e Mário de Andrade, os quais também se empenharam na defesa da variante brasileira. Lobato reagiu contra o que ele chamou de "gramatiquice", mas ao mesmo tempo escreveu de maneira impecável quanto às regras de gramática, e Mário empreendeu uma pesquisa sociolinguística acerca dos diferentes falares do português do Brasil. Num terceiro grupo se encaixaria Lima Barreto, cuja obra traz traços estilísticos que revelam posições e escolhas bastante significativas para o tema desta pesquisa.

CONCLUSÃO:

Foram estudados nesse trabalho alguns dos maiores nomes da literatura brasileira, de diferentes tempos, escolas literárias e posicionamentos teóricos. Apesar de tudo que os possa diferenciar, a língua é o fator que os une, o lugar comum de conforto ao qual todos se achegam, trazendo em si as peculiaridades de uma vivência que, embora individual, acaba por cooperar para a consolidação da identidade linguística de todo um povo. Cada um dos autores, à sua maneira, não só fez uso da língua (de uma maneira tão singular que os configurou como usuários privilegiados de tal entidade) como também deu lições sobre questões de uso, norma e estilo, partindo da forma como entendiam a entidade 'gramática', e trazendo ao leitor a concepção que tinham de seu instrumento de trabalho. É justamente esse o foco deste trabalho, tratar de uma gramática que não é trazida como algo pronto, fechado, mas que, sob outra perspectiva, sutilmente vai sendo revelada na poética, ou seja, em seu uso efetivo, por meio das escolhas e dos arranjos de criação que o autor optou por empregar. Fica, então, marcada a estreita relação que há entre gramática e poética bem como a relevância do estudo dessa interface de significação, para que se empreenda um estudo gramatical baseado literalmente no uso.

Instituição de Fomento: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa
Palavras-chave: funcionalismo, gramática, poética.