O fenômeno da Desertificação é entendido como a "degradação de terras, nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas, por variações climáticas e atividades humanas", e tornou-se um dos maiores problemas socioeconômicos e ambientais da atualidade.

          No Estado do Rio Grande do Norte, localizado na região NE do Brasil, encontra-se a região do Alto-Oete Potiguar, que segundo o estudo intitulado "Caracterização das áreas de ocorrência da desertificação no Rio Grande do Norte" (Carvalho et al, 2000) é uma área onde o fenômeno da desertificação ocorre de forma "moderada".

 Sendo assim, escolhemos esta região, mais especificamente o município de Francisco Dantas, para a realização de nossa pesquisa, tendo como principais objetivos: testar duas metodologias de indicadores de desertificação, sendo elas o Sistema de Monitoramento do processo de Desertificação - SIGINDES MONITOR e o Sistema básico de indicadores para a identificação e monitoramento dos processos de desertificação na América Latina e Caribe, utilizada pelo Ministério do Meio ambiente, bem como Identificar os principais indicadores do processo de desertificação em quatro comunidades rurais do município de Francisco Dantas, sendo elas sítio Jacu, Vila Menino Jesus de Praça, sítio Malhada da Luíza e sítio Engenho.

Para a realização da presente pesquisa, utilizamos a Proposta do Sistema básico de indicadores para a identificação e monitoramento dos processos de desertificação na América Latina e Caribe, elaborado por Matallo Jr. (2001), que divide os indicadores em dois grandes grupos, sendo eles os INDICADORES DE DESERTIFICAÇÃO, ou seja, podem indicar o fenômeno em nível ambiental e INDICADORES DE SITUAÇÃO, são aqueles relativos ao clima e a socioeconomia. No entanto, em virtude da escassez de dados alguns indicadores não foram utilizados.

Outra metodologia empregada foi o Sistema de Monitoramento do processo de Desertificação - SIGINDES MONITOR, adaptada por Jesus (2006), que procura representar de forma numérica e através de escalas os processos naturais, havendo a transformação de dados conceituais para dados numéricos.

Aplicamos questionários junto a 23 famílias residentes nas quatro comunidades escolhidas. O modelo de questionário utilizado foi elaborado por Jesus (2006), contudo, foi adaptado a realidade local.

Dados secundários foram Coletados através do Censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007) e do "Perfil de seu município" (IDEMA, 2005). A realização dos registros fotográficos e diagnóstico das comunidades envolvidas se deu nos dias 18 de novembro e 9 de dezembro de 2008.

O questionário aplicado nas comunidades do sitio Jacu, Vila menino Jesus de Praga, sitio Malhada da Luíza e sítio Engenho, mostra que a idade média dos entrevistados é de 44 anos, sendo a maior parte destes, composta por pessoas do sexo masculino. No que diz respeito à escolaridade, percebe-se que 52,2% dos moradores têm apenas o ensino fundamental incompleto, e que 26,1% são analfabetos.

As fontes de abastecimento de água das comunidades pesquisadas são as cisternas de placas, os poços comunitários e os açudes públicos e particulares. No entanto, os moradores reclamam da falta de água encanada e das dificuldades de acesso a esse bem vital.

Percebe-se que 65% das famílias consorciam lenha e gás como fonte energética para o cozimento dos alimentos, e isso tem provocado o desmatamento acelerado da área. Outra prática comum na localidade é a coivara, ou seja, a queima do solo agrícola a fim de torná-lo mais fértil, esta técnica, porém, mata a matéria orgânica do mesmo, deixando-o infértil.

A maior parte da renda local advém da agricultura de subsistência e do Programa Bolsa Família (governo federal), mas também encontram-se funcionários públicos, aposentados e autônomos, sendo que, 22% da população entrevistada tem renda inferior a 01 salário mínimo, 61% ganham em média 01 salário e 17% ganham acima desse valor.

Observa-se que o município de Francisco Dantas vive um forte processo de degradação em virtude das práticas inadequadas de manejo do solo. Além disso, nota-se que muitos problemas assolam a população local, tais como: dificuldades de obtenção de água; falta de oportunidades de emprego que tem ocasionado migrações constantes, principalmente por parte da população jovem; rendas baixíssimas, entre outros.

Percebe-se também que, a população das comunidades estudadas tem baixa escolaridade e encontram-se desinformadas frente ao processo de Desertificação, pois de acordo com as entrevistas, 100% dos moradores nunca ouviram falar neste processo, sendo que atribuem a diminuição gradativa das safras não ao mau uso do solo agrícola e sim as secas periódicas ou ao Divino.  Deste modo, existe a necessidade de conscientização dessas pessoas.

O Sistema de Monitoramento do Processo de Desertificação - SIGINDES MONITOR e os indicadores retirados do Sistema básico de indicadores para a identificação e monitoramento dos processos de desertificação na América Latina e Caribe, mostraram-se eficazes no diagnostico do fenômeno da desertificação na localidade estudada, podendo ser aplicados em outras áreas e assim contribuir para a formulação de políticas públicas que visem à minimização do problema.