62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
são paulo railway - estações de segunda e terceira classe
Gustavo Rodrigues Secco 1
Cecília Rodrigues dos Santos 2
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - FAU (IC)
2. Profª. Drª. - Universidade Presbiteriana Mackenzie - FAU (Orientadora)
INTRODUÇÃO:
Edificadas pela primeira ferrovia a operar em  São Paulo, as estações da São Paulo Railway (SPR)  constituem importante referência para estudos sobre o desenvolvimento econômico, social e cultural do Estado, registrando a adoção de novas tipologias e técnicas construtivas para a arquitetura industrial. Porém, esquecidas pelo poder público, essas estações carecem de conservação. Descaracterizadas e vandalizadas, estão ameaçadas pela modernização do transporte ferroviário metropolitano e pelo descaso das concessionárias. A SPR - uma das maiores obras de engenharia do século XIX no Brasil - foi inaugurada em 1867 para unir o Porto de Santos à Jundiaí, região produtora de café. Cresceu impulsionada pelo lucro dos cafeicultores, inaugurando, em 1901, obras de  ampliação, quando estabeleceu para as estações a classificação tipológica de primeira, segunda e terceira classe. A partir dessa classificação e do estado atual dos edifícios remanescentes, selecionamos três exemplares para estudo histórico e levantamento métrico-arquitetônico. Este estudo pretende contribuir para a preservação do patrimônio representado pelas instalações da SPR, identificando tipologias, técnicas construtivas e outras características arquitetônicas, ofertando subsídios para sua restauração e/ou conservação.
METODOLOGIA:
Partimos dos pressupostos de trabalho desenvolvidos por Cecília R. dos Santos, Marcos Carrilho e Ricardo Medrano (dados do artigo), adotando conceitos e procedimentos técnicos e metodológicos do campo da preservação do patrimônio arquitetônico. Inicialmente, recuperamos a história da SPR e suas estações, através de informações localizadas fora do objeto, trabalhando com fontes documentais diversas e procedendo à análise e interpretação dos dados obtidos. Em seguida, aprofundamos o conhecimento sobre os bens selecionados, recorrendo a métodos próprios da área: levantamento métrico-arquitetônico e exercícios de exame e diagnóstico das estações. Foram estudadas três estações construídas pela SPR, sendo duas de terceira classe - Ribeirão Pires e Franco da Rocha - e uma de segunda classe - Jundiaí,  escolhidas a partir do levantamento das estações da Companhia existentes entre Paranapiacaba e Jundiaí, tendo como critério data de construção, estado de conservação e instalações remanescentes.  O estudo foi desenvolvido em três etapas: histórico da Companhia - concessão, construção, operação e duplicação - e padrões arquitetônicos; pesquisa iconográfica sobre as estações, complementada por diagnóstico fotográfico; e levantamento métrico-arquitetônico das três estações selecionadas.
RESULTADOS:
Em 1867, a SPR contava com doze estações de arquitetura inexpressiva. Somente em 1897, com as obras de duplicação, é que as estações ganharam mais importância e tratamento estético mais refinado, seguindo padrões estabelecidos pela Companhia em projetos elaborados na Inglaterra. Apesar de divididas em classes, obedeciam ao mesmo partido arquitetônico: alvenaria de tijolos aparentes; colunas, vigamentos e acabamentos em ferro fundido; lambrequins e detalhes em madeira recortada e passarelas metálicas. Em 1901, com o término da duplicação, a SPR passou a contar com vinte e sete estações, sendo quatro de segunda classe, das quais apenas a Estação Jundiaí se mantém em atividade. A princípio era um pequeno edifício, mas, com melhorias ao longo dos anos, a estação se aproximou do partido arquitetônico adotado pela Companhia e adquiriu a feição que conserva até hoje. Já das vinte e uma estações de terceira classe, restam apenas oito, estando uma abandonada. As demais atendem aos trens da CPTM e exibem um conjunto razoavelmente preservado. São edifícios de menor porte, localizados em cruzamentos com rotas pré-existentes. As estações Ribeirão Pires e Franco da Rocha apresentam hoje os conjuntos mais íntegros, conservando o aspecto elegante e funcional dessas pequenas edificações.
CONCLUSÃO:
O desenvolvimento do trabalho revelou aspectos importantes das estações, que continuam desempenhando bem suas funções e exibem um projeto arquitetônico de qualidade. Também pudemos conferir os materiais e técnicas construtivas que a ferrovia ajudou a introduzir em São Paulo, sinais de transformação e modernidade na construção e fatores cruciais para o crescimento das cidades a partir do século XIX. As estações da SPR obedecem a uma tipologia de projeto e são extremamente racionais e funcionais no programa e nos processos construtivos utilizados, apresentando notável conjunto de peças industrializadas. Quanto ao estado geral de conservação, observamos que a maioria das estações foi demolida, enquanto outras foram desfiguradas. As poucas estações preservadas são aquelas que ficaram à margem dos projetos de melhoria do transporte ferroviário. Este estudo permitiu o diagnóstico das três estações e gerou cerca de duas mil fotografias de diversas instalações remanescentes da SPR e plantas e cortes das estações estudadas, material que pode auxiliar projetos de intervenção e restauração. Observamos, por fim, que a conservação adequada, o entendimento do projeto, a compreensão de sua história e o uso adequado e permanente são condições para a conservação e preservação de um monumento.
Instituição de Fomento: PIBIC Mackenzie
Palavras-chave: preservação do patrimônio industrial, arquitetura industrial-ferroviária, técnicas construtivas da industrialização.