62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza
IMPACTOS DIRETOS DO ÓLEO VEGETAL PÓS-CONSUMO SOBRE O DESENVOLVIMENTO INICIAL DE Cedrela fissilis VELL.
Caroline Signori Müller 1
Maria Eliana de Souza Viera 1
Vânia Karine Dick Wille 1
Edison Rogério Perrando 2
1. Depto.de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria-UFSM/CESNORS
2. Prof. Dr./Orientador - Depto.de Engenharia Florestal - UFSM/CESNORS
INTRODUÇÃO:
O óleo vegetal utilizado nas dependências das cozinhas de todo Brasil raramente é descartado de forma adequada, seja por falta de conhecimento ou por desinteresse da população, gerando vários problemas de cunho ambiental. Sabe-se que o óleo de cozinha permanece retido nos encanamentos, o que gera problemas com entupimento das tubulações. Em caso de inexistência de sistemas de tratamento de esgoto, o óleo acaba se espalhando na superfície de córregos, rios e represas. Por vezes, pode também ficar retido no solo, impermeabilizando-o e dificultando a absorção de nutrientes pelas raízes das plantas, comprometendo, assim o crescimento e desenvolvimento das mesmas. Além disso, pode haver liberação de gás metano durante sua decomposição, o que causa mau cheiro e, embora desconhecido o grau de impacto, um agravamento do efeito estufa. Todos estes inconvenientes seriam facilmente evitados com a reutilização deste óleo para outros fins, como biodiesel ou fabricação de sabão caseiro. Frente ao restrito embasamento científico aportado nesta temática de estudo, este projeto buscou elucidar, sob um simples processo simulatório, a germinação de sementes e o desenvolvimento de mudas de Cedrela fissilis Vell.(cedro-rosa) em ambiente sob presença de descarte de óleo vegetal pós-consumo (OVP).
METODOLOGIA:
O experimento foi conduzido no Viveiro Florestal da UFSM/CESNORS, sob o delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e cinco repetições, sendo estes: T1 = Testemunha (sem OVP); T2 = Solução de 970 mL de água + 30 mL de detergente neutro; T3 = Solução de 920 mL de água + 30 mL de detergente neutro + 50 mL de OVP; T4 = Solução de 870 mL de água + 30 mL de detergente neutro + 100 mL de OVP e T5 = Solução de 820 mL de água + 30 mL de detergente neutro + 150 mL de OVP. A espécie arbórea utilizada para avaliação do efeito dos tratamentos foi Cedrela fissilis Vell. (cedro-rosa). Os tratamentos foram aplicados em bandejas plásticas, contendo substrato padrão composto por solo, vermiculita expandida média, substrato comercial Plantimax® e cama de aviário na proporção 3:2:2:1 (v/v). Foram semeadas quarenta sementes da espécie em estudo por bandeja, estas alocadas dentro de viveiro. Realizaram-se irrigações conforme a necessidade de umidade no substrato, mantendo a regularidade entre os diferentes tratamentos e repetições. As variáveis analisadas foram o Índice de Velocidade de Emergência (IVE) e biomassa aérea e radicular das plantas (g). Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de comparação de médias (teste t, ao nível de 5% da probabilidade de erro).
RESULTADOS:
Quanto ao índice de velocidade de emergência (IVE), observou-se que T1 e T2 tiveram as melhores médias de germinação. Os tratamentos T4 e T5 apresentaram as menores médias. Uma possível causa no retardamento da emergência das plântulas é o efeito do OVP causando impermeabilidade do tegumento, isso justificaria os resultados obtidos em T4, T5 e até mesmo T3 que, apesar de apresentar média superior a estes, não diferiu significativamente. Observando as médias, percebeu-se que mesmo o tratamento T5 contendo maior quantidade de OVP, obteve uma média de IVE superior em relação ao T4. Neste caso, supõe-se que os 150 mL de OVP ficaram retidos na camada superficial do solo não tendo atingido o tegumento da semente, assim não impermeabilizando e não afetando a germinação e conseqüente emergência da mesma. Os resultados mostram que nas condições experimentais em que foi conduzido o estudo, a aplicação do óleo vegetal pós-consumo provocou danos significativos no desenvolvimento da biomassa aérea de C. fissilis, mesmo na menor quantidade aplicada (50 mL). Gradativamente observou-se que quanto maior a dosagem de OVP aplicado no substrato, menor a produção de biomassa aérea das mudas. Para os valores de biomassa radicular observou-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos.
CONCLUSÃO:
Constatou-se haver um decréscimo no índice de velocidade de emergência (IVE) com o aumento da concentração do óleo vegetal pós-consumo. Acredita-se que, em condições naturais (campo), isto também aconteceria, resultando em uma deficiência no banco de plântulas e conseqüente redução da flora ripária em regiões próximas a pontos de descarte de OVP. A redução de biomassa aérea também é um fator indesejável, uma vez que tal fato pode comprometer ou retardar o desenvolvimento da cobertura vegetal existente em matas ciliares. Considerando que o OVP descartado incorretamente fique retido nas margens de rios e córregos, o efeito direto desta realidade seria a alteração gradual do ecossistema vegetal ribeirinho, facilitando a ocorrência de erosão nestas áreas que tanto se busca proteger. Diante disto, percebe-se a importância da implementação de programas de conscientização, para que o descarte de óleo vegetal pós-consumo seja feita de maneira correta, visando à redução dos problemas causados pelo mesmo.
Palavras-chave: Índice de velocidade de emergência, Biomassa, Descarte.