62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 6. Ciências da Religião e Teologia
OS APONTAMENTOS DA DIVINA LEI DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO SEGUNDO ANTONIO CONSELHEIRO: TRAZENDO À TONA UM MANUSCRITO CENTENÁRIO.
Gisele da Silva 1
Pedro Lima Vasconcellos 2
1. Depto. de Ciência da Religião, Fac. de Ciências Sociais - PUC-SP
2. Prof. Dr./Orientador - Depto. de Ciência da Religião - PUC-SP
INTRODUÇÃO:

Através do conteúdo registrado  por escrito em seus Apontamentos dos Preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Christo, para a Salvação dos Homens, Antônio Vicente Mendes Maciel influenciou e mobilizou os sertanejos da região de Belo Monte (BA). Sua liderança devolvia esperança e fé ao povo sofrido, tanto que esses laços o transformaram no famoso Conselheiro. Louco ou beato, ele fez crescer um movimento que, baseado na Sagrada Escritura e nos ensinamentos de Cristo, fundou uma nova sociedade, mais conhecida por Canudos. Tal independência gerou conflito com as elites locais, movimentando também outros Estados e gerando quatro expedições contra Belo Monte; três delas derrubadas pelas forças conselheiristas, e a última, por assim dizer vitoriosa, deixou um rastro de destruição e de carnificina. Podemos elencar, por ora, os seguintes objetivos para a pesquisa que estamos apresentando: a) disponibilizar à comunidade acadêmica uma produção literária de Antonio Conselheiro; b) lançar luzes sobre a experiência religiosa vivida em Belo Monte; c) estabelecer um perfil da visão teológica de Antonio Conselheiro e de sua mensagem religiosa a partir da análise de uma produção literária sua.

METODOLOGIA:

Procedemos basicamente por dois caminhos: a) abordagem do manuscrito para transcrição de seu conteúdo e identificação das temáticas preferenciais a Antonio Conselheiro; b) pesquisa bibliográfica que permitiu confrontar o que emerge do manuscrito com o que tem sido dito a respeito de Antonio Conselheiro, sua proposta religiosa e a história de Belo Monte. A pesquisa desenvolveu-se pela conjugação de atividades diversas: a) transcrição de parcela do manuscrito Apontamentos dos preceitos da divina lei de nosso senhor Jesus Cristo, para a salvação dos homens; b) análise do conteúdo da sessão de prédicas do referido manuscrito; c) pesquisa bibliográfica sobre o catolicismo sertanejo, Belo Monte e Antonio Conselheiro - entre outras coisas, coletaram-se subsídios para situar a obra manuscrita do Conselheiro sobre a qual aqui se debruça e mesmo reapresentar algumas questões cuja solução tem sido encaminhada à revelia da produção literária do líder de Belo Monte; privilegiamos aqui os ensaios e as monografias, citadas, de Levine, Monteiro, Otten e Villa, além, é claro, do clássico de Euclides da Cunha; d) elaboração de relatórios, parcial, de atividades e científico.

RESULTADOS:

O objetivo principal foi atingido: a transcrição do manuscrito; trabalho que pode ampliar a visão da experiência religiosa de Conselheiro. Nessa parte do manuscrito sobre a qual nos detivemos encontra-se um conjunto de prédicas sobre os Dez mandamentos, a que demos maior atenção, e pudemos identificar alguns temas mais recorrentes e significativos. Do Primeiro ao Décimo Mandamento, Conselheiro se utiliza de uma lupa e extrai não só o conteúdo original de cada mandamento, como também aborda a relação dos fiéis acerca da pedra deixada por Jesus a Moisés; cita o amor como prosperidade e troca; o pecado para falar do outro como pecador, de si próprio, de arrependimentos, da misericórdia divina, da salvação apesar dos pecados; descreve a gratidão, a confissão e a salvação como tripé onde os fiéis podem se apoiar e obter forças para resistir as tentações e lamentações. Assim, ao traçar o perfil religioso de Conselheiro foi necessário considerar o contexto histórico da época, sua vida familiar e a dos sertanejos que o seguiam. Isolar sua visão teológica seria agir como a grande maioria dos estudiosos, que somente lembram e contestam a Guerra de Canudos, sem observar sua importância religiosa.

CONCLUSÃO:

Antônio Conselheiro acreditava que havia sido enviado por Deus para acabar com as diferenças sociais e também com os pecados republicanos; entre estes estavam o casamento civil e a cobrança de impostos. Conselheiro desenvolveu uma experiência que alguns considerariam socialista, seguia os princípios da igreja católica e impunha regras religiosas rígidas a seus seguidores. Ao mesmo tempo, o beato percorrera o sertão pregando transformações e despertando a ira das autoridades e da Igreja Católica. Conselheiro não deixou de realizar suas pregações e de construir igrejas e cemitérios, e, assim, a comunidade estabelecida em Belo Monte, inspirada em seus ideais, resistiu à guerra de quase um ano, até o fim. O que parece ser mais do que fanatismo religioso. Ela se mostrou coerente e íntegra em relação ao que sentia e acreditava. O povo lutou porque gostava do Conselheiro, e só queria liberdade para viver e trabalhar em sua terra. Portanto, a coesão social era a força motriz, coesão esta fundada na fé religiosa.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Antônio Conselheiro, Belo Monte, Salvação e Religião.