62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
Descrição preliminar dos classificadores da Língua Brasileira de Sinais (Libras)
Cleomasina Stuart Sanção Silva Mendonça 2, 1
Dioney Moreira Gomes 2, 1, 3
1. Universidade de Brasília - UnB
2. Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas - LIP
3. Prof. Dr. orientador
INTRODUÇÃO:

Assim como as línguas orais, as línguas de sinais possuem "fonologia", morfologia, sintaxe e semântica. Por isso, em meados da década de 1960, iniciaram-se os estudos linguísticos para analisar e descrever a gramática dessas línguas. Esse fato foi de grande importância, pois reconheceu seu status de língua e não de mera linguagem de gestos ou pantomima (mímica).

No cenário acadêmico atual, têm-se feito estudos sobre aquisição da Língua Brasileira de Sinais (Libras) por crianças surdas, sobre o processo de ensino de Português e a sua forma de aprendizagem e também sobre as estratégias cognitivas do surdo em relação à língua da comunidade oral. No geral, há pouco estudo a respeito da gramática, havendo várias lacunas com relação à sua descrição.

Como parte do projeto de documentação e descrição da Língua Brasileira de Sinais, este trabalho aborda exclusivamente os classificadores já atestados nessa língua, buscando:

a) evidenciá-los;

b) caracterizá-los;

c) compará-los com os sistemas de classificação nominal de línguas orais, buscando semelhanças e diferenças tipológicas; e

d) explicá-los de um ponto de vista funcional-tipológico.

METODOLOGIA:

Este trabalho parte da análise de dados a serem recolhidos junto a falantes nativos de Libras e de dados já publicados em trabalhos sobre essa língua, tais como: Brito (1995), Quadros (1997), Felipe (2006) e Quadros & Karnopp (2007). Sobre classificadores em geral, tomamos como ponto de partida os principais trabalhos sobre esse assunto, a saber: Allan (1977), Aikhenvald (2000), Craig (1986), Grinevald (2000, 2001, 2004). E, ainda, usamos um referencial teórico funcional-tipológico, na linha de Givón (1995, 2001), Comrie (1981), DeLancey (2000), Mithun (1999) e outros. Tendo como base teórica principal os estudos de Grinevald (1999, 2003, 2006), Craig (1986), com o intuito de melhor esclarecimento sobre o assunto, fazemos uma breve introdução sobre a classificação nominal em geral, para depois abordarmos esse assunto em algumas línguas de sinais (Aronoff et al. (2003), Talmy (2003), e Supalla (1986)) , até chegarmos à Língua Brasileira de Sinais (Libras).

RESULTADOS:

De acordo com Grinevald (2003), o termo classificador é usado para agrupar seres ou itens lexicais de mesma familiaridade. Em geral, é um morfema lexical, que se gramaticaliza, assumindo uma função morfossintática (cf. Gomes 2006:179). Após uma criteriosa revisão da literatura sobre o sistema de classificação nominal nas línguas de sinais e nas línguas orais, a pesquisa constatou que, nos estudos sobre os classificadores em línguas de sinais, há o uso de terminologias que não condizem com as teorias linguísticas correntes e que essas acabam não explicando de forma clara o processo de classificação nominal da Libras. Um dos pontos de vital relevância para a nossa pesquisa é a descrição e segmentação dos morfemas nessa língua para em seguida relacioná-los com o dito sistema de classificadores; entretanto, os resultados até agora demonstram que os tidos 'parâmetros' desempenham as funções de fonemas e morfemas, dificultando assim, a identificação dos chamados morfemas classificadores. Por enquanto, a pesquisa não é conclusiva a favor da existência de classificadores em Libras, ao menos não nos moldes que a literatura os tem apresentado.

CONCLUSÃO:

Ainda há muito que ser analisado sobre o possível sistema de classificação apresentado pela literatura sobre língua de sinais. Até agora, o que a pesquisa tem mostrado é a confusão feita pelos autores no que diz respeito à terminologia usada e empregada para explicar tal sistema. Por causa desse entrave terminológico, a descrição dos morfemas e a sua função dentro da Libras é uma questão que o projeto ainda vai buscar esclarecer.O próximo passo da pesquisa é estabelecer os limites dos chamados "parâmetros", ora tratados como fonemas ora como morfemas. Uma vez que se identifique claramente os limites entre a fonologia e a morfologia, poderemos aplicar os testes linguísticos adequados para identificar ou não um sistema de classificação nominal em Libras e sua real natureza.

Palavras-chave: Libras, Sistema de classificação, Classificadores.