62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 1. Serviço Social Aplicado
ENSAIO ETNOLÓGICO: O RESTAURANTE POPULAR MESA DO POVO
Willyan Mitterrand Belmino da Silva 1, 3, 2
Francisco Horácio da Silva Frota 1, 2
Ariadna Maria Monteiro Araújo 1, 3
Leonardo Moreira dos Santos 1, 3
Lidiane Vale Cordeiro 1, 3
Vivian Melina Bezerra Brito 1, 3
1. Universidade Estadual do Ceará - UECE
2. Núcleo de Pesquisas Sociais - NUPES
3. Curso de Serviço Social
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho visa conhecer a percepção dos usuários sobre a política pública de segurança alimentar. Para isso fizemos um estudo etnológico sobre o grupo social que se utiliza do Restaurante Popular Mesa do Povo no Bairro Parangaba, Fortaleza-CE. Focalizamos na descoberta das relações que se manifestam entre os membros do grupo social; na identificação do perfil do grupo social que se utiliza do restaurante; na reflexão da visão do grupo social sobre o projeto Restaurante Popular. O trabalho fundamenta-se nos seguintes referenciais: no conceito de cultura como formas simbólicas, segundo Thompsom (1995), que se manifestam através de um objeto, de uma expressão ou de uma ação e são produzidas dentro de um contexto histórico que possibilita ou não que o objeto do emissor seja igual ao do receptor. No conceito de trabalho e políticas públicas, Netto e Braz (2007), no qual o trabalho é entendido como uma atividade que materializa a existência humana, historicamente determinado e permeado por lutas e conflitos devido às relações econômicas e sociais que se manifestam no modo de produção capitalista, que em sua fase monopolista exige que o Estado intervenha nas expressões da questão social através de políticas públicas setoriais, tais como a política de segurança alimentar.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada foi a observação participante, em que fizemos uma etnografia, de acordo com o que propõe Malinowisk (s/d), ou seja, uma descrição densa dos fatos ocorridos no grupo social ligados a uma determinada temática. Como instrumento, utilizamos diários de campo onde descrevemos os diálogos informais com usuários e funcionários do restaurante. Realizamos dez visitas, com duração média de três horas cada, entre setembro e outubro de 2008, nas quais cada pesquisador vivenciava junto com os usuários todo o processo desde a fila de entrada até a saída do restaurante. Os pesquisadores se distribuíam nos vários espaços do restaurante a fim de coletar o máximo de informações possíveis. Escolhemos como temáticas principais para a observação: o ambiente físico, o idoso, as relações de cordialidade, a visão dos usuários e funcionários sobre o restaurante; e "os meninos de rua". Descrevemos fisicamente o restaurante; a trajetória feita pelos usuários; a sonoridade; e a forma como é servida e preparada a alimentação.
RESULTADOS:
Observamos que apesar de o público alvo do restaurante ser os trabalhadores a maioria dos frequentadores são idosos, que vão em busca tanto de uma alimentação adequada as suas necessidades nutricionais e financeiras quanto da socialização, já que a maioria mora ou passa parte do dia sozinho. Ao descrevermos as relações de cordialidade percebemos que a assiduidade dos usuários gera uma relação de proximidade com os funcionários. Entre os usuários surgem atitudes que são censuradas pelos funcionários, tais como: as brigas, as trocas de comida, etc., além disso, observamos as paqueras e a liberdade que eles têm de falar de sua vida com desconhecidos. Com relação a visão que os usuários e os funcionários têm do restaurante popular percebemos que a maioria dos usuários tem alguma teorização sobre a origem do projeto, mesmo que essa não tenha nenhum fundamento. Todos deram alguma sugestão ou fizeram alguma reclamação para melhorar o funcionamento do mesmo. Com relação aos "meninos de rua" percebemos que eles estão sempre por perto do restaurante e a presença deles incomoda a maioria dos usuários e alguns funcionários.
CONCLUSÃO:
Analisamos as relações jocosas que ocorriam na fila do restaurante entre os usuários, a qual interpretamos como uma convenção criada por eles para se aproximarem e estabelecerem intimidade com os que estão na fila, disfarçando assim o tédio causado pela demora na mesma. Outra convenção não institucionalizada que se tornou cotidiana foi o uso dado ao jardim: após as refeições, os usuários higienizavam a boca e cuspiam naquele espaço. Como o jardim não tinha plantas o grupo social atribuiu a este uma nova utilidade, ressaltamos que tal uso é devido às limitações físicas do banheiro. O grupo social desconhecia a política de segurança alimentar da qual era usuário, não sabendo quem mantinha o restaurante, não diferenciando o serviço público do privado, importando a todos apenas o preço e a qualidade da alimentação. Assim, o ensaio etnológico nos deu a possibilidade de entrar em contato com os usuários de uma política pública para assim podermos refletir sobre a realidade social em que estão inseridos, alargando o nosso conhecimento sobre a idéia de grupo social, suas especificidades e suas formas simbólicas. Deu-nos também uma compreensão inicial de como as políticas públicas se efetivam e como as mesmas se relacionam com as diversas manifestações da questão social.
Palavras-chave: Política de Segurança Alimentar, Restaurante Popular, Grupo Social.