62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
Critérios de noticiabilidade de jornalismo internacional no brasil
Hugo Dutra Bachega 1
Marcelo José Abreu Lopes 2
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCL (IC)
2. Prof. Mestre - Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCL (Orientador)
INTRODUÇÃO:
A dificuldade do jornalismo em acompanhar fatos que se desenvolvem por longos períodos há anos é tema de discussões na área da comunicação. A Guerra em Darfur, no Sudão, encaixa-se perfeitamente neste perfil. O conflito intensificou-se em 2003 quando rebeldes iniciaram ataques a alvos do governo, acusando-o de negligência. A resposta foi a repressão. Milícias árabes apoiadas pelo governo atacaram vilarejos não-árabes de Darfur no que a ONU considerou limpeza étnica. O orgão estima 300 mil mortos e 2 milhões de desalojados. Pouco se falou ou discutiu sobre Darfur na imprensa internacional e na brasileira. Por sete vezes, a ONG "Médicos Sem Fronteiras" avaliou Darfur uma das piores crises humanitárias e não divulgadas pela mídia. Entre fevereiro de 2003 e dezembro de 2004 viu-se o auge da crise em Darfur e às tentativas de paz. Este trabalho abrange este período, com pesquisa no acervo do jornal Folha de S.Paulo e estudo estatístico e qualitativo. A pesquisa identifica as notícias por levantamento bibliográfico e entrevistas com responsáveis pela editoria Mundo para estabelecer os critérios de seleção, a definição do que é considerado mais relevante e como a Folha traça a cobertura dos assuntos, traçando os Critérios de Noticiabilidade de Jornalismo Internacional no Brasil. 
METODOLOGIA:
O início dos estudos para este artigo deu-se por pesquisa bibliográfica, com um levantamento em livros, matérias e artigos científicos sobre os conhecimentos já existentes sobre o assunto. Como esta pesquisa teve como método de abordagem o caráter indutivo, já que partiu-se de uma observação particular para chegarmos a uma dedução geral, realizou-se levantamento no acervo do jornal Folha de S.Paulo, para chegar-se a uma análise documental e levantamentos estatísticos sobre o assunto abordado. Foram pesquisadas as matérias publicadas entre fevereiro de 2003 e dezembro de 2004 para traçar um panorama da cobertura, espaço e dedicação dados ao assunto. A partir desta pesquisa, agrupou-se as notícias por mês de publicação e por gênero - notas, reportagens ou matérias traduzidas. Verificou-se as fontes - jornais estrangeiros, agências de notícias ou material próprio - para identificar a dedicação ao assunto. Finalmente, após pesquisa teórica e documental, e com material já publicado por profissionais que seriam mencionados neste artigo, recolheu-se depoimentos de profissionais envolvidos na editoria Mundo do jornal para uma abordagem completa do trabalho realizado por eles e a visão que têm do produto final ofertado aos leitores, acrescentando credibilidade a este trabalho.
RESULTADOS:
A pesquisa destaca pontos recorrentes na editoria Mundo da Folha, que se aplicam aos principais jornais brasileiros. Argumentos como falta de espaço e de recursos são rotineiros nos discursos de profissionais sobre a qualidade e limitações do trabalho que fazem. O "incômodo" sobre o papel das agências nestas editorias também serve para discussões sobre o real papel destas seções nos jornais - a simples reprodução de despachos traduzidos, sem contexto ou continuidade na cobertura realmente contribuem para o entendimento do leitor? O trabalho foi além dos pontos conhecidos e abordou a criação de uma agenda própria de notícias do jornalismo brasileiro. A percepção do que é importante e essencial para o Brasil, sua sociedade e leitores, estão a orientar esta nova visão de mundo. Os avanços, contudo, não escondem a fragilidade e anemia da nossa cobertura internacional. O leitor não está habituado a encontrar reportagens analíticas e contextualizadas e a tendência de notícias curtas e rápidas parece predominar no cenário dos periódicos. Deve-se discutir o benefício de um emaranhado de pequenas notas que nada vão além do factual e não se comunicam entre si diante de um mundo imensamente complexo e interligado, onde a informação é bem cada vez mais poderosa e indispensável.
CONCLUSÃO:
A imensa quantidade de informações disponíveis fez com que fatos que antes não se tornariam notícias hoje fossem veiculados. Porém, o crescente poder tecnológico e poderio de informação não permitiram com que tudo que fosse importante se transformasse em conhecimento público e fosse noticiado. Nesta categoria, encaixa-se o conflito no Sudão. A predominância de pequenos grupos de mídia faz com que certos assuntos sejam relatados com maior intensidade, qualidade e frequência em detrimento de outros. Observa-se que a pauta internacional dos jornais brasileiros, a partir da Folha de S.Paulo, segue a pauta da grande imprensa mundial, apesar da tentativa de criar-se uma agenda própria. Neste trabalho pode-se concluir que sobre Darfur os critérios se basearam em conceitos que levaram em conta a distância, duração e falta de acesso, desinteresse pelo assunto na imprensa mundial, falta de espaço e recursos e à duvidosa justificativa de que tragédias humanitárias por si só não atraem a atenção do público. Conclui-se que os objetivos deste trabalho foram alcançados e espera-se que através deste estudo os erros cometidos na cobertura do Sudão não se repitam no noticiário de tragédias humanitárias, que devem ser sempre o foco de cobertura sistemática, continuada e contextualizada.
Instituição de Fomento: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa
Palavras-chave: jornalismo internacional, noticiabilidade, Darfur.