62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 6. História Moderna e Contemporânea
A ESTRATÉGIA DE NEGAÇÃO DOS CAMPOS DE EXTERMÍNIO NAZISTAS
Daniela Ferreira Felix 1
Luis Edmundo de Souza Moraes 1
1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho tem como objetivo verificar e analisar o discurso dos negadores do Holocausto quanto aos campos de concentração e extermínio de judeus na Alemanha de Hitler. Desde o fim da II Guerra Mundial algumas vozes aparecem com a intenção de pôr em dúvida ações cometidas contra judeus pelos nazistas. A partir da década de 1970 esse discurso se radicaliza, tomando o episódio das mortes em massa como algo "absurdo", pertencente ao "reino do inacreditável". Pretendem negar o passado e trazer para a memória coletiva uma política contra judeus em que estão ausentes os campos de extermínio e as câmaras de gás. Chamados pelos historiadores de negacionistas podem ser caracterizados como intelectuais de extrema-direita que, desprovidos de qualquer busca pelo conhecimento histórico e científico, tem como objetivo aliviar o fardo criminoso que pesa sobre a política excludente de Hitler. A internet encontra-se como a atual ferramenta para a difusão de suas idéias. Esta pesquisa pretende ampliar o estudo referente aos negacionistas, uma vez que trata-se de um tema pouco trabalhado no Brasil.
METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho foi primeiramente importante um amplo levantamento de fontes negacionistas. Através disto foi possível percebermos o núcleo negacionista brasileiro e de que forma ele se articula com o negacionismo europeu e norte-americano. Neste trabalho destacamos como o cotidiano dos prisioneiros judeus pelos campos de extermínio e o uso de instrumentos letais como as câmaras de gás são abordados pelos negacionistas. Para tal operação, separamos para analise três textos negacionistas. São eles o do francês Robert Faurisson ,"Os fatos e a Lenda", o do ex-SS Thies Christophersen em "La mentira de Auschwitz" e o do inglês Richard Harwood em "Seis milhões realmente morreram?". Utilizamos um método comparativo entre esses autores, demonstrando em quais pontos do discurso eles se separam e em quais pontos se aproximam. Esses três negacionistas são significativos do ponto de vista da abordagem que fazem das condições de vida nos campos nazistas e da negação dos seis milhões de mortos. A pesquisa também esteve amparada em trabalhos de teoria da história, a fim de distinguirmos escritos negacionistas e trabalho historiográfico.
RESULTADOS:
Ao fazermos uma análise dessas três fontes foi possível examinarmos a estratégia negacionista de argumentação e verificar quais elementos mais se fazem presentes em sua escrita. Primeiramente, damos destaque à ênfase dada ao numero de judeus mortos pelo regime nazista. Todos os três autores negam a morte em massa, admitindo como número máximo 2.000 mortos. Harwood trata como inconcebível o número dos seis milhões e em Christophersen encontramos um relato dos campos de extermínio impregnado de fantasia, em que os prisioneiros são bem tratados, trazendo uma versão dos campos como um bom lugar para se viver. Faurisson atribui a morte nos campos a causas naturais como o frio e a fome. Os negacionistas exploram a ideia de um espaço de confinamento ausente de câmaras de gás e intenção de morte de judeus. Toda prova de gaseificação é escondida a fim de que não sejam invalidados seus argumentos. A tentativa deste grupo é negar a história através de uma escrita falseada do passado, camuflando qualquer evidencia do genocídio durante a Guerra. Pretendem se colocar como historiadores, mas não obedecem aos métodos de pesquisa em História.
CONCLUSÃO:
Hoje assistimos a um crescimento considerável do movimento negacionista e das declarações que negam o genocídio de judeus. Dois casos significativos são o do bispo inglês Richard Williamson, que no início de 2009 declarou a uma TV sueca que o Holocausto não havia existido, assim como as câmaras de gás durante a Guerra. E outro caso mais recente que ganhou projeção na mídia foram as declarações do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad. As barreiras sociais que se instalaram após a II Guerra Mundial ao nacional-socialismo, são "derrubadas" pelos negacionistas em sua literatura pseudo-científica e ainda dentro desta linha argumentativa encontra-se uma tentativa de justificar as ações nazistas no momento de guerra. É importante que os historiadores se debrucem sobre esse tema e não deixem que a memória dos sobreviventes dos campos nazistas seja esquecida e silenciada. Nossa tarefa é compreender a forma como os negacionistas propõem a "revisão" da História dos judeus durante o Terceiro Reich e concebê-los como um grupo que partilha de ideais que o mundo não precisa reviver.
Palavras-chave: Negacionismo, Judeus, Holocausto.