62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 5. Enfermagem Pediátrica
O ALEITAMENTO MATERNO NA PERSPECTIVA DA ESTUDANTE UNIVERSITÁRIA
Karina Viana Ribeiro 1
Benedita Maria Rêgo Deusdará Rodrigues 1
Patrícia Lima Pereira Peres 1
1. Depto. de Enfermagem Materno-Infantil - Faculdade de Enfermagem/UERJ.
INTRODUÇÃO:

A experiência docente e discente numa faculdade em que predomina acadêmicos do sexo feminino tem nos despertado para uma importante questão no campo da saúde e dos direitos humanos e sociais, que é a licença maternidade a estudante gestante, prevista desde 1975, pela lei 6.202/75. Muitas vezes, as estudantes gestantes, por desconhecimento da lei, acabam trancando a faculdade. Uma questão que nos inquieta é como esse assunto tem sido tratado entre professores, alunos e coordenadores de graduação. Algumas coordenações solicitam ao aluno que comunique ao professor o seu afastamento para que, então, este decida o tipo de condução. No entanto, a estudante tem direito, garantido por lei, a usufruir 120 dias ininterruptos, sem a obrigatoriedade de comparecer a IES para realizar provas ou aulas práticas, que deverão ser garantidas no seu retorno. Por desconhecimento, essas estudantes se vêem obrigadas a optar por continuar os estudos, introduzindo a fórmula láctea precocemente, ou por interromper os estudos para amamentar. Neste sentido, o objeto deste estudo é o aleitamento materno na prática cotidiana da estudante de nível superior e o objetivo caracteriza-se por captar as experiências vivenciadas pela estudante com o aleitamento materno durante a realização do curso de graduação.

METODOLOGIA:

Estudo de natureza qualitativa, com enfoque na fenomenologia sociológica de Alfred Schutz, por possibilitar captar o vivido das estudantes universitárias em amamentação como um típico. Para HUSSERL apud CAPALBO (1979): A investigação fenomenológica consiste na descrição do que é dado imediatamente na consciência como vivência, isto é, como presencialidade vivida. Os conteúdos da consciência vivente e atual são os fenômenos, cuja descrição exata constitui precisamente o objeto da Fenomenologia. A entrevista fenomenológica foi a técnica utilizada para a captação das entrevistas com as seguintes questões orientadoras: Como foi para você a experiência com a amamentação durante a graduação? - para aquelas que já amamentaram ou Qual a sua expectativa com a amamentação do seu filho durante o curso de graduação? - para as gestantes e/ou nutrizes. Os sujeitos foram estudantes de graduação de uma Faculdade de Formação de Professores de uma Universidade pública no estado do Rio de Janeiro que vivenciaram ou vivenciam a gestação e/ou a amamentação durante o curso de graduação. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa/SR-2/UERJ, com protocolo nº. 012.3.2009. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi lido e assinado em duas vias, ficando uma com a estudante entrevistada e outra com a pesquisadora.

RESULTADOS:

Após a obtenção e transcrição das entrevistas, procedeu-se a leitura criteriosa, buscando captar os aspectos afins da ação de amamentar durante o curso de graduação. A partir disso, surgiram as seguintes categorias, que remetem para o vivido dessas estudantes em amamentação: 1. Amamentar implica dificuldades para estudar - "Foi um pouquinho só complicado porque tem que amamentar, estudar... você tá estudando, aí dá a hora de dar de mamar, aí tem que parar, aí atrapalha um pouco." ( Kelly); 2. Amamentar requer lançar mão de estratégias para continuar estudando e amamentando - "Quando eu vinha pra faculdade, ele vinha comigo e quando eu tinha que ficar mais tempo na faculdade, ele ficava com a minha mãe... Eu tirava o leite, deixava em casa pra ele poder tomar." (Ana); 3. Amamentar precisa de apoio - "Graças a Deus, eu tive o apoio da minha mãe." (Maria). Através do estudo, apreende-se que a maioria das estudantes de graduação tem dificuldades em conciliar a amamentação com o estudo, recorrendo a estratégias, como levar o filho à faculdade e realizar a ordenha para garantir a amamentação enquanto está fora de casa. Percebe-se também que essas estudantes tiveram uma rede de apoio, o que favorece a permanência na faculdade.

CONCLUSÃO:

O estudo nos possibilitou captar as experiências vivenciadas pela estudante com o aleitamento materno, mostrando-nos que elas têm dificuldades em conciliar os estudos com a amamentação, que elas recorrem a algumas estratégias para dar conta de ser mãe e estudante, e que o apoio é fundamental para a permanência na faculdade. Ressaltamos que não só o apoio familiar, como também o da instituição de saúde e de ensino, são muito importantes nesse processo. Uma outra situação percebida é que ainda há o descumprimento da lei nº 6.202 de 17 de abril de 1975, o que cria mais dificuldades para essas estudantes. É necessária uma maior divulgação e discussão desta lei, visto que é desconhecida pela maioria dos alunos. Estes, se não souberem, não terão como reivindicar seus direitos. Nesse sentido, o cumprimento da lei da estudante gestante é fundamental tanto para o sucesso da amamentação e, portanto, para a saúde da criança, quanto para a estudante, que poderá concluir os estudos, sem prejuízos e amparada legalmente. Entretanto, cabe destacar a necessidade das instituições responsáveis pela formação profissional promoverem, através dos docentes e discentes, amplo debate que torne público as leis de proteção à mulher, e dentre elas, a que garante o direito a amamentação durante a realização do seu curso de graduação. Assim, o estudo é relevante por possibilitar a compreensão acerca do fenômeno amamentar no cotidiano da estudante e, a partir dele, discutir leis de proteção a essa população, bem como redirecionar a prática profissional de saúde, visando à integralidade da assistência.

Instituição de Fomento: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras-chave: aleitamento materno, legislação, pesquisa qualitativa.