62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
DISCURSO, CONTROLE E PODER: REMODELAÇÕES DO SUJEITO NA MÍDIA
Júnia Cristina Ortiz Matos 1
Nilton Milanez 1
1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem como objetivo estudar as transformações do sujeito na mídia televisiva brasileira, a partir do estudo das técnicas corporais em meio a ferramentas utilizadas neste processo. Para tanto, analisamos o programa Ídolos, atualmente veiculado pela Rede Record, e o programa Fama, que teve sua última edição transmitida pela TV Globo e pela Multishow em 2005. Os dois tinham como intuito revelar novos talentos para o cenário da música nacional. Buscamos compreender a constituição dos sujeitos na mídia e os dispositivos de poder que compõem a construção dos corpos, utilizando como ferramenta os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso francesa, fundamentada nos postulados de Michel Foucault. Buscamos compreender o papel da mídia na produção e circulação de sentidos no que diz respeito aos discursos criados acerca do que significa ser "célebre"/famoso, um ídolo no estilo pop e, ainda, analisar como se dá a proliferação destes discursos. Por meio desta transformação dos sujeitos, discutimos o processo discursivo de construção de identidades na mídia. O corpo é, então, tomado como objeto discursivo central na construção dos sentidos e é evidenciado como receptor e transmissor dos discursos. É, neste caso, a unidade de socialização, competição e poder.

METODOLOGIA:

Para o desenvolvimento desta análise, tomamos como corpus dois reality show's veiculados na televisão brasileira, o Fama e o Ídolos. O programa "Ídolos" teve sua última temporada veiculada na Rede Record, de Agosto a Dezembro de 2009, as terças e quartas-feiras, às 23h. Já o Fama era produto da empresa holandesa Endemol e inspirado em "Operación Triunfo", programa da televisão espanhola. Fama teve quatro edições no Brasil, a primeira foi transmitida em 2002. Buscamos entender os efeitos de sentido produzidos pela mídia televisiva, materializados nas práticas discursivas que constroem representações nacionais, cujas identidades tornam-se expostas a influências externas, em decorrência da globalização. Analisamos, também, o papel da mídia na circulação destes sentidos, no que diz respeito aos discursos que são criados acerca do que significa ser um "ídolo" no estilo 'pop'. Entendendo que a produção de discursos na sociedade não acontece de forma aleatória, mas de maneira "controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos" (Foucault, 2004, p.9), discutimos os procedimentos de construção de sentidos na mídia, bem como os mecanismos de controle que embasam essa produção.

RESULTADOS:

Por meio desta transformação dos sujeitos, discutimos o processo discursivo de construção de identidades na mídia. Buscamos no conceito de globalização entender o fenômeno da homogeinização cultural, elemento que pode ser identificado e expresso no meio musical midiático. É possível notarmos claramente os efeitos produzidos pela globalização dentro de nossos objetos de estudo. O programa "Ídolos", por exemplo, originou-se a partir da franquia Idols que, por sua vez surgiu do sucesso do reality show britânico Pop Idol. Atualmente, o formato é sucesso em mais de 40 países, os programas veiculados nas mais diversas localidades seguem o mesmo padrão. Partindo do pressuposto de que o discurso sobre o cantor se constitui sobre bases já pré-existentes, retomamos algumas memórias a fim de demonstrar que estes se revelam como discursos já ditos. Por outro lado, o empenho dos candidatos em seguir as instruções dos profissionais e dos jurados para o aperfeiçoamento de suas habilidades é uma ferramenta que, para o telespectador comum, funciona como critério de seleção, o que para nós, possibilita a construção, agora, não somente de subjetividades e identidades, mas de corpos marcados por interdições e coações sofridas pelo sujeito.

CONCLUSÃO:

A análise destes reality show's nos permitiu observar a televisão como um espaço de circulação de imagens e produção de subjetividades, a partir da forma como os sujeitos se constituem e como são colocados em posições na rede discursiva. Entendemos estes programas como lugares de remodelação do sujeito, os mecanismos e funcionamentos que integram essa construção evidenciam que o sujeito se compõe de várias camadas, e não somente de uma unidade, por meio de saberes e relações de poder. Programas como o Fama e o Ídolos funcionam como uma espécie de laboratório, onde são criados discursos em relação ao que significa ser um bom cantor, célebre e visível. Dessa forma, ao mesmo tempo em que o sujeito cantor se constitui, ele é também colocado em posições que permitem certo controle sobre suas condutas e comportamentos, em meio a complexas relações de poder. Tais descrições sobre os programas e os processos que os envolvem nos contam, assim, que as subjetividades são posições em movimentos, determinadas historicamente, produzindo, sim, não somente reproduções do mesmo, mas também um lugar de invenção para o sujeito.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Controle, Discurso , Mídia .