62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
MANIFESTAÇÕES DE VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR: O OLHAR DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Elisama Nascimento Rocha 1
Alba Benemérita Alves Vilela 1
Maristella Santos Nascimento 1
Roberta Laíse Gomes Leite Morais 2
Vanda Palmarella Rodrigues 1
Vilara Maria Mesquita Mendes Pires 1
1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2. Hospital Geral Prado Valadares
INTRODUÇÃO:
A violência, em si, não é um tema da área de saúde, mas a afeta porque acarreta lesões, traumas e mortes físicas (MINAYO, 2006). Nesse contexto encontra-se a violência intrafamiliar que atinge parcela importante da população e repercute de forma significativa sobre a saúde das pessoas a ela submetidas, configurando um problema de saúde pública relevante e um desafio para os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS). Sob a ótica do Ministério da Saúde, a violência intrafamiliar engloba qualquer tipo de relação de abuso praticado no contexto privado da família contra qualquer um dos seus membros, podendo se manifestar de várias formas e com diferentes graus de severidade. Trata-se de um problema social de grande dimensão que afeta toda a sociedade, em especial as mulheres, as crianças, os adolescentes, os idosos e os portadores de deficiência (BRASIL, 2001). Desse modo, constitui objetivo desse estudo averiguar os tipos de violência intrafamiliar que ocorrem no cotidiano das Unidades de Saúde da Família (USF) do município de Jequié - BA. Pretendemos contribuir para promover reflexões da prática dos profissionais de saúde das USF na identificação e implementação de estratégias de intervenção, mediante as situações de violência intrafamiliar.
METODOLOGIA:
Pesquisa de natureza qualitativa, que teve como cenário três USF do município de Jequié-BA, localizadas em áreas periféricas, com vários problemas estruturais, sociais, culturais com evidência de conflitos cotidianos que geram quadros de violência. Foram entrevistados 25 sujeitos integrantes das equipes de saúde da família, dentre estes, enfermeiras, técnicas de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - CEP/UESB sob protocolo nº 055/2009, foram realizadas oficinas com os profissionais, no período de outubro a novembro de 2009 para a coleta dos dados. Os dados foram coletados individualmente por meio de entrevista semi-estruturada, com apoio de um gravador, com assinatura prévia dos sujeitos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contemplando a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Como técnica de análise dos dados foi utilizada a análise de discurso, segundo Fiorin, que consiste no estudo dos elementos discursivos na perspectiva de inferir a visão de mundo dos sujeitos.
RESULTADOS:
Evidenciamos a categoria empírica: manifestações da violência no contexto familiar associado aos determinantes sociais, e respectivas subcategorias, a saber: o uso de álcool e outras drogas e o contexto social desestruturado como causa da violência intrafamiliar; violência contra crianças e adolescentes evidenciada pela negligência dos pais aos cuidados básicos, agressão física, psicológica e sexual aliada à falta de apoio de órgãos competentes; violência física e psicológica contra a mulher pelo cônjuge, envolvendo ciúme, isolamento social, associada à falta de apoio de órgãos competentes; violência contra idoso provocada pelos familiares cuidadores em co-residência negando a autonomia e independência do idoso; mulher deficiente física no contexto de vulnerabilidade à violência sexual. Os discursos desvelaram relações de abuso praticados no contexto privado da família contra crianças, adolescentes, mulheres, deficientes físicos e idosos, com destaque ao homem adulto como autor mais frequente dos abusos físicos e/ou sexuais sobre meninas e mulheres. Por outro lado, o abuso físico e a própria negligência às crianças são, muitas vezes cometidos pelas mães, e no caso dos idosos, por seus cuidadores (BRASIL, 2001), em geral relacionados aos determinantes sociais em saúde.
CONCLUSÃO:
A violência intrafamiliar no contexto das USF atinge grupos vulneráveis como crianças, adolescentes, mulheres, deficientes físicos e idosos, relacionados aos fatores estruturais, socioeconômicos e psicoculturais, que influenciam a conduta dos indivíduos e grupos sociais, além de gerar conflitos nas relações familiares, uso de álcool e outras drogas, agravada pela falta de apoio de órgãos competentes para lidarem com essa problemática. Os profissionais de saúde estão em uma posição estratégica para detectar riscos e identificar as possíveis vítimas de violência intrafamiliar, pois, com frequência, são os primeiros a serem informados sobre episódios de violência, o que pode estar mascarado por outros sintomas, na tentativa de esconder o episódio de violência, exigindo destes a promoção do cuidado integral e uma escuta sensível voltadas a estas questões. Nesse sentido, a equipe de saúde deve estar capacitada para orientar e dar suporte às pessoas vítimas de violência, ajudando-as a compreenderem, analisarem e tomarem as decisões pertinentes à problemática. Esse suporte deve agregar a rede de serviços especializados das áreas de saúde, social, de segurança e justiça e da comunidade envolvendo as associações de moradores, os grupos de mulheres, os grupos religiosos, dentre outros.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB.
Palavras-chave: Violência, violência na família , saúde da família.