62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 3. Citologia e Biologia Celular
SUBTIPOS DE IONÓCITOS DO EPITÉLIO BRANQUIAL DE EMBRIÕES, LARVAS E ALEVINOS DE Poecilia vivipara (CYPRINODONTIFORMES, POECILIIDAE)
Thiago Lopes Rocha 1
Ana Paula Rezende dos Santos 1
Adriana Maria Antunes 1
José de Souza Filho 1
Joana Cristina Neves de Menezes Faria 1
Simone Maria Teixeira de Sabóia-Morais 1
1. Departamento de Morfologia, ICB / UFG, Goiânia-GO 74001-970, Brasil.
INTRODUÇÃO:
Os peixes eurialinos, durante as variações dos gradientes osmóticos e iônicos do ambiente aquático, necessitam de mecanismos ion/osmorregulatórios para manutenção da homeostase celular, tecidual e dos flúidos corpóreos. Esses mecanismos permitem a manutenção do funcionamento normal dos processos bioquímicos e fisiológicos dos teleósteos, e as mudanças da capacidade osmorregulatória ao longo da ontogênese possibilita o desenvolvimento adequado para a sobrevivência nos diferentes hábitats. A ion/osmorregulação de adultos e de juvenis de teleósteos tem sido grandemente investigada. Entretanto, estão disponíveis poucas informações sobre a cito-fisiologia osmorregulatória de larvas e embriões de peixes, principalmente estudos comparativos entre as espécies de fecundação externa e aquelas com fecundação interna. Nesse sentido, pretendeu-se no presente trabalho conhecer e analisar a ontogênese dos mecanismos osmorregulatórios de peixes eurialinos com fecundação interna por meio da identificação e classificação dos subtipos de ionócitos nas brânquias e pseudobrânquias do P. vivipara nos estágios de embrião, larva e alevino aclimatado à diferentes salinidades.
METODOLOGIA:
Fêmeas adultas de P. vivipara foram coletadas em tanques da UFG (16o 35' 37"S e 49o 16' 50" W) e transferidas para o Laboratório de Comportamento Celular (LCC - ICB/UFG). Em seguida, os espécimes foram aclimatados por 96 horas. Os parâmetros físico-químicos da água foram monitorados de acordo com as exigência da espécie. Após o nascimento, os alevinos foram coletados e expostos a diferentes salinidades (0 ?, 5 ?, 10 ?, 15 ? e 20 ?), por um período total de 2 horas, e cinco animais por tratamento. Para reconstituição da salinidade, utilizou-se sal marinho comercial (Coralife - USA). Após o nascimento dos alevinos, as fêmeas foram eutanisadas por decaptação, e coletaram-se cinco indivíduos para cada fase inicial do desenvolvimento (Fase 3 ou embrião e Fase 4 ou larva). Em seguida, parte do material biológico foi fixada em Karnovsky, inclusa em historesina, seccionada e corada com Azul de Toluidina 1% pH 8,4; e a outra fixada em ZIO (SCHREIBER & SPECTER, 1999), inclusa em parafina, seccionadas e coradas com Alcian Blue pH 2,5. As análises foram feitas no microscópico fotônico (LEICA DMLB - USA) acoplado ao sistema de captura de imagens, utilizando-se a objetiva de 40X, e pelo programa Image Pro-Plus 6.0.
RESULTADOS:
O epitélio interlamelar das holobrânquias dos embriões, larvas e alevinos de P. vivipara possui dois subtipos de ionócitos, também denominados de Células Ricas em Mitocôndrias (CRMs). Observou-se o subtipo de CRMs com a superfície apical lisa e com ausência de óstio (subtipo 1), e o subtipo celular caracterizado por uma cavidade na superfície apical, especialização de membrana apical denominada de óstio (subtipo 2). Subpopulações de ionócitos também foram descritos para outros peixes, sendo que a variação de salinidade promove mudanças na morfologia, distribuição, quantidade e composição molecular das CRMs. Além disso, verificou-se que a pseudobrânquia glandular do guaru possui apenas o subtipo 1 das CRMs. A técnica do ZIO permitiu confirmar que a pseudobrânquia gladular é composta por CRMs. Isso porque, o ZIO marca regiões celulares ricas em biomembranas, em especial as mitocôndrias. As CRMs da pseudobrânquia glandular do P. vivipara apresentaram marcação com o ZIO mais intensa do que as CRMs das holobrânquias. Entretanto, sugere-se que o estado cito-fisiológico desses tipos celulares sejam investigados com mais detalhes através da microscopia eletrônica de transmissão tradicional, citoquímica ultraestrutural e imunocitoquímica.
CONCLUSÃO:
O P. vivipara possui dois subtipos de ionócitos distribuídos ao longo do epitélio intelamelar, desde a base até o ápice dos filamentos das holobrânquias. A principal diferença entre as CRMs foi a organização da membrana apical, a qual no subtipo 1 das CRMs encontra-se lisa e no subtipo 2 é especializada em óstio. Ambos os subtipos de ionócitos foram identificados desde o início da ontogênese branquial, nos embriões, Fase 2 do desenvolvimento. A identificação e caracterização dos ionócitos no P. vivipara, uma espécie biomonitora da poluição do ecosssistema aquático, contribuirá para estudos posteriores de utilização dos ionócitos branquiais do guaru em programas de biomonitoramento ambiental e melhor conhecimento da ontogênese osmoregulatória de espécies com fecundação interna.
Instituição de Fomento: PIBIC CNPq / UFG.
Palavras-chave: Brânquias, células do cloro, guaru.