Portunus spinicarpus (Sthimpson,1871), conhecido como "siri do mar grosso", distribui-se desde a Carolina do Norte (EUA) até Rio Grande do Sul (Brasil), habitando desde águas rasas até 550m (MELO, 1996) e não apresenta sazonalidade evidente, sendo constante durante o ano (GARCIA & MENDOZA, 2006).

A alimentação dos braquiúros possui um grande valor, uma vez que a disponibilidade e o uso do alimento exercem um importante papel em sua distribuição, migração e reprodução (LAUGHLIN, 1982; HINES & RUIZ, 1995).

Os estudos da dieta dos portunidae permitem obter informações importantes de sua participação na rede trófica nos sistemas aquáticos, e nas relações existentes entre as espécies. Decápodos trituram seu alimento antes de ingeri-lo, e raramente ingerem suas presas inteira. Dessa forma, dificultam a identificação, a quantificação dos itens alimentares presentes em seus estômagos (WILLIAMS, 1981; STEVENS et al. 1982 & HAEFNER, Jr. 1990), além de acarretar o risco de superestimar um componente alimentar por ser mais resistente a trituração (GURRIARAM, 1978).

            Apesar de sua alta abundância no oceano Atlântico (GARCÍA-MONTES  et al., 1988; PONTES et al., 1990, BERTINI & FRANSOZO, 2004), não existem informações disponíveis sobre a dieta natural de P. spinicarpus no litoral brasileiro.

Os arrastos foram realizados no verão (03/2006, 03/2007 e 03/2008) e inverno (08/2006), em cinco radiais (Itacaré, Ponta do Ramo, Ilhéus, Comandatuba e Canavieiras). Os indivíduos tiveram seus sexos determinados e o estômago retirado para análise.

Para a classificação foram considerados quatro estágios de repleção estomacal: vazio (V 0-25%), parcialmente preenchido (PP 25-50%), quase cheio (QC 50-75%) e cheio (C 75-100%).  Para análise do conteúdo estomacal foram utilizados apenas os estômagos quase cheios ou cheios. A análise quantitativa dos itens alimentares foi baseada em categorias tróficas (grandes grupos taxonômicos) considerando-se os métodos de freqüência relativa de pontos (FP) (WILLIAMS, 1981) modificado por MANTELATTO & CHRISTOFOLETTI (2001), e o de freqüência de ocorrência (FO) - que corresponde à freqüência percentual de número de estômagos onde ocorre determinado item alimentar em relação ao número total de estômagos com alimento (WILLIAMS, 1981). Os itens que não podem ser identificados, devido ao elevado grau de digestão, estão sendo considerados como matéria orgânica digerida (MOD).

Foram analisados 845 estômagos (321 fêmeas e 524 machos). Destes, 281 (33.3%) estavam vazios e 564 (66,7%) apresentavam algum conteúdo. Dos machos analisados, 164 (31,3%) estavam com o estômago vazio, 223 (42,6%) PP, 94 (17,9%) QC e 43 (8,2%) C. Das fêmeas examinadas 117 (36,4%) estavam com o estômago vazio, 146 (45,5%) PP, 42 (13,1%) QC e 16 (5%) C. O grupo Crustacea destaca-se como elemento básico na dieta de P. spinicarpus, contribuindo com 33,6% em FO e 38,5% em FP. Resultados similares foram obtidos para espécie da mesma família - C. ornatus, em Ilhéus (SOUZA et al. 2007).  A categoria MOD (FO=33,4% e FP=37,4%) aparece como recurso secundário. Segundo Dall & Moriarty (1983) esse recurso pode estar indicando alta freqüência de alimentação e rápidos processos de desgaste e maceração da presa. Menos freqüentes foram Mollusca (FO= 19,1% e FP=15,3%) e Echinodermata (FO=1,9% FP= 4,1%), Proctotista (Foraminiferida) (FO=1,9% e FP=1,1%), Osteichthyes (FO=1,7% e FP=1,7) e Porifera (FO= 1,1% e FO=0,4%). Verificaram-se os mesmos componentes alimentares tanto para machos, como para fêmeas. O item Crustacea foi o principal (36,5% para machos e 43,2% para fêmeas), indicando uma preferência alimentar bastante similar, que pode está relacionado a ambos os sexos ocuparem o mesmo habitat.

Com base nos resultados obtidos, pode-se verificar que Portunus spinicarpus é predominantemente carcinófago. Não foi encontrada diferença expressiva na participação dos itens alimentares na dieta entre os sexos.