62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
ARTESANATO DE RABECAS: DIVERSIDADE DE MADEIRAS, SONORIDADE E MÚSICA DE RABEQUEIROS
Emerson Carpegianne de Souza Martins 1
Agostinho Jorge de Lima 1, 2
1. Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte / EMUFRN
2. Orientador: Prof. Dr.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é parte de um amplo estudo sobre os diversos aspectos da cultura musical de rabequeiros na zona rural e urbana, no Rio Grande do Norte. Pesquisa-se o artesanato de rabecas em ambientes onde há uma diversidade maior de madeiras, o artesanato de rabecas onde há a escassez de madeiras adequadas e as implicações disso na qualidade sonora dos instrumentos. Há dois procedimentos de artesanato de rabeca: a confecção de rabecas para tocadores, que requer o uso de madeiras adequadas; e as rabecas construídas com madeira menos adequadas e vendidas para pessoas que não tocam. Busca-se catalogar as madeiras utilizadas na confecção da rabeca, em suas diversas partes, e registrar o processo de construção de rabeca, da coleta da madeira ao toque do instrumento e descrever e analisar aspectos de sonoridade nas rabecas feitas com madeiras mais apropriadas ou com materiais inusuais. Esse é primeiro estudo realizado no Nordeste acerca do artesanato de rabecas e suas implicações na prática musical de rabequeiros. Visto que as técnicas de artesanato de instrumentos e os materiais utilizados incidem diretamente sobre a música, o estudo do artesanato de rabecas traz elementos para a compreensão da práxis musical de rabequeiros na atualidade.
METODOLOGIA:
A partir de um mapeamento verificou-se que existem poucos artesãos e que apenas quatro mantêm alguma atividade. No primeiro contato com eles conversou-se informalmente sobre artesanato e música e, posteriormente, fez-se entrevistas utilizando um esboço semi-estruturado. Buscou-se averiguar concepções e procedimentos acerca do artesanato de rabeca; materiais usados, processo de artesanato e suas idéias acerca da continuidade e mudanças no artesanato de rabeca. Quatro artesãos foram pesquisados: Seu Manoel Martins dos Santos e Seu José Ferreira do interior e Janildo Dantas do Nascimento e Damião da Silva na área metropolitana de Natal. As oficinas de três artesãos ficam em suas residências, apenas Janildo Dantas tem uma oficina denominada, "Casa da rabeca" localizada na cidade alta. Nesses ambientes foram feitos registros em áudio das entrevistas; fotografou-se os artesãos, madeiras, rabeca construídas ou em estado de confecção, ferramentas utilizadas no artesanato e se filmou eles no trabalho de confecção de rabecas.
RESULTADOS:
Constatou-se que na zona rural há uma escassez das madeiras que eram tradicionalmente utilizadas na confecção de rabecas e que davam aos instrumentos certas especificidades sonoras que passaram a fazer parte da estética sonoro da música de rabequeiros. Atualmente os artesãos da zona rural são obrigados a usar madeiras pouco adequadas para a construção de rabeca. Constatou-se que as rabecas feitas com essas madeiras têm o timbre opaco, menos volume sonoro, pouca emissão de harmônicos e pouco contraste entre região aguda e grave. O contrário se observa nas rabecas mais antigas feitas com madeiras mais apropriadas. A diminuição rabequeiros no interior incide sobre a manutenção da qualidade sonora das rabecas, visto que sem a avaliação crítica desses músicos, tocando e experimentando, os artesãos não têm parâmetros para avaliar as especificidades sonoras dos instrumentos construídos por eles. Na urbanidade, com a recente penetração das músicas de tradição oral em segmentos da classe média, aumenta o interesse pela compra de rabecas. Mas, em sua maioria, as pessoas que compram rabecas não têm interesse em tocá-las, por isso compram rabecas visualmente bonitas, mas de sonoridade discutível. Tem-se um aumento de venda de rabecas, mas uma relativa perda de qualidade sonora.
CONCLUSÃO:
A diminuição da quantidade de rabequeiros no interior desestimula o artesanato de rabecas. E isso afeta o processo histórico de experimentação e aperfeiçoamento do instrumento, mantendo a tradição com as devidas mudanças. Na urbanidade o artesanato de rabeca fornece instrumentos a três segmentos: instrumentistas que estão se interessando em tocar a rabeca; alunos de um projeto de ensino da rabeca na comunidade de Felipe Camarão, zona leste de Natal, e pessoas que não são instrumentistas. O consumo da rabeca por instrumentistas e aprendizes tem estimulado os artesãos a construir rabecas com boa qualidade sonora. Isso é importante para a manutenção da tradição do artesanato da rabeca. De outra parte, o consumo de rabeca por pessoas que não são instrumentistas mantém financeiramente os artesãos e, indiretamente, ajuda a aumentar o público para a música de rabequeiros. O aumento do público estimula a formação de novos rabequeiros e, com isso, os artesãos tornam a confeccionar rabecas buscando obter uma boa qualidade sonora e, também, uma boa aparência visual.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte / UFRN
Palavras-chave: Rabeca, Artesanato, Música de rabeca.