62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
HERMENÊUTICA E TRADIÇÃO: A ONTOLOGIA LÚDICA DA ARTE E SUA ATUALIDADE HISTÓRICA EM GADAMER
Luciana Cantanhêde Melo 1
Almir Ferreira da Silva Júnior 2
1. Universidade Federal do Maranhão/UFMA
2. Prof. Dr. Orientador, Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão/UFMA
INTRODUÇÃO:
A partir das categorias da Ontologia Lúdica de Gadamer que recolocam na problemática hermenêutica da compreensão a discussão sobre a relação arte e verdade, buscou-se compreender o caráter paradigmático conferido à experiência estética como uma declaração de verdade ontológica (Alétheia) e de atualidade (Gegenwartigkeit) histórica. A experiência da arte, sob esse impulso crítico desconstrói o discurso sobre a noção de consciência estética moderna. Para tanto, tornam-se necessários os fundamentos hermenêutico-filosóficos: a crítica à modernidade, a vigilância da história (Wirkungsgeschichte) e o médium da linguagem. É sob a valência ontológica da finitude que o modo de ser da arte revela-se como experiência, cuja presença nos remete à intermediação, ao apelo à memória e à escuta à tradição (Überlieferung).Por conseguinte, em nossa pesquisa buscou-se analisar, a partir do pensamento de Gadamer, a compreensão sobre o caráter de atualidade da arte, considerando sua crítica ao saber moderno e a proposta de uma ontologia-hermenêutica lúdica e histórica da arte.
METODOLOGIA:
O desenvolvimento da pesquisa será realizado a partir da interpretação, discussão e análises filosóficas de textos. Logo o método a ser utilizado é o hermenêutico. Tem-se como foco de análise bibliográfica, sobretudo, dois textos: Verdade e Método (Wahreit und Methode, 1960), sua obra primordial e clássica, e Atualidade do Belo: a arte como jogo, símbolo e festa (Die Aktualität des Schönen. Kunst als Spiel, Symbol und Fest, 1974).
RESULTADOS:
Na interface arte e verdade, buscamos fundar a experiência estética como um acontecimento que possui a estrutura da experiência hermenêutica. De início dimensionamos que, a relação arte-verdade no pensamento de Gadamer, busca seus alicerces na ontologia lúdica. Por sua vez, a ontologia lúdica firma sua significância na pertença das categorias de jogo (Spiel), símbolo (Symbol) e festa (Fest) que reavivam a experiência estética enquanto experiência de sentido, isto é, ontológica (jogo); como discurso e/ou declaração (símbolo); e como compreensão temporal (festa). A pertença dessas categorias nos levou ao resgate das peculiaridades da obra de arte, quais sejam: que a arte se mantém como declaração atualizada e que isso pressupõe uma espécie de superioridade sobre o tempo (Zeitüberlegenheit). O caráter de linguagem da experiência hermenêutica referencia a tradição como um interlocutor que envia sua fala de longe e compõe a conjuntura da palavra situada historicamente no horizonte hermenêutico sempre à vista e compartilhado pelos homens. A tradição fala do ponto de vista da alteridade, ela tem algo a nos dizer. Esse auter que vem ao nosso encontro é, em todo caso, histórico.
CONCLUSÃO:
A presente investigação, ao desenvolver os questionamentos sobre a essência da arte, sobre a estrutura da experiência hermenêutica e ainda, sobre as categorias da história efeitual (Wirkungsgeschichte) e caráter de linguagem (Sprachlichkeit), deparou-se com a seguinte determinação: a obra de arte salvaguarda a abertura que acessa a efetualidade e a lingüisticidade de uma situação hermenêutica, em meio à fusão de horizontes de compreensão que a tradição positiva. Isto quer dizer que a dinâmica da situação hermenêutica dada pela consciência histórica e da interlocução com a tradição, de onde se origina toda compreensão como autocompreensão, é dada pela experiência estética, na medida que a obra de arte faz ruir todo o habitual e nos invita para o âmbito da linguagem. Por esta propriedade, a arte é o fenômeno que resgata a historicidade do Dasein conservando seus existenciais (compreensão, disposição e discurso) na totalidade da experiência humana: isto é, todo acontecer que vai além de nosso querer e de nosso fazer. O niilismo da experiência artística, a experimentação como jogo (Spiel) ontológico da existência fática, instituem o autocompreender-se como uma mirada na estranheza e familiaridade simultâneas do fenômeno da arte.
Instituição de Fomento: PIBIC/CNPq/UFMA
Palavras-chave: Hermenêutica, Estética, Ontologia Lúdica.