62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA SALA DE AULA
Edilaine Lourenço da Silva 1
Anaína Clara de Melo 2
1. Universidade Aberta a Vida, UNAVIDA.
2. Universidade Aberta a Vida, UNAVIDA
INTRODUÇÃO:

Este trabalho é um estudo sobre os aspectos variacionistas em sala de aula que interferem na aprendizagem dos alunos, os quais muitas vezes sentem-se prejudicados por não conseguir dominar o português tido com "padrão". Além disso, busca-se também detectar nas aulas de língua portuguesa como os professores trabalham com a questão das diversas manifestações dialetais expostas pelos alunos, uma vez que existe uma diversidade de culturas em nosso país. Pretende-se observar se as variações linguísticas trazidas pelos alunos são consideradas como também objeto de estudo das aulas de língua portuguesa. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado na escola. Para tanto, a escola precisa desvencilhar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma correta de falar, a que parece com a escrita, e o de que a escrita é o espelho da fala. Essas duas concepções produziram uma mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 2000 p.31).

 

METODOLOGIA:

A metodologia empregada neste estudo segue uma abordagem qualitativa, que enaltece o social. Trata-se de uma pesquisa explicativa, no sentido de investigar os limites da influência das falas dos alunos no ensino da língua portuguesa.. Segue-se, ainda, uma pesquisa bibliográfica, aplicando as concepções de linguagem enquanto interação social. Tomando como base os PCN's de Língua Portuguesa, bem como as Leis de Diretrizes e Bases da Educação e os Parâmetros Nacionais de Qualidade. O grupo envolvido pertence à cidade de Mataraca-PB, às séries do ensino fundamental II, abrangendo uma população entre a faixa etária de 11 a 16 anos. Foram feitas observações sistemáticas nas aulas de Língua Portuguesa de uma escola pública da cidade, comparando-se o ensino tradicional com o mais contemporâneo quando o assunto é ensino de língua portuguesa.

RESULTADOS:

Sabe-se que ainda hoje a gramática é um dos instrumentos de ensino do professor de língua portuguesa. Esse instrumento, às vezes tido como o central nas aulas, por vezes é tomado como o livro que possui a melhor forma de falar a nossa língua materna. Isso, por muitas vezes, faz com que os professores ignorem o conhecimento linguístico do aluno, desvirtuando o ensino da língua portuguesa para o tradicional "certo" e "errado". Não se deve considerar um único código linguístico absoluto, o qual as pessoas deveriam tomar como a linguagem correta. A sociedade é cultura em constante movimentação e interação social. Segundo Zilles, o reconhecimento da variação lingüística é condição necessária "para que os professores compreendam [...] o seu papel de formar cidadãos capazes de usar a língua com flexibilidade de acordo com as exigências da vida e da sociedade. Isso só pode ser feito mediante a explicitação da realidade na sala de aula" (ZILLES apud FARACO; TEZZA, 2005, p.73). Corroborando com o autor, entendemos que se formos acreditar no mito de uma língua única, tachada como a norma padrão tradicional da língua, existem milhões de pessoas no Brasil que não têm acesso a essa "língua", que é a empregada pelas instituições oficiais, pelos órgãos públicos do poder - são os sem-língua. 

 

CONCLUSÃO:

Os alunos têm uma língua, também falam o português brasileiro. Eles falam variedades linguísticas estigmatizadas, que não são reconhecidas como válidas, que são desprestigiadas, ridicularizadas, alvo de chacota e de escárnio por parte dos falantes urbanos mais letrados. É preciso esclarecer para as escolas e todas as instituições voltadas para a educação que abandonem esse mito de unidade, de um português único, e passem a reconhecer as diversidades linguísticas de nosso país, buscando, assim, um melhor planejamento para suas políticas de ação junto à população (BAGNO, 2005, p.32). Não se deve partir do pressuposto, absolutamente falso, de que "todo mundo fala português" ("português" aqui entendido como as variedades urbanas de prestígio). A deficiência que se encontra nas aulas de língua portuguesa nada mais é do que uma falha nos pressupostos teóricos e metodológicos da pedagogia tradicional, profundamente impregnados de seculares preconceitos sociais. Não se trata aqui de simplesmente aceitar a variedade lingüística falada pelos alunos, pois a função da escola é levar a pessoa a conhecer e dominar o que ela não sabe. No caso específico da língua, conhecer e dominar a leitura e a escrita, e também outras formas de falar e de escrever outras línguas.

Palavras-chave: Aula de Português, Variação Linguística, Metodologia de Ensino.