62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
PERCEPÇÃO DA INFLUÊNCIA HUMANA NA ALIMENTAÇÃO DO SAGÜI (Callithrix jacchus) PELO PÚBLICO QUE FREQÜENTA O PARQUE ESTADUAL DUNAS - NATAL/RN
Gustavo André Fernandes Silveira 1
Carla Soraia Soares de Castro 2
1. Universidade Federal do Riogrande do Norte - Graduando curso Ecologia
2. Universidade Federal da Paraíba- DEMA - Profa. Dra/Orientadora
INTRODUÇÃO:
Nas áreas urbanas brasileiras é freqüente a interação de primatas não-humanos com o homem. Tais interações estão associadas à procura de alimentos humanos e envolvem agressões dos primatas ao homem. O Callithrix jacchus é uma espécie de primata neotropical adaptada à vida em fragmentos de florestas, à caatinga nordestina, bem como aos ambientes submetidos à pressão antrópica, podendo ser encontrado em áreas urbanas. Sua dieta consiste de frutos, de exsudatos vegetais, de invertebrados e de pequenos vertebrados. O Parque Estadual Dunas do Natal, primeira Unidade de Conservação Estadual de Proteção Integral, localizado na cidade do Natal, possui 1.175ha, dos quais 7 ha correspondem à área de uso público e onde são encontrados dois grupos de sagüis. Tais grupos são acompanhados semanalmente sendo observada, em várias ocasiões, a busca de alimento nas lixeiras presentes na área pública. O estudo analisou, em um primeiro momento, a interferência do acesso a alimentos humanos no padrão de atividades de um grupo de sagüi e em um segundo momento a percepção dos freqüentadores da área pública quanto à oferta de alimentos humanos, muitos deles industrializados, aos sagüis. Tais dados subsidiarão as ações educativas que serão desenvolvidas no Parque.
METODOLOGIA:
De janeiro a dezembro de 2008 foram realizadas observações diárias em um grupo de sagüis que utiliza a área pública. Foram adotados os métodos de varredura instantânea com registros a cada 5 minutos para a coleta dos dados comportamentais e o método ad libitum para registro dos episódios em que os sagüis tiveram acesso ás lixeiras e ao alimento humano. Os dados referentes ao número mensal de visitantes na área pública foram cedidos pela administração do Parque Estadual Dunas do Natal. Foi utilizada a análise de correlação linear de Pearson (r), visando identificar a relação entre o número mensal de visitantes e as variações nas freqüências mensais dos comportamentos de deslocamento (DS), forrageio (FO), comer goma (CG), comer frutos (CF), comer vertebrados (CV), comer alimentos humanos (CH), descanso (D) e catação (CT). Foi adotado o nível de significância de 5%. Durante os meses de janeiro e fevereiro de 2010 foram aplicados questionários semi-estruturados, ao público que freqüenta a área púbica do Parque, para conhecer a percepção desses visitantes quanto ao tema. Os dados obtidos foram analisados com o índice de porcentagem normal e acumulativa.
RESULTADOS:
De um total de 64.859 visitantes, sendo os maiores números registrados em agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro, com uma maior exploração das lixeiras em outubro (n=17), quando foi registrado um maior número de visitantes (n=15.974). Houve correlação positiva entre a freqüência mensal do comportamento de forrageio (r = 0.7282; p<0.05) e o número mensal de visitantes. Tal comportamento ocorreu principalmente nas lixeiras. 37% dos 45 entrevistados presenciaram episódios de alimentação dos sagüis pelo homem. Os principais itens oferecidos foram salgadinhos (35,29%); frutas (35,29%); pães (29,41%); pipoca (17,64%); sorvete (11,76%); sanduíches (11,76%); chocolate (5,88%); carne (5,88%); biscoito (5,88%) e bolo (5,88%). 33% avistaram os sagüis forrageando nas lixeiras e nas mesas de piquenique. 100% dos entrevistados não concordam em alimentar os sagüis, mas apenas 17,7% entendem que pode haver transmissão de doenças nesse contato.
CONCLUSÃO:
Os resultados obtidos nesse estudo corroboram os relatados em estudo anteriores nos quais a oferta de alimentos humanos modificou o padrão de atividades dos sagüis, levando a redução na procura por itens naturais, havendo um aumento no forrageio de alimentos humanos pela facilidade, abundância e valor nutricional desses itens. Tal situação aponta para necessidade de ações de educação ambiental direcionadas ao público que visita o parque. Para realizar um trabalho de educação ambiental se faz necessário um levantamento das formas de percepção do ambiente a fim de obter a visão que o público alvo tem do problema. As respostas dos visitantes do parque revelaram as suas percepções quanto a problemática. Nesse contexto, a percepção dos visitantes do parque é parte integrante no planejamento de ações com uma abordagem interdisciplinar.
Instituição de Fomento: Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA-RN).
Palavras-chave: Callithrix jacchus, Dieta, Percepção ambiental.