62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
URUPÊS: O RURAL RETRATADO COMO DECADÊNCIA, TRAGÉDIA E ATRASO.
Luciana Meire da Silva 1
Celia Aparecida Ferreira Tolentino 1
1. Departamento de Sociologia e Antropologia UNESP Marília/SP
INTRODUÇÃO:
O pensamento social de Monteiro Lobato (1882 - 1948) é pouco estudado para o nível de sua popularização, embora seja comum reconhecer-se que seus escritos influenciaram a indústria, a política e, marcadamente a produção cultural brasileira. Os vários dados concretos sobre vendagem de livros demonstram que Monteiro Lobato sempre foi sucesso ente os leitores. Intelectual engajado, discutiu através da sua obra todas as grandes questões que foram debatidas na sociedade brasileira nas décadas de 1910 a 1940.
METODOLOGIA:

Com base nessas informações estudamos a obra Urupês (1919) como fonte importante de interpretação das particularidades e especificidades da sociedade rural da década de 1910. O livro contém 14 contos e todos tratam da temática do rural. Entendemos que Monteiro Lobato não se propôs a ser "sociólogo" como Alberto Torres, Oliveira Viana, entre outros mas, é possível, segundo nossa análise, observar em suas historietas, contos e crônicas uma "sociologia" do Brasil rural da década de 1910. Também é possível visualizar os parâmetros e o instrumental analítico produzidos pelo autor para pensar o país presente e futuro.

RESULTADOS:

É em Urupês que Lobato escreve que o caboclo brasileiro é: "bonito no romance e feio na realidade". E depois de sofrer com as queimadas em suas terras, pois era fazendeiro no Vale do Paraíba, enumera os defeitos do nosso caboclo: passividade; preguiça; incapacidade de compreensão do sentimento de pátria; ignorância; onde curandeirismo se mistura com religião e crendices; incapacidade para a produção de qualquer forma de arte popular e um fatalismo que o torna incapaz de qualquer tipo de iniciativa. Batizando-o de Jeca Tatu, afirma que este "parasita da terra" jamais produz: economicamente, colhe na natureza o que necessita para a sua sobrevivência; politicamente, vota sempre no governo e observa "de cócoras" os acontecimentos políticos no país. Fazendo uma relação da natureza com a raça, Lobato conclui que o Jeca é "incapaz de evolução" e é "impenetrável ao progresso".

CONCLUSÃO:

A figura do Jeca Tatu tornou-se um importante paradigma de uma questão social no Brasil. Lobato pensou o país a partir da própria figura do Jeca que era a medida do atraso, da inoperância e "impenetrável ao progresso". O Jeca foi uma das suas criações mais representativas porque se constituiu em rica oportunidade para sintetizar idéias da nossa própria intelectualidade à época. Monteiro Lobato tem um projeto de país e o rural ocupa um lugar importante nesse seu projeto, o que nos faz pensá-lo como um intelectual com uma preocupação organicista da sociedade brasileira nos moldes racionais de aproveitamento das riquezas e dos recursos naturais.

Instituição de Fomento: FAPESP
Palavras-chave: Pensamento social brasileiro, Monteiro Lobato, Brasil Rural.