62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
PROJETO DE PRODUÇÃO DE VÍDEOS POR ESTUDANTES: UMA ALTERNATIVA AO LABORATÓRIO DIDÁTICO TRADICIONAL
Marcus Vinicius Pereira 1
Leduc Hermeto de Almeida Fauth 2
1. Prof. M.Sc. / Orientador - Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ
2. Bolsista de Iniciação Científica / Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ
INTRODUÇÃO:
A abordagem experimental no ensino de Física pode facilitar a compreensão de conceitos, além de encorajar a aprendizagem ativa, motivar e despertar o interesse, desenvolver o raciocínio lógico e a comunicação, e estimular a capacidade de iniciativa e de trabalho em grupo. Porém, a escola média brasileira não tem tradição em aulas de laboratório, que requerem um amplo espectro de habilidades, que, por sua vez, exigem maturação por parte do aluno e organização e disponibilidade do professor. Quando existem, em geral, tais aulas se reduzem a procedimentos pré-determinados: medição, registro/tabulação, relato de resultados, etc. Pouco incentivo é dado à reflexão sobre a conceituação envolvida no experimento, ao desenvolvimento da própria atividade experimental, ao planejamento das medições, à exploração das relações entre grandezas físicas, entre outros. A educação vive atualmente um paradoxo: a coexistência de um sistema de ensino tradicional e uma sociedade que desenvolve e acumula informações de forma exponencial. Este trabalho traz uma reflexão sobre o papel do laboratório didático e apresenta a estratégia alternativa de produção de vídeo pelo estudante como possibilidade de inovação, à medida que representa uma proposta atraente em relação ao laboratório tradicional.
METODOLOGIA:
A produção de vídeos pelos alunos foi proposta como atividade de laboratório de Física, e foi implementada em 2008 e 2009 em uma escola de Ensino Médio do Rio de Janeiro onde os alunos têm aulas tradicionais de laboratório. O desenvolvimento do projeto tem por base etapas que podem garantir idas e voltas por cada grupo no planejamento, elaboração, interpretação e avaliação dos experimentos, além da captura e edição de imagens, contemplando, com isso, cinco aspectos: cognitivo, motivacional, conjuntural¬, recursivo-reflexivo e experimental-tecnológico. O vídeo devia apresentar as grandezas físicas, as interações do sistema, a obtenção de dados de forma qualitativa e/ou quantitativa, e uma explanação. Quanto à linguagem audiovisual: sequência lógica; clareza de comunicação (oral, escrita e imagem); autonomia conceitual; curta duração (5min). O projeto foi implementado de acordo com o seguinte cronograma: 1º mês: orientação, definição de grupos e temas, pesquisa e mapeamento de conceitos; 2º mês: planejamento, montagem e teste do experimento e elaboração do roteiro resumido; 3º mês: elaboração do roteiro e produção; 4º mês: edição. Ao final, todos os vídeos foram exibidos em aula e avaliados pelos colegas de turma (heteroavaliação) e pelos alunos-produtores (autoavaliação).
RESULTADOS:
Foram produzidos 14 vídeos em 2008 (3 turmas) e 8 vídeos em 2009 (2 turmas). Todos foram editados não-linearmente, e em alguns casos fizeram uso de texto associado à imagem, fotografia e animação. Quanto ao áudio, todos têm locução e trilha sonora, e em um caso há apenas trilha sonora ao intercalar texto e imagem, sem prejuízo à clareza de comunicação. Como exemplo, o vídeo chamado "Freio Magnético" apresenta dois pêndulos compostos por duas réguas de acrílico, ambas com uma placa de alumínio (material paramagnético) presa em uma das extremidades. Na base do experimento foram presos dois ímãs (obtidos de um HD de computador danificado), de maneira que a extremidade inferior de um dos pêndulos passe entre eles (sem tocá-los). Sob o mesmo eixo, os pêndulos são soltos e um deles freia enquanto o outro permanece oscilando. Os alunos explicam o fenômeno sem, porém, fazer nenhuma medição. Toda a análise é feita qualitativamente ao observar que soltando a régua de uma altura (amplitude de oscilação) maior esta demora mais a frear, sem, no entanto, estabelecer um modelo físico que permita explicar a relação entre o pêndulo simples e a frenagem magnética. No experimento desse vídeo os alunos demonstraram a Lei de Lenz através das correntes de Foucault.
CONCLUSÃO:
A vantagem desta estratégia em relação ao laboratório tradicional é o aumento da responsabilidade assumida pelo estudante, que solicita engajamento intelectual através da pesquisa sobre o assunto, levantamento dos conceitos-chave e a criação da situação experimental, que será testada, modificada e verificada o quanto for necessário. Estes elementos são determinantes para a aprendizagem de ciências naturais, principalmente por fazerem com que o estudante, ao construir espontaneamente uma linguagem audiovisual e externalizar sua criatividade, busque compreender os conteúdos, reconheça grandezas relevantes que na teoria aparecem como símbolos abstratos, entendam a relação entre grandezas e suas medições, e, desta forma, resolva problemas inerentes à situação experimental que ele propôs apresentar/filmar. As considerações apresentadas indicam a diferença entre o trabalho experimental por parte do aluno quando realizado na aula tradicional de laboratório que, via de regra, é um processo linear-orientado realizado sem recursividade, e quando produz um vídeo, estratégia significativamente vantajosa em relação a anterior não somente pelo caráter conjuntural e motivacional, mas principalmente pelos aspectos recursivo-reflexivo e experimental-tecnológico que favorecem a cognição.
Instituição de Fomento: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Laboratório didático, Produção de vídeo, Estratégia de ensino-aprendizagem.