A proposta tem como principal objetivo esclarecer e debater os principais motivos pelos quais os candidatos a uma vaga nas universidades públicas evadiram do curso Pré-Universitário Oficina do Saber, da Universidade Federal Fluminense (UFF), durante o ano de 2009 identificando não só as dificuldades dos alunos, como também as carências das instituições públicas de ensino.

Para a realização de tal proposta elaboramos um banco de dados no programa SPSS utilizando o livro de cadastro e as fichas de inscrição dos alunos, contendo: bairro, idade, motivo da evasão, estado civil, raça, etnia, sexo, local de moradia, tipo de ensino, escolaridade familiar e ano de conclusão do ensino médio. Foram definidas as seguintes categorias para os motivos de evasão: disponibilidade de horário (dificuldades em conciliar outras atividades com o pré-universitário); financeiro (não ter como custear transporte e alimentação); profissional (não conseguir harmonizar trabalho e estudo); e comportamental (comportamento inadequado durante o curso). Para reforçar os motivos das desistências, completamos com o grau de instrução dos familiares e a ocupação do pai e da mãe.

O estudo demonstrou que, em 2009, o maior motivo das evasões, 34,4% ocorreu pela falta de disponibilidade de horário, distinguindo-se dos anos anteriores quando a questão financeira ligado ao transporte e alimentação foi a causa mais evidente. A evasão foi mais incisiva entre as jovens, solteiras, sendo 70% negras, dessas, 4,5% na faixa de dezoito anos de idade que advém de famílias com baixa escolaridade. Entre os alunos que concluíam o ensino médio e os que estavam trabalhando, a taxa de desistência 31,8% foi equivalente, o que aponta para necessidade de maiores observações em estudos futuros.  A relação entre evasão e período do ano, indicando o mês de julho como o de maior evasão, sinaliza para o possível efeito desmotivador do impacto produzido pela organização da primeira qualificação do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Constatamos que os jovens não desistiram por falta de interesse, mas sim pelas dificuldades de se adaptarem às exigências de uma educação à qual não tiveram acesso. Ademais, o pouco número de vagas aliado à enorme demanda de candidatos afunila ainda mais o ingresso à faculdade tornando-se para alguns uma barreira intransponível. Esses fatores constituem a centralidade do problema. Demonstrar a esses alunos que o acesso ao ensino superior também constitui um direito, torna-se um desafio para ações educativas como o pré-universitário. Cabe saber até que ponto esses dados influencia nos sonhos desses alunos e quais seriam os melhores métodos a serem adotados em casos como esses. Discussões como essas devem ser salientadas constantemente, pois ameniza impasses como flexibilidade de horários, questões financeiras e frustrações causadas pelo "efeito UERJ" e auxiliam na construção de um ensino de qualidade comprometido no combate a desigualdade social.