No Brasil, há milhões de pessoas maiores de quatorze anos que não completaram quatro anos de escolaridade. Esse público necessita de uma educação apropriada e a EJA deve inserir-se em uma política global que visa à universalização da educação básica tendo em vista um compromisso com o desenvolvimento humano, social, político, econômico cultural e ético. A importância da valorização da pessoa humana tornou-se uma preocupação na história da educação. Assim, a educação de jovens e adultos deixa de ser um direito para ser um dever.

Paulo Freire (2005) ressalta que aos educadores da EJA impõe-se o desafio de participar da construção de uma sociedade e de uma educação mais democráticas e críticas, tendo como ponto de partida o estudo e a investigação das especificidades dos alunos com os quais trabalha. A educação sendo um ato de conhecimento, o educador deve agir de forma autônoma no processo educativo, desde que conheça a legislação, as diretrizes curriculares, as necessidades do educando, particularmente, seus traços como cidadão e aprendiz. Ou seja, poderá criar argumentos, tendo a liberdade de tomar as decisões que forem necessárias a favor de seus alunos.

A metodologia foi nosso relato do diário etnográfico que possibilitou a compreensão da nossa própria prática docente em sala de aula, descrevendo as experiências, a relação com os alunos e, tudo o que a influenciava no dia a dia, particularmente, a trajetória sociocultural dos aprendizes.

Os instrumentos de investigação podem ser então, resumidos: Em relação aos alunos pesquisados: Entrevista e Diário Etnográfico; Em relação à descrição da prática pedagógica: O relato autobiográfico da nossa prática pedagógica.

Nossa expectativa foi que essa pesquisa, ao tratar das trajetórias de estudantes oferecesse elementos para uma re-leitura das práticas ocorridas no cotidiano da escola mediante nossa reflexão e, também apontasse possibilidades docentes para o tratamento de diversas questões da proposta curricular da EJA, no que tange ao acolhimento das singularidades socioculturais dos estudantes.

A nossa amostra foi constituída de dez sujeitos, sendo oito do gênero masculino e dois do gênero feminino, todos os alunos e alunas são de uma turma da EJA da Escola Municipal Professor José Soares da Silva, da Rede Municipal do Recife.

Este estudo refletiu a relevância de se conhecer melhor o perfil sociocultural do estudante da EJA e a prática docente de uma professora com vista a torná-la mais eficaz.

A primeira parte descreveu o percurso legal da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, a influência da experiência de letramento, suas competências e os modos de pensar face à experiência escolar. Analisamos os conceitos de multiculturalidade e globalização no âmbito da Educação de Jovens e Adultos, compondo assim o marco teórico do trabalho.

A segunda parte foi constituída da pesquisa, organização e análise dos depoimentos dos jovens e adultos selecionados para o estudo, como também do relato de nossa prática docente em função do itinerário dos aprendizes.

O objetivo geral dessa pesquisa foi conhecer a diversidade sociocultural dos alunos para realizar uma prática docente mais eficaz com vista a oferecer elementos para uma re-leitura das práticas ocorridas no cotidiano da escola. Apontar, também, possibilidades pedagógicas para o tratamento de diversas questões da proposta curricular da EJA, no que tange ao acolhimento das singularidades socioculturais dos estudantes.

Os resultados obtidos foram, em relação aos perfis dos alunos, o seguinte: O enfrentamento inicial na sala da aula; Objetivos e metas educacionais; A busca pela experiência escolar e a construção da noção de escola; O enfrentamento das dificuldades do cotidiano; O sentimento de persistência pela conclusão da escolaridade.

Na relação professor-aluno, construída em conjunto, constatamos, não apenas do ponto de vista dos conteúdos, mas na relação como um todo, um aprendizado em ambas as partes, um crescimento como seres humanos, na realização do exercício da cidadania.