62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 2. Medicina Preventiva
DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA QUE AFETAM OS MERGULHADORES DO NÚCLEO DE BUSCA E SALVAMENTO DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO CEARÁ.
Marcus Davis Machado Braga 1, 2
Francisco Ronald Silva de Freitas 2
1. Universidade Federal do Ceará
2. Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará
INTRODUÇÃO:
A execução do serviço de mergulho é uma atividade comum a todos os Corpos de Bombeiros do Brasil, sendo um serviço de alta complexidade com características comuns em todo o país. Além da freqüente atividade de resgate de cadáveres, por se só uma fonte importante de contaminação, é comum o mergulho ser realizado em condições inóspitas. As águas poluídas sujeitam o mergulhador a doenças de etiologia virais, bacterianas e parasitarias, além de outras decorrentes do contacto com produtos químicos nocivos e de agentes físicos deletérios para o mergulhador. Esta pesquisa objetiva investigar as possíveis doenças de transmissão hídrica que podem ser adquiridas durante as operações de busca e salvamento, nas atividades de mergulho do Núcleo de Busca e Salvamento-NBS, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará-CBMCE, visando estimular o uso institucional de equipamentos de proteção individual.
METODOLOGIA:
Foram identificados os tipos de serviços realizados pelos bombeiros mergulhadores do NBS, e sua exposição ao risco de aquisição de doenças infectocontagiosas no desenvolvimento de suas atividades de mergulho. Um levantamento bibliográfico das principais doenças de transmissão hídrica em nosso meio foi confrontado com as atividades executadas por mergulhadores. As informações referentes à atividades desenvolvidas pelos militares foram coletadas nos registros dos mergulhadores do NBS, o Livro de registro de mergulho do NBS do CBMCE; nos registros da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança - CIOPS, órgão da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará; e por um questionário aplicado individualmente e sem identificação, voltado para os tipos de situações críticas enfrentadas, ocorrência de doenças adquiridas na atividade profissional e para condutas e equipamentos de proteção individual utilizados.
RESULTADOS:
Mergulhadores militares resgatam afogados vivos ou cadáveres, recuperam bens e executam trabalhos públicos em águas turvas, alagamentos, temperaturas baixas, correntezas, mananciais aquáticos com obstáculos submersos e diversas formas de poluição física, química e biológica. Mergulham no mar, em rios, açudes, lagoas, canais, esgotos e cacimbas, com equipamento autônomo simples e sem roupas de isolamento. As profundidades variaram de 1 a 20 metros, na maioria. O número de cadáveres resgatado cresceu de 9 em 2007, para 15 em 2008 e 21 em 2009. As atividades se concentraram no período chuvoso, de março a julho, coincidindo com os alagamentos e enchentes. De 24 mergulhadores do NBS 15 responderam ao questionário. 47% nunca sofreram acidentes no mergulho, 33% raramente e 20% poucas vezes. 73% não possuíam acompanhamento médico adequado e 27% possuíam planos particulares de saúde. Todos consideraram importante o rigor no treinamento para o mergulhador de resgate. 47% consideraram os equipamentos regulares e 33% insuficientes. 27% nunca deixaram de mergulhar por problemas ambientais, 26% raramente, 40% poucas vezes e 7% muitas. 93% dos entrevistados tiveram contato com águas poluídas na atividade profissional e 63% já haviam sido acometidos por alguma doença decorrente deste contacto.
CONCLUSÃO:
As condições em que o mergulhador bombeiro militar exerce sua atividade deixam a desejar no sentido da proteção individual. Não há disponibilidade de roupa seca para isolar o mergulhador do contato com a água ou de equipamento de comunicação subaquática destinado ao isolamento de mucosas oronasais. Não são suficientes os cuidados com a preservação da saúde do trabalhador, incluindo a assistência médica preventiva oficial. Dessa forma os mergulhadores estão sujeitos a infecções virais, bacterianas e infestações por protozoários de vida aquática, além de produtos químicos e condições físicas que costumam ser encontrados em águas poluídas. Ao mesmo tempo falta um acompanhamento médico oficial especializado mais presente. A padronização de equipamentos de proteção individual específicos para a atividade de mergulho em águas poluídas, pela instituição, pouparia a saúde do trabalhador bombeiro militar e melhoraria a eficácia do seu trabalho. Seriam beneficiados os mergulhadores, os Corpos de Bombeiros Militares e a comunidade em geral.
Instituição de Fomento: Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - FAMETRO
Palavras-chave: Mergulho, Poluição hídrica, Contaminação no mergulho.