62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 1. Administração Educacional
AUTONOMIA E PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO EDUCACIONAL: O OLHAR DE  DIFERENTES SEGMENTOS DA COMUNIDADE ESCOLAR
José Jackson Reis dos Santos 1, 2
Nilma Margarida de Castro Crusoé 1
Sandra Márcia Campos Pereira 1
Neila Campos da Silva 1
1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:

Este trabalho objetiva compreender a perspectiva de autonomia e de participação de diferentes segmentos da comunidade escolar, no contexto de uma escola pública municipal do Estado da Bahia. A autonomia no campo da Gestão Democrática envolve dimensões como a pedagógica, a política, a financeira, a administrativa, criando espaços para a autoria dos sujeitos, num sentido de compartilhamento de responsabilidades. A participação ativa e crítica dos sujeitos é, nesse contexto, fundamental para a implementação de uma gestão democrática. O impacto do estudo para o contexto local e regional situa-se na possibilidade de propor e construir iniciativas mais concretas no campo das políticas públicas e da gestão na área educacional.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada, no segundo semestre de 2009, numa escola pública brasileira indicada pela Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, como uma das instituições na qual o processo de gestão democrática desenvolve-se de forma qualificada. Nesse contexto, privilegiamos um diálogo com diferentes segmentos da comunidade escolar, buscando ouvir oito sujeitos, por meio da entrevista             semi-estruturada, sendo estes: 01 diretor, 01 vice-diretor, 01 coordenador pedagógico da SMED, 03 professores, 01 estudante, 01 pai. No desenvolvimento desse estudo, baseamo-nos em alguns princípios da Metodologia da Entrevista Compreensiva, defendida por Kaufmann (apud SILVA, 2006), ancorada na Sociologia Compreensiva de Weber e na Antropologia Interpretativa de Geertz e na Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977; AMADO, 2000; 2009).

 

RESULTADOS:

As entrevistas realizadas indicam uma condição de fragmentação das instâncias decisórias no interior da escola, ratificadas em falas como: "O professor só tem autonomia aqui para fazer o que deve ser feito na sua sala" (ENTREVISTADO A). E ainda: "Se a direção falar é não, é não e acabou". (ENTREVISTADO B). "Na sala de aula eu posso tirar um aluno da sala e levar para a secretaria para ele receber uma advertência ou suspensão" (ENTREVISTADO C). Os discursos evidenciam uma centralidade nas decisões na figura da direção da escola, ficando o professor responsável tão somente para pensar a sua prática de sala de aula, não tendo espaços e tempos para discutir sobre questões mais gerais voltadas à totalidade da instituição. Percebemos também o pouco diálogo entre professor e estudante em sala de aula, o que nos indica a necessidade de maior investimento numa prática pedagógica dialógica, orientada por princípios que valorizem o sujeito na sua condição de inteireza, como defendia Freire (1987). Em termos gerais, os resultados apontam para um conceito de autonomia e de participação restritos ao espaço de sala de aula, na relação professor-aluno, não perfazendo um trabalho em conjunto com toda a escola. A participação, quase sempre, situa-se numa falsa pseudoparticipação, como mostra Lück (2006) em estudos realizados no âmbito da Gestão.   

 

CONCLUSÃO:

Os conceitos de autonomia e de participação apresentam limites de implementação no interior da instituição investigada. Não há um sentido de compartilhamento de poder, de decisões coletivas, de construção conjunta de ações e práticas orientadoras do processo educativo. Pelos discursos analisados, identificamos que os conceitos estão ligados à ação pedagógica da sala de aula, à autoridade que se pode realizar o trabalho em sala e sobre decisões finais da direção, reforçando um sentido de autoridade ligado à direção escolar e à relação professor-aluno. Essa perspectiva analisada na pesquisa contradiz com o sentido de gestão, pois esta carrega em si os preceitos democráticos de participação, horizontalidade e descentralização, passando a ser a forma mais viável de construir uma escola de melhor qualidade social, pois é a garantia de acesso a todos em relação à educação e apropriação do saber com fins a atitudes conscientes e críticas de atuação em sociedade.

Palavras-chave: Gestão Democrática, Autonomia, Participação.