62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS: A PERCEPÇÃO DE ASSENTADOS RURAIS NO CERRADO GOIANO.
José Carlos Moreira de Souza 1
Lenicio Gonçalves 2
Ana Maria Dantas Soares 2
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
2. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho foi realizado no Assentamento Poções, localizado às margens do Rio das Almas no município de Rialma, Goiás. O objetivo consistiu em diagnosticar, analisar e compreender como os assentados interagem com o ambiente e implementar uma ação extensionista nessa realidade, já que falta planejamento e assistência por parte de agentes públicos aos assentamentos implantados, o que contribui para a adoção de um modelo de utilização do espaço pouco preocupado com a dinâmica ambiental e ainda sem o devido cumprimento da legislação de proteção ao meio ambiente. Isso evidencia que, mesmo amparada pela lei, a conservação ou o uso sustentável de recursos naturais não são hábitos comuns entre os produtores rurais. Tomando como base a realidade produtiva de agricultores familiares goianos, em situação de assentamento, esta pesquisa parte da perspetiva que é necessário entender os princípios norteadores da sua prática produtiva, especialmente numa perspectiva de recuperação e conservação dos recursos naturais disponíveis, ou seja, indagando se a organização produtiva dos assentados rurais está procurando romper com a tendência macroeconômica de uma agricultura predominantemente voltada para o mercado, ou se está empenhada na manutenção de formas e saberes produtivos locais.

METODOLOGIA:
 

A pesquisa foi realizada no período de março/2008 a setembro/2009, com a participação do curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio do IF Goiano - Campus Ceres. Para o desenvolvimento desta pesquisa tornou-se necessário, além da revisão da literatura, a realização visitas de campo para diagnosticar o uso do espaço local, observação dos meios de produção, verificando junto aos parceleiros as causas dos problemas ambientais do assentamento, coletando informações a respeito dos saberes, percepções e a cultura dos parceleiros a respeito do uso de recursos naturais no espaço em questão. Também foram feitas visitas e entrevistas semi-estruturadas com representantes da Cooperativa e Associação do Assentamento Poções, Prefeitura de Rialma, para coletar dados sobre as formas de organização e desenvolvimento locais e a relação que os parceleiros estabelecem com o ambiente, a fim de auxiliar os envolvidos na pesquisa na elaboração de questionário e no desenvolvimento de oficinas de Educação Ambiental. Os questionários respondidos foram analisados e seus resultados tabulados em figuras e tabelas, para se estabelecer as percepções de ambiente, conservação e recuperação de recursos entre o público alvo desta pesquisa.

RESULTADOS:

Cada pessoa tem alguma noção dos impactos que alguns atos como a poluição de mananciais, o desperdício de água e a destinação incorreta do lixo podem trazer, assim como, de que estes atos não degradam apenas o meio ambiente, mas sobretudo a saúde humana. Quando questionados se têm conhecimento de outras alternativas de produção, os parceleiros indicam que o acesso limitado ao crédito e à assistência técnica representa um entrave em suas práticas produtivas. A maioria desconhece outras alternativas de produção. Diante dos resultados, foi sistematizado um processo educativo capaz de garantir uma prática produtiva em harmonia com o ambiente. A oficina, entendida como processo educativo, promove a integração entre teoria e prática, proporcionando a troca entre os saberes populares e o conhecimento científico. Foram abordados durante as oficinas de Educação Ambiental no Assentamento Poções, os seguintes temas: Mata Ciliar; Agricultura Orgânica; Manejo solos; Recuperação de áreas degradadas; Recursos hídricos e Associativismo e cooperativismo em assentamentos. Por meio das oficinas, esta pesquisa procurou criar um espaço de discussão e busca de novas alternativas de produção e consumo. Não se trata de condenar os produtores rurais em suas práticas, nem de rejeitar o modelo agropecuário dominante, mas de conferir maior racionalidade ambiental ao modo de produção do espaço vigente nas parcelas do assentamento.

CONCLUSÃO:
 

Espera-se que esta pesquisa sobre percepção ambiental tenha sido um meio de compreender como os sujeitos de uma comunidade inserida na dinâmica da reforma agrária, adquirem seus conceitos e valores e, como compreendem suas ações no contexto da crise socioambiental. Uma proposta de Educação ambiental para este assentamento só será viável se tiver conhecimento e compreender os valores e ações que os sujeitos possuem frente ao ambiente ao qual estão inseridos. Assim, a pesquisa que resultou numa dissertação desenvolveu aprofundamento teórico e prático da questão ambiental, tendo o cuidado de envolver os parceleiros, sensibilizando-os e procurando despertá-los para um modo de produção do espaço em que a relação homem-natureza seja a mais equânime possível. A experiência foi bastante proveitosa, na medida em que possibilitou formar multiplicadores da própria comunidade, e ainda criar um envolvimento maior entre a escola e a comunidade, fazendo com que os alunos comecem a participar efetivamente da discussão e solução de problemas socioambientais da região, do país e do planeta. Enfim, a experiência no Assentamento Poções aponta caminhos. Mostra alternativas. Ressignifica. Demonstra que o futuro pode ser pensado a partir dos elementos emanados da própria comunidade.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Assentamentos Rurais, Conservação Ambiental.