62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
ELITE E MODERNIZAÇÃO URBANO-CITADINA EM CAMPO GRANDE: CONFRONTOS COM O POVO COMUM
Nataniél Dal Moro 1
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
INTRODUÇÃO:
Os estudos sobre a elite, em especial no término da década de 1970, passaram a ser considerados cada vez mais como assuntos já suficientemente abordados pela academia. Na História, a maior parte das pesquisas voltou-se para os movimentos sociais urbanos. Passadas algumas décadas, tal concepção já não tem tanto respaldo dos pares, como tão bem mostra a historiografia contemporânea do Brasil. Estudar a elite, ou mais precisamente os grupos que a compõem, é fundamental para compreendermos os caminhos que a sociedade vivenciou e vivencia, os projetos que foram materializados e os que ficaram em segundo plano. A elite, pensada aqui como classe dirigente e dominante, tem, para manter e/ou ampliar o seu poder, transformado os mundos rural e urbano, bem como o cotidiano de muitas pessoas ao seu entorno. Campo Grande, atual capital do Estado de Mato Grosso do Sul (MS), é um exemplo de cidade do oeste brasileiro que faz parte deste processo de modernização. Pensando nesta configuração, o objetivo central deste trabalho reside em: analisar como se deu a formação da elite campo-grandense; externar como esta elite interferiu, via projetos de modernização, no desenvolvimento da cidade; e, mostrar alguns confrontos entre a elite e o povo comum no decorrer das décadas de 1960-70.
METODOLOGIA:
Livros de memórias, documentos dos poderes públicos, relatórios, mapas, imagens fotográficas, gravuras e, sobretudo, jornais de circulação diária são as principais fontes desta pesquisa. O periódico Correio do Estado é a fonte documental mais importante, tendo em vista a abrangência espacial do jornal, o número de impressos diários, a publicação ininterrupta do jornal desde 1954 e, também, a quantidade e variedade de assuntos abordados. De acordo com Antonio Gramsci, o jornal possui o poder de um partido político, podendo atuar como tal, já que defende algumas idéias e rejeita outras, interferindo decisivamente nos rumos da sociedade. Ao fazer este trabalho, o jornal e os outros meios de comunicação produziram materializações de diversos níveis. Cabe então ao pesquisador problematizar estas realidades, localizar certos grupos sociais, suas ações, definir as pessoas que fazem ou não parte da elite citadina. A análise dos artigos assinados, dos editoriais, de cartas publicadas a pedido, de notícias de associações patronais, de anúncios de estabelecimentos comerciais, industriais, dentre outros, assim como as colunas sociais foram de grande valia para entender a formação da elite e os projetos com os quais tinha proximidade, distanciamento e indiferença.
RESULTADOS:
A origem de quase todos os sujeitos da elite da cidade de Campo Grande estava na zona rural: os seus membros provinham das fazendas de gado da Serra de Maracaju, cujas instalações começaram a se destacar a partir da década de 1830. Na década de 1910, além deste grupo, havia o dos comerciantes, em sua maioria imigrantes europeus, com destaque para os portugueses e italianos, e os profissionais da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que começou a funcionar em 1914. Nos anos 20, com a construção de várias instalações militares, a cidade passou a ter mais um grupo de expressão: eram os militares, que compunham, naquela época, cerca de 25% da população da cidade. Nas décadas de 1960-70, período de grandes transformações no campo (êxodo rural, modernização agrícola e aumento da concentração de terras) e na cidade (chegada de migrantes, precária infra-estrutura urbana e alto índice de mendicância em vias públicas), esta elite empreendeu inúmeras ações no espaço citadino. Foram feitas obras que melhoraram a vida de uns poucos sujeitos e, por outro lado, pioraram a existência de muitas pessoas. Nesta época, eram constantes as reclamações feitas pela elite via jornal Correio do Estado sobre a presença de pobres e/ou do "povo comum", termo empregado por Eric Hobsbawm, no centro da cidade.
CONCLUSÃO:
Na década de 1960, a elite, na cidade de Campo Grande, era constituída, ainda, basicamente por quatro grupos: pecuaristas, comerciantes, ferroviários e militares. O primeiro grupo foi o que mais transformou a cidade segundo os seus interesses. Vários projetos desta elite de homens do campo que tinham moradias na cidade, pensamento difundido por José de Melo e Silva na década de 1940, foram concretizados, sobretudo pela expressiva força destes nos poderes públicos. Os outros grupos contribuíram cada qual de uma forma para transformar a cidade. Os militares e os ferroviários alteraram a estrutura física da urbe, dando-lhe um traçado quadriculado, normas de conduta, reservatórios de água e saneamento em determinadas ruas do centro da cidade, isso nas décadas de 1910-50. A educação ficou a cargo, em muito locais, dos religiosos, que eram originários de todos os grupos antes mencionados. Nos anos 1960-70 surgiu outro grupo: eram os fazendeiros de grãos. Migrantes, muitos deles pobres em suas terras de origem, expulsos pela modernização rural ocorrida em particular nos Estados do Sul do Brasil, rumaram para o então sul de Mato Grosso, hoje MS. Devido diversos fatores da política da época, alguns conquistaram expressivo destaque ao ponto de comporem parte da elite citadina.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Palavras-chave: Cidade, Modernização, Elite.