62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 5. Rádio e Televisão
Estudo de recepção em relação a atitudes de jornalistas do Sudeste brasileiro na transmissão pela TV do Festival Folclórico de Parintins
Renan Albuquerque Rodrigues 1
José Aldemir de Oliveira 2
Sandra Damasceno da Rocha 3
Leandro Virgílio Guerreiro Tapajós Filho 4
Pedro Marinho Amoedo 5
1. Colegiado de Jornalismo, Nepecab-Ufam/PIN
2. Depto. de Geografia, Nepecab-Ufam/AM
3. Colegiado de Serviço Social, Ufam/PIN.
4. Depto. de assessoria de comunicação, Uninorte/AM.
5. Colegiado de Zootecnia, Ufam/PIN
INTRODUÇÃO:
A transmissão televisiva do Festival de Parintins ocorre desde 1992 e já foi realizada pelas emissoras Rede Amazonas (afiliada da Globo em Manaus) e A Crítica (afiliada do SBT até 2007 e atualmente do grupo Rede Record). Pela primeira vez em 2008 as três noites da festa foram transmitidas ao vivo e na íntegra para todo o país pela TV Bandeirantes. Todavia, antes da expansão na veiculação do festival, havia grande expectativa no que tangia à primeira transmissão do folguedo do boi em nível nacional. O ideário de que a cultura local seria propagada com coerência, via mass-media, tendia a ser ponto pacífico no seio dos organizadores da festa, a coordenação dos bois Garantido e Caprichoso. Esperava-se que o festejo fosse veiculado observando-se tradições peculiares à data, o que auxiliaria na construção consciente da ideia de folclore junto ao público de todo o país que assistisse às apresentações. Após a cobertura midiática, porém, a organização do festival percebeu que houve várias críticas em relação à transmissão, em especial sobre o desempenho de jornalistas e apresentadores da Bandeirantes. Partindo do pressuposto, a pesquisa descreveu e analisou tais opiniões conforme elas, em suas vertentes, manifestaram-se após a festa.
METODOLOGIA:

A pesquisa ocorreu em Manaus e no município de Parintins (AM), de setembro de 2008 a abril de 2009. O universo de participantes foi escolhido por julgamentos a priori, via snowball sampling method, e consistiu em dois agrupamentos (N=40, média=31, DP=7,4). Do primeiro (G1), participaram pessoas que assistiram à transmissão via TV (N=30). Do segundo (G2), foram selecionadas pessoas que assistiram ao festival no bumbódromo e profissionais de mídia ligados ao espetáculo (N=10). Os grupos foram constituídos por pessoas com o seguinte perfil: membros dos bois-bumbás (integrantes de Garantido ou Caprichoso, que participam como diretores, artistas, itens ou compositores, na arena, das apresentações); espectadores (que assistiram pela TV ou na arena, em Parintins em 2008); brincantes (membros que não estão ligados diretamente às agremiações, mas participam do boi-bumbá); e/ou profissionais de mídia (jornalistas especializados). Foi utilizado questionário tipo DRP, para G1 e G2, com 27 questões concordantes entre si. Foi referência para a avaliação a análise de conteúdo manual do léxico-semântico. No plano de análise constou a) constituição do corpus e leitura flutuante; b) leitura em profundidade dos dados; c) efetuação da análise; e d) categorização de dados.

RESULTADOS:
A partir dos significados observados, viu-se que: a) houve excesso de falas dos profissionais da TV Bandeirantes durante a transmissão; b) o fator das repetições do que as imagens já estavam mostrando foi ruim para a percepção pública, segundo os respondentes; c) no conjunto das emersões, 37,5% das respostas agrupadas dos entrevistados foram concordantes de que o fator surpresa não foi mantido durante a transmissão; d) sobre o discurso empregado pelos profissionais da TV Bandeirantes, faltaram cuidados com a contextualização e o significado das palavras usadas pelos profissionais no ar; e) a partir do grande número de intervenções, os jornalistas que transmitiram a festa acabaram inviabilizando uma das principais características do festival, a emoção para o público telespectador; e f) equívocos em relação à simbologia do festival foram observados no âmbito da denominação da fauna e flora amazônica, o que tendeu a concorrer para a percepção negativa do telespectador ante a transmissão televisiva, tida como pioneira no país, mas que em sua totalidade esteve carregada de falhas funcionais.
CONCLUSÃO:
Com o desenvolvimento do Festival de Parintins, o boi-bumbá passou de manifestação folclórica à categoria de produto cultural. Mas mesmo sendo comercializado no balcão publicitário televisivo, conservou características culturais que refletem a identificação amazônica e devem ser observadas por quem transmite a festa. Daí que, para bons resultados em uma veiculação ao vivo, é necessário um trabalho conjunto entre direção, produção e apresentação. Faz-se mister a observância da alteridade no trato mídia-folclore, sendo a argamassa desse elo o respeito social. No caso da cobertura de Parintins de 2008, foi notório que a apresentação influenciou diretamente no resultado final da transmissão. Não se pode afirmar, com base nas emersões apreendidas, que a responsável pelos erros foi a produção da Rede Bandeirantes, mas pode-se inferir que o desempenho dos apresentadores foi diretamente proporcional ao grau de satisfação dos telespectadores, o qual foi muito baixo em relação às expectativas criadas antes da transmissão. Para o evento, seria necessário um trabalho que levasse em conta a variedade de imagens e conteúdos. Por sua vez, os bois-bumbás devem informar à mídia e ceder a algumas necessidades técnicas da transmissão, de modo que a festa seja mais bem veiculada.
Palavras-chave: Festival Folclórico de Parintins, Transmissão midiática, Boi-bumbá.