62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
PRÁTICAS DE LEITURA NA ESCOLA: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES ALFABETIZADORES
Ferdinando Santos de Melo 1
1. Professor e Coordenador Pedagógico da Secretaria Mun. de Educação de Salvador-BA
INTRODUÇÃO:

Historicamente em nosso país, o processo de leitura foi percebido como prática eminentemente escolar, com ênfase na decodificação, e numa sociedade marcada por reduzidas práticas de leitura como a nossa, dominar a simples relação grafia/fonia parece ser o arcabouço suficiente para o indivíduo interagir na sociedade, adquirindo "restritamente" o status de cidadania. Desse modo, no final do século XX, com as rápidas metamorfoses na esfera social, a língua escrita passa a ser objeto de uso nas mais variadas práticas sociais, ampliando o sentido tradicionalmente atribuído à leitura. Observações de práticas de ensino têm nos mostrado, no entanto, que este novo conceito vem convivendo com um conceito restrito e tradicional de aprendizagem da leitura, como a mera aquisição da técnica da escrita. Assim, este estudo buscou captar as representações sociais de leitura de professores que atuam no 1º ano do Ensino Fundamental, na Rede Municipal de Ensino de Salvador-BA, especificamente em  2007, quando o Ensino Fundamental no município passou a ter duração de 9 anos, em atendimento à Lei nº 10.271/01. Traz como objetivos específicos: perceber os elementos constitutivos dos conteúdos de representações sociais da leitura e traçar um mapeamento do campo semântico dessas representações, captando os seus sentidos e significados. A relevância científica se debruça sobre a investigação de como os professores vêm reconstituindo as mudanças relativas à aquisição sociocultural da língua.

METODOLOGIA:

Nos trabalhos desenvolvidos acerca das produções científicas voltadas para a leitura e alfabetização no Brasil, no período de 1954 a 1986, constatou que, tradicionalmente, a pedagogia da leitura se preocupou de forma muito mais significativa com o ensino do que com a aprendizagem.  Nessa linha, Borges (1998) assinala que foram experienciados os mais diferentes métodos de alfabetização, ora centrados em procedimentos sintéticos, que partem das unidades da língua, isto é, letras e sílabas, ora em procedimentos analíticos, que partem das palavras, frases ou textos. Nesse sentido, a pesquisa em tela foi realizada em duas etapas. Na primeira etapa, utilizou-se a técnica de associação livre de palavras proposta por Abric (1994) para mapear o campo semântico dessas representações. Na segunda fase, utilizou-se a entrevista semi-estruturada, buscando oferecer novos elementos para o levantamento do seu conteúdo. Participaram do estudo trinta (30) professores alfabetizadores, de todas as Coordenadorias Regionais de Ensino da Cidade.

RESULTADOS:

O escopo oriundo da 1ª fase foi organizado em grupos, esquematizados em um quadro, usando o critério de proximidade semântica. As palavras escolhidas para representar os grupos semânticos foram aquelas que estiveram presentes nas formulações dos professores para justificar a escolha da palavra mais importante atrelada ao significado de "leitura" que tinham em seu imaginário e/ou materializavam em sua prática. Quando apareciam ecos sobre em que campo determinada palavra deveria ser localizada, apelava-se para as justificativas dos docentes, com os seus respectivos desdobramentos, que rebatiam positivamente para o êxito da pesquisa; Foram seis agrupamentos: Entender/ Analisar; Apreender/Descobrir; Agradar/ Viajar; Suscitar/ Libertar; Fundamental/ Importante; Associar/ Decodificar. Dos resultados das entrevistas surgiram três categorias, a saber: "Sentidos atribuídos à leitura"; "Leitura: o ensino a partir da diversidade textual" e "As atividades de leitura na escola". A reflexão sobre os elementos presentes nas entrevistas possibilitou apontar que os docentes, de algum modo, têm empreendido esforços para se apropriar dos discursos correntes pertinentes ao ensino da leitura. Alguns deles, todavia, ao serem solicitados a dar exemplos, fizeram alusão apenas a atividades que, tendo como parâmetro o texto, envolvem reflexões fonológicas ligadas à aquisição do sistema ortográfico, via procedimentos sintéticos.

CONCLUSÃO:

Os resultados apontam que os docentes expressam um conhecimento difuso sobre práticas de leitura na escola que, à luz das representações sociais, congrega saberes oriundos da prática e conhecimentos técnicos adquiridos via processos de formação inicial e continuada. As conclusões apontam ainda que o ensino da leitura  é visualizado como um saber-fazer que está relacionado à aprendizagem do sistema de escrita pelos educandos, mediado pela prática pedagógica dos professores alfabetizadores, confirmando o entendimento de que a leitura é tomada como instrumento fundante para o acesso à vida social. Nesse ínterim, pode-se afirmar que, de maneira geral, o discurso presente na literatura acadêmica, que dá ênfase à importância de desenvolver atividades de leituras atreladas às vivências do cotidiano dos alunos, vem sendo progressivamente assimilado pelos educadores pesquisados, sinalizando que os conteúdos dessas representações sociais têm agregado, mesmo que de modo pouco sistemático, a valorização da leitura nessa perspectiva.

Palavras-chave: Leitura, Representações sociais, Professores alfabetizadores.