62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
OS EFEITOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NAS MULHERES AKWẼ-XERENTE
RAIANY GUARINA BARBOSA 1
WILDEANY DE SOUZA COSTA 1
ODAIR GIRALDIN 1
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
INTRODUÇÃO:
Nos anos oitenta, do século XX, o movimento indígena e indigenista no Brasil lutou para a criação de um sistema de educação para os povos indígenas que respeitasse suas histórias e culturas. Essas reivindicações foram contempladas na Constituição de 1988. A partir de então, o Estado precisou implantar uma política educacional nas aldeias indígenas fazendo rezar ao que está escrito na Constituição Brasileira: "O ensino fundamental será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígena também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem". (art.210). Entretanto, até que ponto a escola interfere na vida das mulheres de um povo indígena e, em especial, numa comunidade como a Xerente, situada próximo ao município de Tocantínia (TO), na qual o parentesco é patrilinear e, em decorrência disso, a organização social enfatiza o predomínio do papel masculino? Sendo assim o presente trabalho procura compreender como as jovens, entre 12 a 15 anos, se relacionam com a cultura Xerente a partir do contato com a escola e também como as mulheres acima dos 30 anos, que já possuem filhos, casadas ou solteiras se comportam a partir da escolarização pela qual passaram e como se relacionam com a escolarização de suas filhas.
METODOLOGIA:
A base deste trabalho está constituída tanto na bibliografia composta de dissertações, teses, livros e artigos publicados sobre o povo Xerente, além de outras leituras referentes à questão de gênero, quanto no trabalho de campo realizado durante viagens ao longo do 2º semestre de 2009 e durante 20 dias em janeiro de 2010, nas aldeias Salto e Porteira. No trabalho de campo foram feitas observações das atividades realizadas pelas jovens de 12 a 15 anos e realizados diálogos com as mulheres acima de 30 anos. Nessas visitas fizemos levantamento de dados, interpretando a relação dessas mulheres com a escola, a família e com as outras pessoas que vivem nestas aldeias. Procuramos conviver ao máximo com elas na realização de todas as suas atividades na aldeia e na escola. Essas observações e as entrevistas foram registradas em cadernos e em diários de campo. Algumas atividades foram fotografadas.
RESULTADOS:
As informações contidas na bibliografia consultada estão em certa consonância com o que encontramos no cenário Xerente: uma sociedade patrilinear, com um sistema exogâmico de metades (Doí e Wahire) e de clãs relacionados às metades (respectivamente: Kuza, Kbazi, Krito / Wahire, Krozake e Kremprehi). Em contato com as mulheres, que já passaram pelo processo de escolarização, percebemos que elas estão cada vez mais incentivando as jovens a estudarem primeiro para depois pensarem em se casar, evitando (de acordo com o que muitas disseram) a "total dependência em relação ao homem". Observamos que muitas dessas jovens, após o contato com a escola, passam a projetar novas aspirações sociais. Percebemos que ao mesmo tempo em que algumas mulheres apontam a escola como algo positivo outras admitem que ela seja (assim como os vários fatores de influência não indígena) responsável pelo afastamento cada vez maior dos jovens, em geral, em relação à cultura tradicional.
CONCLUSÃO:
Dessa forma, tudo indica que as mulheres, a partir da escolarização, adquirem novas aspirações sociais e passam, de certa forma, a configurar novos papéis sociais. Pode se afirmar que ao mesmo tempo em que algumas mulheres apontam a escola como um aspecto negativo da cultura não indígena, elas (assim como as demais) desejam que as suas filhas freqüentem a escola para que futuramente possam entrar em uma faculdade e adquirir uma profissão não tradicional do universo Xerente. E as jovens Xerente, a partir do contato com a escolarização, passam a criar novas perspectivas de futuro. Apesar de ainda hoje haver incidência de casamentos de algumas jovens antes de completarem o ensino fundamental, outras optam por concluírem os estudos para depois pensarem em efetuar os laços matrimoniais.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Fundação Universidade Federal do Tocantins - UFT
Palavras-chave: Akwẽ-Xerente, Jovens/Mulheres , Educação Indígena.