62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 7. Economia Regional e Urbana
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NO APL DA CITRICULTURA DO ESTADO DE SERGIPE
Andersonn Souza Gonçalves 1
Magali Alves de Andrade 2
Thiago de Souza Oliveira 3
1. Universidade de Fortaleza
2. Universidade Federal da Bahia
3. Universidede Federal de sergipe
INTRODUÇÃO:

A história da laranja no Brasil está diretamente ligada à colonização do seu território, pois a laranja foi trazida pelos portugueses logo em 1500. Os estudiosos costumam atribuir ao período de 1930/1940 como o período que de fato iniciou a citricultura no Brasil. Sergipe recebeu as primeiras mudas em 1918, na cidade de Boquim, porém a forte expansão se deu apenas na década de 70. O arranjo produtivo da citricultura do sul e centro-sul sergipano é composto pelos municípios de Arauá, Boquim, Cristinápolis, Estância, Indiaroba, Itabaianinha, Lagarto, Pedrinhas, Riachão do Dantas, Salgado, Santa Luzia do Itanhy, Tomar do Geru e Umbaúba. Essa região é responsável por quase que a totalidade da produção de laranja do Estado de Sergipe. O trabalho terá como foco de análise os produtores rurais. O APL é composto por produtores rurais, agroindústrias processadoras de Suco de laranja concentrado congelado, associações e instituições parceiras das mais diversas áreas.  Em virtude das questões apresentadas, objetiva-se analisar os aspectos da inovação tecnológica, e as relações estabelecidas entre os atores locais e os agentes econômicos. A inovação que se busca dar ênfase neste trabalho, é a Inovação Organizacional, que representa a introdução de novos meios de organizar a produção, distribuição e comercialização de bens e serviços. A idéia é levantar informações para instituir uma base de dados para a construção de uma proposta intervencionista no referido arranjo, com o intuito de promover o fortalecimento das relações, através do aumento da interação e cooperação entre produtores, empreendedores, instituições de pesquisas e parceiras.

METODOLOGIA:

Para a elaboração de tal pesquisa, contou-se com a cooperação de 31 agricultores, com origens e características distintas, situados em 20 localidades diferentes no município e que utilizam formas diversificadas de gestão do estabelecimento e diversos níveis de inserção comercial. Foi aplicado um questionário para cada agricultor responsável pelo estabelecimento. Os questionários foram aplicados no Sindicato dos trabalhadores e em vários casos no próprio estabelecimento rural dos entrevistados. O questionário tratou de questões como o envolvimento da família na produção, grau de tecnologia empregado nas atividades agrícolas, crédito, características da propriedade e das práticas de cultivo e comercialização da produção, e as relações com instituições diversas presentes no arranjo, como instituições produtoras de ciência e inovação tecnológica, e instituições de crédito. Foi elaborado um mapa de interdependência, onde são retratadas as relações entre os agentes e as instituições que compõem o arranjo. Para a análise teórica, foi necessário fazer uma revisão de literatura sobre a Agricultura Familiar, considerando fatores que dizem respeito aos perfis dos agricultores em diversas partes e em suas mais variadas faces. A elaboração deste trabalho foi apoiada em diversas consultas em artigos acadêmicos, encontrados em sítios especializados na área. Foram também utilizados dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com o objetivo de avaliar o comportamento e o desempenho dos produtores ao longo de delimitados intervalos de tempo, para auxiliar nas análises.

RESULTADOS:

A citricultura no município de Salgado é basicamente conduzida por pequenos produtores, apresentando uma média de 4 hectares de área plantada. Evidenciado na pesquisa o caráter familiar, quando levado em conta fatores como a gestão  familiar e o trabalho, que seja predominantemente familiar. Pode-se dizer desta forma, que um estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de produção e de consumo, uma unidade de produção e de reprodução social. Notou-se que o implemento mais utilizado na produção citrícola no município pesquisado é o trator, contando com 77,4% dos entrevistados, levando-se em conta que o uso deste se dá na maioria dos casos por empréstimo ou aluguel. De acordo com a pesquisa, no período de 2007 a 2008, 48,38% dos entrevistados utilizaram algum tipo de muda modificada geneticamente. Sobre as práticas cooperativistas, que retrata o perfil da inovação organizacional mencionado no trabalho, destaca-se os seguintes dados: A pesquisa revelou que aproximadamente 45% dos produtores entrevistados fazem parte de algum tipo de organização social, seja ela em forma de associação comunitária, sindicato de trabalhadores ou cooperativa. Sendo que torno de 16% são filiados ao sindicato de trabalhadores rurais e 19% participam das associações comunitárias, que normalmente localizam-se nas próprias comunidades, e um terço dos entrevistados participam de alguma cooperativa. Destaca-se um aumento no uso de mudas modificadas e acesso ao crédito dos produtores cooperados, e ainda não demonstraram nenhum estado de endividamento.

CONCLUSÃO:

Através da elaboração do Mapa de interdependência deste APL, foi percebida dentro de um território abrangente, uma série de conexões entre produtores, indústrias, agentes de comercialização (intermediário), associações, instituições de suporte, instituições de ensino, de pesquisa, financeiras, de crédito, de fomento e cooperativas. No entanto, destaca-se a incipiência de algumas relações, que para o desenvolvimento do arranjo, essas relações não deveriam ser frágeis. Dentro das relações que se mostraram incipientes, destacam-se as conexões entre o APL e as instituições de ensino e pesquisa, e assistência técnica. Este último tem um destaque maior, pois o posicionamento geográfico das instituições é favorável para o acompanhamento das práticas produtivas. Sobre a inovação no processo organizacional, chegou-se a conclusão de que as relações cooperativistas favoreceram os produtores que estabelecem vínculo cooperativo em alguns aspectos, como o acesso ao crédito, endividamento e utilização das mudas. Possivelmente, os ganhos de informação no processo de relacionamento influenciam esses resultados. No entanto, as funções de comercialização da produção, que poderiam ser intermediadas pela cooperativa, não é uma realidade no arranjo. A pesquisa mostra um agravante, onde quase 90% dessa linha de produtores cooperados ainda utilizam o processo de comercialização, via atravessador. O fato é que a indústria é o grande comprador do APL, e esta não estabelece nenhuma prioridade em comprar diretamente com o produtor. Fica claro que os mecanismos concretos que diferenciam as estruturas e relações sociais, evidenciam a capacidade de aprendizagem e à perspectiva de geração de novos conhecimentos que podem ser passados entre os envolvidos.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Palavras-chave: Arranjo produtivos locais, Citricultura, Inovação tenológica.