62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
COMO OS PROFESSORES VÊEM O USO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
João Josué da Silva Filho 1
1. Depto de Estudos Especializados em Educação, Centro de Ciências da Educação/UFSC
INTRODUÇÃO:

A discussão sobre se os computadores seriam ou não prejudiciais à educação de crianças pequenas teve o seu ápice em meados dos anos 80, quando foi surpreendente, nos E.U.A., a pressão pela introdução de computadores em classes de pré-escola. Ainda hoje, quando se trata da Educação Infantil, falar do uso da tecnologia suscita um debate acalorado profícuo e desafiador. Não raro este debate polariza-se entre as posições que enaltecem os benefícios amealhados com as novas descobertas e as preocupações em relação a práticas já consagradas que as inovações possam eventualmente desestabilizar. No Brasil, alguns levantamentos realizados sobre o assunto permitem inferir que a maioria dos educadores que trabalham com a educação infantil tem pouco contato com as questões relacionadas ao uso pedagógico da informática na educação. Com o objetivo de alimentar o debate sobre o assunto e ampliar o conhecimento sobre a ação docente nas instituições de educação infantil, realizou-se uma investigação entre professores de uma rede pública municipal do sul do país. Como se caracterizava a opinião dos educadores que trabalhavam com crianças pequenas nessas instituições?

METODOLOGIA:
A estratégia básica da pesquisa foi a aplicação de questionários entre professores de 16 escolas da rede buscando cobrir as diferentes segmentações de região geográfica, porte da instituição, período de funcionamento, faixa etária atendida, etc. Foram distribuídos cerca de duzentos questionários. Tivemos o retorno de oitenta e seis questionários (43%). Procuramos identificar a relação deste profissional com os instrumentos da informática: se possui computador; se o utiliza, seja na escola, seja no trabalho. Frente a este mapeamento procuramos sondar a opinião do profissional: se favorável ou não à presença dos computadores na educação de crianças pequenas, e por quê. Procedemos também a um levantamento da literatura existente sobre o assunto que nos propiciou elementos para a construção do questionário, bem como referência para a condução das análises.
RESULTADOS:
Dentre os 86 questionários respondidos 85 eram pessoas do sexo feminino, confirmando uma tendência de atendimento neste segmento da educação. As opiniões favoráveis ao uso do computador com as crianças atingiram 75,6% do total respondido. Oito pessoas (9,3%) não responderam a este item, restando 15,1% de opiniões contrárias. Dos que têm opinião favorável, 45,7% possuem computador em casa e quase todos (85,1%) o usam com freqüência. Dentre os que expressaram opinião contrária ao uso do computador com as crianças, o principal senão diz respeito aos perigos da homogeneização, considerada por eles já enorme nos processos escolares modernos. Entendem não estarmos preparados para lidar com esta tecnologia de forma criativa e crítica. Parte considerável das escolas pesquisadas (43%) não possuía computador algum e no restante delas, a quase totalidade usava o computador para funções administrativas e/ou para preparação de aulas, planejamento, etc. Quanto à formação, os professores representados nesta amostra se distribuem assim: 24,9% possui segundo grau completo( 70,5% favoráveis ao uso com crianças pequenas); 46,5% possui curso superior(75% favoráveis); 17,4% possui curso de pós-graduação, em sua maioria lato-senso (80% dos favoráveis).
CONCLUSÃO:

A opinião sobre a utilização do computador com crianças pequenas foi, nessa pesquisa, francamente positiva, especialmente entre aqueles educadores que possuem maior nível de formação. Contudo, não deixaram de haver vozes discordantes que trouxeram argumentos significativos no alerta ao perigo que corremos de, através da mediação dos computadores na educação, reforçarmos características egoístas, consumidoras e competitivas desde a mais tenra idade, subprodutos estes, muito presentes na cultura contemporânea que circula também pelo ambiente informatizado e que podem ser mascarados pela ludicidade dessa forma de comunicação. Tais alertas nos levam a considerar que os computadores podem sim, jogar um papel importante nesta tarefa de socialização, de apropriação da cultura e do conhecimento sistematizado, bem como de veículo de democratização da informação e das relações, se a sua inserção no âmbito da educação das crianças respeitar as condições de especificidade desta fase da vida humana e propiciarmos aos educadores condições de trabalho e de sólida formação.

Instituição de Fomento: Universidade Federal de Santa Catarina - FUNPESQUISA
Palavras-chave: Educação Infantil, Tecnologia Educacional, Informática na Educação.