62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 2. Comunicação e Educação
PRÁTICAS DE LEITURA DA MÍDIA PELO PÚBLICO INFANTIL ESCOLAR
Carlos Erick Brito de Sousa 1
1. Prof. Ms. / Depto. de Comunicação Social, Fac. São Luís
INTRODUÇÃO:

A leitura se constitui uma prática social e deve ser analisada sob as condições sociais de acesso e de produção da leitura. Dessa forma, observa-se a relevância de um ambiente social que favoreça a constituição de leitores, cujos reflexos podem ser percebidos no espaço escolar, visto que ler trata-se de atividade básica para todas as áreas do saber.

No intuito de caracterizar o ambiente social de leitura das crianças, é de suma importância tentar identificar, no entremeio de seus discursos, em que condições são produzidas suas atividades de leitura e qual a presença e prestígio dedicado aos objetos relacionados à leitura em seus cotidianos.

Os conhecimentos disseminados pela mídia, principalmente através dos programas e produtos jornalísticos, fazem parte do cotidiano dos estudantes e repercutem em sala de aula. Nestas produções midiáticas, dependendo de seus conteúdos e de sua preocupação com a possibilidade de utilização no contexto escolar, pode haver a aquisição de novos conhecimentos. Nesse contexto, em que cada vez mais os meios de comunicação fazem parte do dia-a-dia das crianças e em que se postula sua participação e valorização no cotidiano escolar, buscamos investigar como se situam as práticas de leitura da mídia nos discursos (e práticas) do público infantil escolar.

METODOLOGIA:

Como procedimentos, adotamos a pesquisa qualitativa, tendo como instrumento a realização de entrevistas semi-estruturadas com estudantes da Rede Pública Municipal de São Luís - MA, cuja escola escolhida para a execução da pesquisa se deu pela participação e obtenção de bons resultados na Prova Brasil, consoante os critérios avaliados pelo Inep/MEC.

Realizamos o trabalho de campo em abril de 2009, sendo que as entrevistas, versando sobre as práticas leitoras das crianças, aconteceram no próprio espaço escolar; todas foram transcritas para possibilitar as análises do material textual. Doze estudantes do II Ciclo do Ensino Fundamental (possuíam entre nove e dez anos, apenas uma com treze anos) participaram da pesquisa, com a permissão de pais ou responsáveis. Todos os responsáveis dos participantes menores de idade receberam Carta contendo explicações para a obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde ficavam claros os objetivos da pesquisa, a participação voluntária e manutenção de sigilo. Declaramos também seguir ao cumprimento de normas vigentes na Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde e complementares, assumindo o compromisso de assegurar confidencialidade e privacidade aos sujeitos da pesquisa.

RESULTADOS:

Nosso diálogo no ambiente escolar procurou situar a relação das crianças com os produtos midiáticos e suas possibilidades de aprendizagem. Percebemos que as crianças possuem um ambiente social de leitura, mais enfático na escola, em função de sua inserção (obrigatória) nas práticas leitoras. Os estudantes ressaltaram que "gostam de ler" e há sempre um adulto que "bota leitura"; em certos casos, faltam suportes variados; as que possuem pais professores encontram ambiente mais favorável ao desenvolvimento da leitura.

Eles destacaram que "gostam de ler revistas"; as publicações para este público aproximam-se de seu mundo lúdico. O tipo de performance adotado pelas crianças foge da linearidade do texto escrito, representando uma leitura caleidoscópica (relação entre linguagens textual e pictórica), algo evidenciado no levantamento de suas estratégias. As revistas em quadrinho aproveitam essa fórmula e estão entre as mais citadas (as classificam como "revistas de criança"). Eles ainda estabelecem suas preferências, priorizando as revistas que tratem de "assuntos importantes" (semanais e relacionadas à CT&I). Na verbalização de suas práticas, demonstram maturidade ao selecionarem os suportes de leitura que corroboram para a aquisição de novos conhecimentos.

CONCLUSÃO:

A oportunidade de ofertar outros suportes de leitura e incentivar os alunos a construírem seus próprios textos, de levá-los a bibliotecas são estratégias importantes para inserção num ambiente favorável ao desenvolvimento de práticas leitoras, visando propiciar que desde esta fase sejam criados vínculos entre os estudantes e atividades desta natureza. Perante a valorização da leitura e do ambiente escolar, especialmente no discurso produzido pelas próprias crianças entrevistadas, é possível identificar que estes já conseguem dimensionar a importância das práticas leitoras para o seu futuro.

Percebemos que as produções midiáticas estão presentes em vários momentos no cotidiano dos estudantes; acreditamos que em algumas destas oportunidades haja a possibilidade de adquirirem novos conhecimentos. O reconhecimento das práticas de leitura da mídia pelo público infantil escolar nos revela que alguns destes produtos podem ser utilizados no contexto escolar, permitindo o exercício da criatividade por professores e estudantes, tendo em vista a inserção destes "insumos" em oportunidades de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Mídia , Leitura, Público infantil.