62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 10. Psicologia Hospitalar e Psicossomática
SER-PARA-MORTE NO CONTEXTO HOSPITALAR: A VIVÊNCIA DOS PSICÓLOGOS HOSPITALARES
Kaynelly Souza de Melo 1
Marbel Cristina de Oliveira Barbosa 1
Elza Dutra 2
Symone Melo 2
1. Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN
2. Profa. Dra. Orientadora - Depto. de Psicologia/UFRN
INTRODUÇÃO:
O hospital é um contexto que envolve dor, sofrimento e medo quanto à expectativa de morte, sempre presente nesse ambiente. Tais sentimentos e emoções afetam tanto os pacientes e familiares como também os profissionais que trabalham em tal âmbito, dentre eles o psicólogo. O trabalho aqui apresentado questiona como seria o modo de atuação do psicólogo perante a iminência da morte em relação ao cuidado com pacientes fora de possibilidades terapêuticas. Assim, o objetivo desta pesquisa é compreender como a iminência da morte é experienciada pelo psicólogo no atendimento aos pacientes fora de possibilidades terapêuticas. Mais especificamente, conhecer quais são as questões que mais afetam o psicólogo que trabalha em instituições hospitalares e compreender como este se sente afetado por tais questões. Pretende-se, com esta pesquisa, colaborar para a ampliação do conhecimento sobre o humano e a sua relação com a morte; considerar a importância e a necessidade de atuação do psicólogo no campo hospitalar, além de promover uma reflexão do próprio psicólogo sobre seus sentimentos, perspectivas, suas limitações e necessidades enquanto profissional atuante no contexto hospitalar.
METODOLOGIA:
Trata-se de uma pesquisa qualitativa fundamentada no método fenomenológico-hermenêutico de Heidegger. Como instrumento metodológico utilizou-se a modalidade de pesquisa que utiliza a narrativa, técnica de pesquisa qualitativa ancorada nos fundamentos da fenomenologia-existencial a qual possibilita abordar e compreender a experiência de quem relata a sua vivência. Como parte dessa estratégia metodológica, utilizou-se a literalização, que consiste em transformar a narrativa em um texto literário por meio da condensação e organização meticulosa dos depoimentos coletados. Com isso, objetiva-se compreender os significados dados pelos psicólogos à iminência de morte no âmbito hospitalar. Para tanto, foram colaboradores dessa pesquisa três psicólogas atuantes em três diferentes hospitais da cidade de Natal/RN. As entrevistas foram gravadas, transcritas e literalizadas de acordo com os objetivos descritos anteriormente.
RESULTADOS:
Obteve-se como resultado o aparecimento nos discursos das três depoentes a consideração e o interesse pela temática da morte. Observou-se a emergência de questões como a possibilidade da morte como alívio, como também a importância de aceitar a sua condição de ser mortal, diminuindo o sofrimento em relação à expectativa de morte. Acompanhar e participar da morte do outro, como profissional, também proporciona repensar novos significados para sua própria vida. As experiências narradas possibilitaram às psicólogas que elas ressignificassem questões relacionadas à morte, além de promoverem uma reflexão sobre a sua atuação no hospital. As participantes da pesquisa relataram haver uma desestruturação quando morre um paciente com o qual se estabeleceu um vínculo; e apontam que o modo de superar a dor da perda é considerar a importância do suporte que foi oferecido àquele paciente. Algumas dificuldades também são relatadas, como lidar com a morte e o morrer do outro, uma vez que isso levam-nas a se voltarem para as suas próprias questões de dor, medo e angústia. Também é observado que por mais que seja uma profissão que implique um envolvimento com o sofrimento do outro, as depoentes mostram prazer em exercer sua profissão no campo da psicologia hospitalar.
CONCLUSÃO:
Um aspecto relevante destacado na compreensão da vivência dos psicólogos hospitalares diante da morte é o de um encanto, um prazer em prestar esse serviço psicológico dentro do ambiente hospitalar. Ambiente este muitas vezes classificado de insalubre, penoso e difícil. O que se viu através dos depoimentos foram relatos claros de uma satisfação, um trabalho que foi desejado, que partiu de interesses pessoais, de encontro com a temática ou vivências marcantes que possibilitaram uma reflexão sobre o tema. Desenvolvendo em cada uma das depoentes o sentimento de realização profissional e bem estar com o desempenho de sua função. Porém, também foram relatadas dificuldades diversas para a realização de suas atividades, como o sentimento de afetação diante do sofrer e da morte do outro, a importância da família do paciente e o distanciamento comum dos profissionais de saúde. O que se percebeu foi que não existe um profissional adequado, capaz de superar todas as barreiras e dificuldades da profissão. O essencial é gostar daquilo que se faz no ambiente em que trabalha e procurar promover em si um movimento de rearranjo psíquico e emocional sem perder o caráter fundamental da profissão.
Palavras-chave: Psicólogos Hospitalares, Pacientes fora de possibilidade terapêuticas, Morte.